Avesso ao capitalismo (que “conduz a humanidade à destruição”, segundo seu site), o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) reagiu à informação de que pelo menos um filiado à sigla se inscreveu para concorrer à bolsa do RenovaBR, grupo privado que quer financiar a formação de potenciais candidatos para as eleições de 2018.
A legenda de orientação marxista afirmou nesta quinta-feira (30) que vai expulsar qualquer membro que tenha entrado no processo seletivo, “por romper frontalmente com o programa do partido”. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o RenovaBR recebeu 4 mil inscrições de lideranças interessadas nas bolsas, que devem ir de R$ 5 mil a R$ 12 mil. Entre os interessados há filiados de quase todos os 35 partidos brasileiros – só PCB e PCO não têm representantes.
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O PSTU, no entanto, não gostou da possibilidade de ter alguém de seus quadros atrelado a “milionários membros da burguesia”, já que o fundo criado pelo empresário Eduardo Mufarej, do fundo de investimento Tarpon, deve ter entre seus principais apoiadores outros empresários e agentes do mercado. O apresentador Luciano Huck é, até agora, um dos principais divulgadores da iniciativa e deve também fazer contribuições.
O RenovaBR mantém em sigilo, por ora, o nome dos inscritos e a quantidade de filiados a cada partido que estão na seleção. A lista dos cerca de 150 escolhidos para participarem da capacitação deve sair em janeiro. Consultado pela reportagem, o movimento disse que a informação sobre o partido é autodeclarada pelos candidatos.
Repúdio ao curso
A nota publicada pela direção nacional do PSTU diz que o partido “não apenas não participa, como repudia esses cursos de ‘formação de políticos’ dos detentores do capital, sejam banqueiros, grandes empresários, ruralistas, grandes comerciantes, que vivem da exploração da classe trabalhadora e da pobreza e miséria da maioria do nosso povo”.
Defensora da expropriação (estatização sem indenização) dos meios de produção, a sigla – que em campanhas adota o slogan “Contra burguês, vote 16” – sugere fazer o mesmo com o fundo proposto por Mufarej, que deveria ser “colocado sob controle dos trabalhadores”.
O empresário diz que até agora só ele mesmo destinou dinheiro à organização. As doações passarão a ser recebidas quando estiver pronto o registro oficial da associação, previsto para janeiro.
Cada candidato apadrinhado pelo grupo poderá custar até R$ 72 mil ao longo dos seis meses de bolsa. O plano é que, com ela, os potenciais candidatos possam se manter durante o período de formação sem precisar, necessariamente, de um emprego.
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O RenovaBR se declara suprapartidário e diz que buscará diversidade ideológica na seleção final, que será feita com a ajuda de consultores e pessoas com experiência em gestão pública.
A banda e a música
O PSTU afirma na nota que, por princípio, nunca aceitou e não aceita receber dinheiro de empresários nas suas campanhas. “Porque sabemos que quem paga a banda escolhe a música.” Por isso, “jamais participaria de cursos da classe dominante para ser gerente desse sistema capitalista contra a maioria do povo”.
O grupo que concederá as bolsas e o treinamento afirma que não vai atuar durante a campanha eleitoral. Seu trabalho, diz, se limitará ao período de janeiro a junho, quando os participantes vão se preparar para enfrentar as urnas, se quiserem. O movimento quer priorizar a eleição de novas lideranças para o Congresso Nacional.
O PSTU inicia agora um rastreamento para descobrir quem, na visão da direção nacional, está traindo os princípios da legenda socialista ao buscar o apoio. Segundo o comunicado, o partido pedirá ao RenovaBR o nome do inscrito (ou dos inscritos).
Até o início da noite desta quinta, a autodefinida “aceleradora de potenciais talentos políticos” não havia recebido solicitação formal da sigla.
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