Em meio à maior crise de seus 37 anos de história, o PT inicia neste domingo uma tentativa de reconstrução do partido com o Processo de Eleições Diretas (PED), que vai escolher os novos dirigentes municipais e delegados para os congressos estaduais.
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O processo culmina nos dias 1.º, 2 e 3 de junho, em Brasília, com o 6.º Congresso Nacional da legenda, onde será escolhida a nova direção nacional e definidos os rumos do partido depois do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, da derrota histórica nas eleições municipais de 2016 e da prisão de petistas importantes envolvidos no esquema de desvios da Petrobrás.
Com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), a senadora Gleisi Hoffmann (PR) concorre à presidência nacional. O senador Lindbergh Farias (RJ) também tentava viabilizar a candidatura.
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Correntes internas e filiados inscreveram dez teses que servirão de base para a elaboração do novo programa partidário e para definir o futuro da sigla. A leitura dos principais textos mostra que o PT vai ter de optar entre uma proposta de esquerda conciliadora, a exemplo dos governos de Lula, ou a radicalização que marcou os primeiros anos do partido.
Outro ponto de debate é a forma e a profundidade da autocrítica que o partido deve fazer em relação aos erros cometidos em 13 anos à frente do governo federal e a casos de corrupção envolvendo petistas.
Em sua tese, a CNB defende o modelo capital/trabalho, simbolizado pela chapa Lula-José Alencar nas eleições de 2002 e 2006.
“Esse imenso êxito (do governo Lula) não pode ser circunscrito a medidas que alguns consideram ‘reformismo fraco’ ou ‘melhorismo’. A aliança simbolizada pela chapa Lula-José Alencar, longe de ser uma submissão das classes trabalhadoras a uma fração da burguesia, foi possível em virtude de um programa profundamente antineoliberal”, diz o texto da CNB.
A tese é uma resposta ao artigo Balanço de uma experiência histórica, escrito pelo jornalista André Singer e pelo secretário nacional de Formação do PT, Carlos Árabe, um dos líderes da Mensagem, segunda maior corrente do partido.
No artigo, Singer e Árabe dizem que Lula adotou um modelo de conciliação oposto ao programa reformista do PT.
Na tese para o 6.º Congresso, a Mensagem diz que os mesmos setores que integraram o governo de Lula atuaram no “golpe” contra Dilma. Por isso, o único caminho para o partido é radicalizar à esquerda e proibir alianças fora do espectro progressista.
“Neste mundo, uma esquerda moderada e conciliadora é uma contradição em si mesma (...) há espaço para uma esquerda radicalmente democrática e de perspectiva socialista na globalização em crise”, diz a tese.
A Mensagem defende ainda um acerto de contas em relação aos casos de corrupção ao dizer que o PT “não compactua com atitudes individuais de quaisquer dos seus filiados comprovadamente envolvidos em crimes de corrupção, a quem cabe, portanto, sua própria defesa”.
“Ou o PT se firma como partido de esquerda ou vai perder este papel”, diz Carlos Árabe.
Já para o presidente do PT de São Paulo, Emídio de Souza, um dos líderes da CNB, as alianças são uma imposição do sistema presidencialista brasileiro. “Qualquer projeto de mudança no Brasil tem de ser com base em alianças”, diz.
Queda
Ao todo, 62 mil pessoas se inscreveram para disputar cargos de direção municipais. A eleição ocorre em 4,1 mil cidades. À primeira vista, os números impressionam, mas houve uma queda relevante em relação ao PED de 2013, quando mais de 90 mil pessoas participaram da disputa.
Além disso, dos 4,1 mil municípios onde o PT está organizado, 909 não conseguiram montar nem sequer uma chapa para disputar o PED. Nessas cidades serão instaladas comissões provisórias. Os motivos, segundo dirigentes petistas, são a dificuldade de preencher cotas de mulheres, jovens e negros e também o reflexo das últimas derrotas sofridas pelo partido.