O relatório da Polícia Federal que veio à tona recentemente em uma investigação sobre o envolvimento da senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, em irregularidades no Ministério do Planejamento é apenas mais um enrosco judicial para a petista. Ao todo, Gleisi responde a um processo no Supremo Tribunal Federal (STF), é alvo de duas denúncias do Ministério Público e de uma investigação da Polícia Federal.
O caso mais recente é a investigação no Ministério do Planejamento. A Polícia Federal investiga um esquema envolvendo a empresa Consist com empréstimos consignados no âmbito da pasta. Segundo investigações que começaram na Lava Jato em Curitiba, a Consist pagava propina a políticos pela obtenção dos contratos de empréstimo. Além de Gleisi, o ex-ministro da pasta, o petista Paulo Bernardo – marido da senadora – também está entre os investigados.
A PF estima que Gleisi recebeu R$ 1 milhão da Consist através do escritório de advocacia de Guilherme Gonçalves, além de outros R$ 300 mil repassados ao mesmo escritório pela TAM. Os investigadores acreditam que o repasse da empresa aérea serviu como caixa dois para campanhas de Gleisi.
Em nota, Gleisi afirmou que a Consist não tinha nenhum contrato direto com o Ministério do Planejamento e que o escritório de Guilherme Gonçalves “atendia muitos candidatos, de todas as siglas partidárias”.
“Todas as despesas de campanha que fiz com o escritório de Guilherme Gonçalves estão declaradas. Entre uma campanha e outra, ele cuidou dos processos decorrentes das disputas eleitorais, pagando as despesas relativas a esses processos. Uma das acusações é que estava pagando em meu nome uma multa de campanha, tida como despesa pessoal. De fato ele pagou sim, porque a multa foi em decorrência do escritório ter perdido prazo de recurso, era responsabilidade dele”, disse a senadora.
Gleisi também afirma que vai apresentar uma representação à Corregedoria da PF para que apure quem foi o responsável pelo vazamento do inquérito.
Em nota, a defesa do advogado Guilherme Gonçalves afirmou que “repudia com veemência todas as acusações que lhe são imputadas acerca de repasses de valores a políticos ou agentes públicos. Todos os honorários recebidos por seu escritório são frutos exclusivos de seu trabalho e longa dedicação à advocacia. Sua inocência será amplamente demonstrada no transcorrer do processo, na conformidade da legislação brasileira em vigor”.
Processo no STF
Gleisi também é ré em um processo no Supremo Tribunal Federal (STF), junto com Paulo Bernardo e o empresário Ernesto Kugler.
Eles são acusados de solicitar e receber R$ 1 milhão do esquema de corrupção na Petrobras para a campanha de Gleisi ao Senado, em 2010. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o então diretor Paulo Roberto Costa solicitava quantias ilícitas de empresas interessadas em celebrar contratos com a estatal, e o repasse a agentes políticos era operacionalizado pelo doleiro Alberto Youssef.
Segundo o MPF, Costa fazia isso para garantir sua permanência no cargo, contando com a influência de Gleisi e do ex-ministro. A acusação diz que Paulo Bernardo fazia pedidos a Costa, e Kugler teria recebido a propina, por meio de quatro entregas, cada uma de R$ 250 mil. De acordo com a denúncia, os acusados tinham plena ciência da origem do dinheiro recebido. Os réus respondem pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O processo está em fase final e pode entrar na pauta de julgamento da 2.ª Turma do STF ainda neste ano.
A senadora nega irregularidades e alega que as delações de Costa e Yousseff são marcadas por contradições. Ao longo dos 4 anos de Lava Jato, os dois delatores já passaram por acareações determinadas pela Justiça para esclarecer justamente pontos contraditórios em seus depoimentos. As defesas dos réus também questionam o fato de a denúncia estar baseada apenas nos depoimentos dos delatores, sem provas de corroboração.
Delação da Odebrecht
A PGR também denunciou, no final de abril deste ano, Gleisi, Paulo Bernardo, o ex-presidente Lula e o ex-ministro Antônio Palocci no âmbito da delação da Odebrecht. Segundo a denúncia, as irregularidades estão ligadas à promessa de doação de US$ 40 milhões da Odebrecht a Lula em troca de decisões políticas que beneficiassem a empresa. Desse valor, R$ 3 milhões teriam sido destinados à campanha de Gleisi ao Governo do Paraná, em 2014.
Em nota sobre o oferecimento da denúncia, Gleisi afirmou que “além de falsas, as acusações são incongruentes, pois tentam ligar decisões de 2010 a uma campanha eleitoral da senadora Gleisi Hofmann em 2014”. A senadora também critica o fato de, na visão dela, a denúncia ser baseada em delações premiadas “negociadas com criminosos em troca de benefícios penais e financeiros”.
Quadrilhão do PT
Pouco antes de deixar o cargo, no ano passado, o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou a denúncia contra integrantes do PT por formação de quadrilha. Entre os denunciados está a senadora Gleisi Hoffmann e seu marido, Paulo Bernardo, acusados de cobrar propina dentro do Ministério do Planejamento. O esquema teria movimentado pelo menos R$ 7 milhões em propina, segundo a denúncia apresentada nesta terça-feira (5).
Em paralelo, Gleisi e Paulo Bernardo ainda teriam dado suporte ao esquema do partido por meio dos ministérios que comandaram nas gestões petistas – Planejamento, Comunicações e Casa Civil.
Para a senadora, a denúncia “não tem fundamento”. “Busca criminalizar a política e o Partido dos Trabalhadores no mesmo momento em que malas de dinheiro são descobertas e membro do Ministério Público é envolvido em denúncias”, disse Gleisi, sobre o caso.
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