Presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann declarou em entrevista à BBC Brasil que o PT estuda um boicote geral às eleições de 2018 caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do partido ao Palácio do Planalto, seja impedido de concorrer. Em julho, Lula foi condenado em primeira instância por lavagem de dinheiro e corrupção passiva no caso do tríplex no Guarujá. Se a condenação no âmbito da Operação Lava Jato for confirmada em segunda instância, ele se tornará inelegível com base na Lei da Ficha Limpa.
Pela ideia, o partido não lançaria nenhum candidato à Presidência ou ao Congresso, como forma de denunciar o que qualificam como “fraude” no processo eleitoral brasileiro.
Em nota publicada na tarde desta terça-feira (19), Gleisi disse ter sido questionada sobre assunto e respondido que a ideia não estava sendo oficialmente discutida no partido, “embora existam setores que defendam essa ideia”. Ela disse, também, que acredita que Lula será candidata independentemente de uma eventual condenação em segunda instância, pois “há esse precedente jurídico” no país. A senadora reiterou que considera uma eleição sem Lula “uma fraude”. Segue abaixo a nota completa.
Segundo a reportagem, a ideia estaria ganhando força na corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), ala petista que controla o partido desde a eleição de Lula em 2002 – e da qual o ex-presidente e Gleisi fazem parte. Entretanto, outras correntes do PT, como a Mensagem Ao Partido, liderada por Tarso Genro, tem se mostrado contrária ao plano.
“O que estamos denunciando é que o impedimento de Lula seria uma fraude nas eleições. [O boicote] é uma coisa que não está sendo oficialmente discutida ainda, mas vai caminhar para isso se ele for impedido de ser candidato”, declarou Gleisi à BBC. Segundo a reportagem, a estratégia contaria com a anuência do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, também condenado na Lava Jato.
Desde a condenação de Lula pelo juiz Sergio Moro, em julho deste ano, o PT tem procurado popularizar a ideia de que uma eleição sem o ex-presidente seria golpe. Frases nesse sentido foram ditas inúmeras vezes durante ato de solidariedade a Lula em Curitiba, na última quarta-feira (13).
Sem plano B
Na entrevista à BBC, Gleisi disse que o PT não possui um plano B e criticou as supostas pretensões eleitorais de nomes como Jacques Wagner e Fernando Haddad. “Não temos plano B. Plano B para quê? Haddad? Jaques Wagner? Plano B é para perder a eleição? Nosso nome competitivo é o Lula e é com ele que vamos para a eleição”, disse a presidente do partido.
Opositor interno de Gleisi, Genro criticou a postura à BBC e classificou o boicote como um “resquício de uma velha arrogância” de que não há “vida inteligente, de esquerda” fora do partido. Genro disse ainda que o PT perde uma oportunidade de discutir a vida política do Brasil e que arrisca perder o protagonismo na arena política.
Outro lado
Confira nota de Gleisi Hoffmann sobre a entrevista para a BBC Brasil. “Sobre a matéria veiculada pela BBC e UOL, reitero que uma eleição sem Lula é uma fraude. Lula é o maior líder político popular de nossa história e vamos lutar por sua candidatura na política e no judiciário.
Ao ser interpelada sobre o boicote às eleições, respondi que isso não estava sendo oficialmente discutido no partido, embora existam setores que defendem essa ideia como forma de não dar legitimidade ao pleito, pois entendemos que uma condenação de Lula, nos termos do processo a que está submetido, não tem base jurídica. Em nenhum momento, eu disse que a posição do partido seria essa. Até porque, em minha avaliação, Lula será candidato mesmo que a Justiça o condene em segunda instância, pois já há esse precedente jurídico no Brasil. Insisto que impedir Lula de concorrer é golpear mais uma vez o processo democrático.
Lula é o único político hoje capaz de tirar o Brasil da crise, e a preferência por seu nome cresce cada vez mais no coração do povo, o que se reflete no aumento dos ataques judiciais e boatos plantados contra ele.”
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