Números do Processo de Eleição Direta (PED) do PT realizado no dia 9 em todo o Brasil mostram que, das 4,1 mil cidades onde o partido está organizado, cerca de 1.120, 27% do total, não conseguiram organizar nem sequer uma chapa de 20 filiados para compor o diretório municipal. Nesses municípios, os diretórios serão substituídos por comissões provisórias. Entre eles estão cidades importantes como Uberlândia, a segunda maior de Minas.
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É por meio do PED que os petistas escolhem as direções locais do partido e os delegados para os Congressos Estaduais, que, por sua vez, vão definir os representantes para o 6º Congresso Nacional, onde será eleita a nova direção partidária, em junho deste ano.
Alguns dirigentes do PT apontam a dificuldade para preencher as cotas obrigatórias destinadas a negros, índios, mulheres e jovens como motivo para o desaparecimento dos diretórios nessas cidades. Há ainda suspeitas de fraudes que podem contribuir para o resultado.
Outros, porém, admitem que o encolhimento do partido revelado pelo PED é mais um capítulo na série de reveses que levaram o PT a uma crise contínua desde o início da Operação Lava Jato, em 2014. São incluídos nesse processo a dificuldade para reeleger Dilma Rousseff naquele ano, as prisões de petistas importantes, como José Dirceu e Antonio Palocci, as acusações contra Luiz Inácio Lula da Silva, o impeachment de Dilma, a derrota histórica do partido nas eleições municipais do ano passado e a debandada de prefeitos e vereadores da sigla.
“Essa queda reflete uma situação em que o partido perde com a saída de prefeitos e vereadores em função dos ataques que sofremos”, disse o secretário nacional de Formação Política, Carlos Árabe, representante da corrente Mensagem.
No total, 290.124 filiados saíram de casa no Domingo de Ramos para votar no PED em cerca de 3 mil municípios em todo o Brasil - o País tem 5.570 cidades. O número de votantes é 31% menor do que os 425 mil participantes do último PED, em 2013. Mesmo assim, diante das circunstâncias, o partido comemorou o resultado.
“Com essa situação toda que nós vivemos, o PED ficou dentro do esperado. Ninguém tinha a expectativa de superar os 300 mil. Ver que 290 mil pessoas saíram de casa para votar mostra que o partido está muito vivo”, disse Gleide Andrade, vice-presidente do PT e integrante da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB).
Segundo ela, a situação nos 1.120 municípios onde não houve eleição para diretório municipal reflete a necessidade de uma mudança no estatuto do partido, que, no auge do governo Luiz Inácio Lula da Silva, criou cotas de gênero, raça e faixa etária para todas as esferas de direção.
Quórum
Segundo o PT, 909 cidades nem sequer se credenciaram para eleger um diretório municipal e outras 210 não conseguiram realizar a eleição. Em 89, o partido não cumpriu o quórum mínimo de eleitores. É o caso de Uberlândia, segundo maior colégio eleitoral de Minas, com 478 mil eleitores, governada pelo PT até 2016. O ex-prefeito petista Gilmar Machado, da corrente Mensagem, teve apenas 10% dos votos na eleição do ano passado e atribuiu o mau resultado à “onda de ódio” contra o partido.
Em conversas reservadas, dirigentes petistas dizem que na maioria das cidades onde os diretórios foram extintos - a lista é guardada a sete chaves - houve debanda de prefeitos e vereadores para outros partidos. Os detentores de cargos levaram consigo os filiados que compunham seus grupos políticos, esvaziando o partido.
Segundo o secretário nacional de Organização, Florisvaldo Souza, o encolhimento é um fenômeno que tem atingido todos os partidos, mas no PT fica mais visível por causa do PED. “Historicamente, o PT tem vida ativa em cerca de 3 mil cidades. Por isso, comemoramos o resultado”, disse Florisvaldo.
Dos 3.086 municípios onde o PSDB está organizado, cujos números constam do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 1.847 (59%) são comandados por comissões provisórias. No PMDB, essa mesma estrutura alcança 22% das 3.703 cidades cujos dados são publicados pelo TSE - o site do tribunal não informa os números dos Estados de Minas, Rio e Paraíba.
Suspeita de fraudes em eleições internas do PT incomodam Lula
Em ao menos duas cidades foram identificados mortos entre os votantes
As suspeitas de fraudes em diversas cidades durante o Processo de Eleições Diretas (PED) do PT incomodou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Diante de seguidas denúncias feitas por correligionários, ele questionou a cúpula do partido sobre a lisura do processo.
Antes mesmo do questionamento, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, determinou que as listas de votação de todas as cidades onde existem suspeitas fossem colocadas à disposição de todas as correntes.
Integrantes de grupos minoritários reclamam de falta de acesso a essas atas e apontam a possibilidade de graves fraudes.
Em ao menos duas cidades foram identificados mortos entre os votantes. Em Brasília de Minas (MG), absolutamente todos os 569 votos foram para a chapa Frente Petista Contra o Golpe, montada em torno do governador Fernando Pimentel, e que inclui quase todas as principais correntes estaduais.
O PED, como é de costume, desencadeou uma batalha verbal entre adversários internos. Valter Pomar, da corrente Articulação de Esquerda, publicou texto sobre “fraude sistêmica, generalizada e em escala industrial”. “O Valter Pomar não sabe nem onde fica Minas Gerais no mapa”, rebateu Gleide Andrade, da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB).
Em artigo publicado no site do PT, o presidente do diretório estadual de São Paulo, Emidio de Souza, também da CNB, acusou Carlos Árabe, secretário nacional de Formação do PT, de emprestar “sua voz de dirigente nacional para dar legitimidade às análises parciais e antipetistas da grande mídia”.
Árabe, também em artigo, rebateu dizendo que Emídio representa uma burocracia “conservadora, pois para ela, o objetivo é conservar-se no poder”.
Ele, no entanto, foi mais comedido do que Pomar ao comentar as suspeitas. “Tem recursos (contra supostas irregularidades), mas o processo é muito mais amplo”, disse o secretário nacional.
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