O Partido dos Trabalhadores elegeu 68 deputados em 2014, a maior entre todas as bancadas. Hoje, quase no final da legislatura, esse número diminuiu para 58. Alguns deixaram o mandato para ocupar outras funções públicas e seis abandonaram o partido, castigado, depois do mensalão, pela Lava Jato. Largaram o posto de petistas de carteirinha, mas não abandonaram, nas palavras de alguns deles, a “afinidade ideológica”.
O deputado Odorico Monteiro, do Ceará e hoje no PSB, tem toda sua história política no PT. Ajudou a fundar o partido e, médico, ocupou a Secretaria de Saúde em vários gestões petistas em cidades do estado – Icapuí, Quixadá, Sobral e Fortaleza. Também passou por uma secretaria do Ministério da Saúde no governo Dilma Rousseff antes de se eleger em 2014.
Mas as diferenças internas o afastaram do partido. As disputas regionais são razões de muitas das separações no PT. Monteiro critica o “autofagismo” dentro do partido, mas continua alinhado com as causas do passado.
“O partido não pode ser o fim. Ele é apenas o meio. Do que valia tanto a disputa interna e não fazermos melhor a disputa do lado de fora, com a sociedade. Isso te consome. E deixei o partido, mas não às suas causas, que ajudei a construir. Sou amigo de todos aqui na Câmara. A afinidade ideológica continua”, disse Monteiro.
O mineiro Weliton Prado foi outro que deixo o partido – agora está no PMB –, mas para não ser expulso da legenda. Ele votou contra a orientação do partido em temas como ajuste fiscal e foi a favor da redução da maioridade penal, entre outras questões diversas. Junto com outro “dissidente”, Toninho Wandscheer, do Paraná – agora no PROS, votou a favor do impeachment de Dilma.
“Tenho temas em comum com o PT, sim. Mas, agora, eles que votam comigo. Sou elogiado por minha coerência e respeitado aqui na Câmara. Tenho compromisso com assuntos que envolvem os servidores públicos, sou contra perda de direitos. Nisso, andamos juntos”, disse Prado.
Perda sentida
Entre essas “baixas” do pós-2014, a de Alessandro Molon (RJ) foi muito sentida. Uma liderança jovem do partido, Molon surpreendeu ao, no final de 2015, ir para a recém-fundada Rede, de Marina Silva. Ele argumentou ter se cansado e também deixou a legenda por atritos estaduais. “O PT, no Rio, estava virando uma linha auxiliar do PMDB”, disse, à época que se desfiliou.
Molon continua afinado com o PT. Foi ao contrário do impeachment de Dilma, a favor da cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – como todos os ex-petistas –, e é um duro opositor do governo Michel Temer. Até mais que a bancada do PT. Foi o primeiro a protocolar um pedido de impeachment do peemedebista logo que surgiram as denúncias do empresário Joesley Batista, da JBS.
Longe do PT e sem as obrigações que o partido impõe, Molon segue uma carreira solo. Tem uma estrutura operante de gabinete – com assessores e técnicos – e levou para trabalhar com ele o advogado Marivaldo Pereira, que já foi secretário-executivo do Ministério da Justiça e também secretário de Assuntos Legislativos da pasta no governo do PT. É ele quem dá todas as orientações na área jurídica a Molon. Marivaldo é quem prepara, por exemplo, o teor jurídico de peças como pedido de impeachment ou ações contra medidas do governo ou atos da Câmara no STF.
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