O Brasil sobreviveu à pior recessão da história, mas os efeitos dessa crise econômica ainda serão sentidos nos próximos anos. Relatório da Instituição Fiscal Independente (IFI), ligada ao Senado, mostra que apesar de o Brasil registrar crescimento do PIB nos últimos sete trimestres – entre março de 2017 e setembro de 2018 –, isso ainda não foi suficiente para que a economia do país atingisse o mesmo patamar de antes da crise.
A economia que patina tem um efeito perverso em toda a população: estamos ficando mais pobres. O problema maior é que as pessoas extremamente pobres estão ficando ainda mais pobres e, portanto, socialmente mais vulneráveis.
Veja quatro indicadores que mostram como estamos ficando mais pobres
Número de pobres e extremamente pobres aumentou
Em 2017, ao menos 54,8 milhões de brasileiros viviam com menos de R$ 406 por mês, o que significa que 26,5% da população vive em situação de pobreza. O levantamento foi feito pelo IBGE, e publicado na Síntese de Indicadores Sociais. O estudo adotou o critério do Banco Mundial, que considera pobres as pessoas que ganham menos de US$ 5,5 ou R$ 406 mensais, com paridade de poder de compra. Esse número aponta um avanço da pobreza no país: o estudo mostrou que de 2016 pra 2017, 2 milhões de pessoas passaram a ser oficialmente pobres.
Quase metade dos pobres brasileiros vive na região Norte do país – são 25,5 milhões de pessoas nessa situação, o que equivale a 44,8% do total. Entre os estados, a situação é mais grave no Maranhão, onde 54,1% da população é pobre, e em Alagoas, que tem 48,9% de habitantes nessa situação.
O órgão também estimou quantos brasileiros ultrapassaram a linha da extrema pobreza e sobrevivem com renda inferior a US$ 1,90 por dia – ou R$ 140 por mês. Esse contingente chegou a 15,2 milhões de pessoas em 2017, o que representa 7,4% da população.
Esse número também cresceu, na comparação com 2016, quando os extremamente pobres eram 13,5 milhões (6,6%). Segundo o IBGE, o número de pessoas extremamente pobres cresceu em todas as regiões brasileiras, com exceção do Norte, que manteve o mesmo patamar.
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PIB per capita e consumo das famílias caiu
Entre 2007 e 2014, o Brasil viu crescer dois indicadores importantes: o PIB per capita, que indica a renda gerada por habitante, e o consumo das famílias. Com a crise econômica, ambos indicadores caíram em 2015 e 2016, de acordo com dados do IBGE.
No ano passado, o órgão classificou como “tênue recuperação” o leve aumento registrado nos indicadores. Mesmo assim, o resultado desse triênio é negativo. O PIB per capita acumulou taxa de decréscimo de 8,1% e o consumo das famílias, 5,6%. Esses números se refletiram negativamente na economia brasileira como um todo e trouxeram consequências com as quais ainda estamos lidando: desocupação, subutilização da força de trabalho e informalidade aumentaram.
Rendimento médio diminuiu
Os brasileiros estão ganhando menos, mostram os indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. O órgão analisou os dados do intervalo entre 2012 e 2017: a renda do brasileiro no ano passado foi 2,4% maior do que em 2012, mas não é a maior do período – na verdade, é inferior à de 2013.
Em 2012, o rendimento médio mensal apurado pelo IBGE foi de R$ 1.992. O número atingiu o ápice em 2014, quando a média foi para R$ 2.034. Em 2017, a renda média foi de R$ 2.039 – o resultado é inferior aos números registrados nos anos de 2013, 2015 e 2016.
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Desigualdade parou de cair
Desde 2002, o Brasil via o abismo social entre as classes mais e menos abastadas diminuir. O estudo “País estagnado: um retrato das desigualdades brasileiras”, produzido pela Oxfam Brasil, mostra que o coeficiente de Gini de renda domiciliar per capita – indicador que mede a desigualdade de renda do país – interrompeu a trajetória de queda que tinha desde 2002 e estagnou entre 2016 e 2017. O relatório também aponta que nos últimos cinco anos a proporção da população em condição de pobreza, o nível de desigualdade de renda do trabalho e os índices de mortalidade infantil do Brasil aumentaram.
O relatório lembra que o país também estagnou no ranking do IDH da ONU, mantendo a 79º colocação entre 189 países. “O indicador com maior impacto negativo no IDH brasileiro foi o de renda, por conta de seu recuo recente, sobretudo nas menores faixas. No comparativo global, em matéria de desigualdade de renda caímos, em 2017, da posição de 10º para 9º país mais desigual do planeta”, aponta o relatório.
De fato, quem era mais pobre sentiu mais a crise. Segundo a Oxfam, a metade mais pobre da população brasileira sofreu com uma retração de 3,5% dos rendimentos do trabalho – em parte, isso é explicado pelo desemprego crescente. Se consideradas todas as rendas, a retração foi de 1,6%.
Em 2017, a renda média da metade mais pobre dos brasileiros foi de R$ 787,69, menos de um salário mínimo. Em contrapartida, os 10% dos brasileiros mais ricos com alguma renda tiveram um crescimento de quase 6% dos rendimentos de trabalho – ou 2%, considerando todas as rendas no período. A renda média total dos 10% mais ricos foi de R$ 9.519,10 , cerca de dez salários mínimos.