Quando interrogou o ex-presidente Lula no processo do sítio de Atibaia, em novembro do ano passado, a juíza da Lava Jato, Gabriela Hardt, 43 anos, deixou claro que o petista continuaria a não ter vida fácil. Ela substituiu o ex-colega Sergio Moro e herdou as ações do petrolão na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba.
Nesta quarta-feira (6), Gabriela condenou Lula no caso do sítio de Atibaia por corrupção e lavagem de dinheiro a 12 anos e 11 meses de prisão – pena mais rigorosa que a aplicada por Moro no caso do triplex do Guarujá, em julho de 2017, de 9 anos e seis meses - essa pena foi elevada mais tarde, em janeiro de 2018, a 12 anos e um mês de reclusão pela segunda instância da Justiça Federal.
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Já nos primeiros minutos do interrogatório, a juíza e o ex-presidente protagonizaram uma discussão. Lula disse que não sabia do que estava sendo acusado e a juíza sintetizou a acusação do Ministério Público Federal: o petista seria o real dono da propriedade, que foi reformada pelas empreiteiras Odebrecht e OAS como forma de mascarar o pagamento de propina.
Em seguida, Lula perguntou a Gabriela em tom desafiador se ele era o dono do sítio em Atibaia – ponto central da peça de acusação. A magistrada reagiu com firmeza. “Senhor presidente, isso é um interrogatório e se o senhor começar nesse tom comigo a gente vai ter problema. Então vamos começar de novo. Eu sou a juíza do caso, eu vou fazer as perguntas”, disse. A reação da magistrada repercutiu nas redes sociais e até virou frase de camiseta da primeira dama Michelle Bolsonaro.
Na sentença desta quarta-feira, a juíza disse que restou comprovado que as obras no sítio “foram feitas a pedido de Lula e em benefício de sua família” e que “toda a execução das obras foram realizadas de forma a não ser identificado quem a estava executando e em benefício de quem seria realizada”.
Quem é Gabriela Hardt
Paranaense de Curitiba, Gabriela Hardt cresceu na cidade de São Mateus do Sul (PR), onde o pai, engenheiro químico, trabalhava na usina de beneficiamento de xisto da Petrobras. Lá, aprendeu a nadar, hábito que cultiva até hoje, participando inclusive de competições de natação e triatlon.
Chegou a cursar dois anos de engenharia, mas foi no Direito que Gabriela se encontrou. Formou-se advogada na Universidade Federal do Paraná, onde Moro dava aulas. Prestou concurso para a Justiça Federal, em 2007, e foi nomeada juíza dois anos depois para uma vaga em Paranaguá, no litoral do Paraná.
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“Eu entrei na carreira de juiz federal um pouco mais tarde que o habitual. Entrei já com 34 anos e com família formada. Já tinha minhas filhas e meu marido já tinha profissão consolidada”, disse, em entrevista à Ajufe (Associação dos Juízes Federais) disponível no YouTube.
Gabriela também foi corregedora da Penitenciária Federal de Catanduvas, onde lidava com presos perigosos, como líderes de facções criminosas. É juíza federal substituta desde 2009, quando passou a conviver com Moro mais rotineiramente.
Em 2014, foi nomeada juíza substituta na 13ª Vara Federal e assumia os trabalhos quando o juiz Sergio Moro estava ausente ou saía de férias. Em uma dessas ocasiões, em maio de 2018, ela mandou prender o ex-ministro José Dirceu, que na sequência conseguiu um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF).
Desde novembro do ano passado, Gabriela responde interinamente pela 13ª Vara, até que o novo juiz titular, Luiz Antônio Bonat, assuma o cargo. A magistrada deve ficar no posto que foi de Sergio Moro até abril deste ano.
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