A Polícia Civil de Campinas (SP) identificou o autor dos disparos que mataram quatro pessoas e feriram outras quatro no interior da Catedral Metropolitana da cidade, nesta terça-feira (11). Trata-se do analista de sistemas Euler Fernando Grandolpho, de 49 anos.
Segundo o delegado José Henrique Ventura, diretor do Departamento de Polícia Judiciária São Paulo Interior 2 (Deinter 2), uma mochila do atirador foi encontrada no interior da igreja. Dentro havia uma carteira de habilitação com todos os dados do acusado. Grandolpho abriu fogo contra pessoas que rezavam na catedral logo após uma missa. Em seguida, foi baleado por policiais, caiu e atirou contra a própria cabeça.
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Segundo Ventura, documentos que pertenciam a Grandolpho indicam que ele era de Valinhos, também no interior de São Paulo, e não tinha antecedentes criminais. “A profissão dele, ao que parece, era analista de sistemas”, disse Ventura em entrevista coletiva na tarde desta terça. “Com a identificação, vamos investigar agora a motivação (do crime).”
Grandolpho foi servidor concursado do Ministério Público do Estado de São Paulo, atuando como auxiliar de Promotoria I, na Comarca de Carapicuíba, região metropolitana de São Paulo. O Ministério Público de São Paulo informou que ele pediu exoneração do cargo em 3 de julho de 2014. O perfil dele em uma rede social, sem postagens, informa que ele estudou no Colégio Técnico da Unicamp e na Unip, em Campinas.
O delegado disse que Grandolpho nunca tinha sido visto na região da Catedral. “Não era conhecido.” Um vídeo interno da igreja mostra que ele se sentou aos fundos da igreja e analisou o ambiente. Depois de algum tempo, se levantou e passou a disparar contra os fiéis que estavam na catedral.
Para o major Adriano Augusto, comandante do 8º Batalhão, a ação indica que Grandolpho sabia manusear a arma. “Tudo indica, pela forma como manuseava, que ele tinha conhecimento”, disse o major. Grandolpho recarregou a arma durante a ação – ele tinha quatro carregadores. Vinte e oito munições restaram.
Segundo Augusto, caso a ação da polícia não tivesse sido rápida, outras pessoas poderiam ter sido atingidas.
O crime ocorreu por volta das 13 horas, durante a realização de uma missa na catedral. Segundo o delegado Hamilton Caviola Filho, do 1º DP de Campinas, responsável pelo policiamento na região, as imagens das câmeras de monitoramento da igreja mostram o homem sentando nos fundos e analisando o ambiente.
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Depois de algum tempo, ele se levanta e passou a disparar contra os fiéis que estavam na catedral com uma pistola e um revólver 38. Segundo o delegado, dois policiais militares que estavam do lado de fora da igreja ouviram os disparos e correram para a igreja. Um deles acertou um tiro na perna do atirador, que se matou em seguida.
Para o delegado, a ação foi premeditada. “Ele não chegou atirando. Ele estava sentado, parado e quando se levantou começou a atirar nas pessoas”, disse. As vítimas – três homens e uma mulher – ainda não tiveram as identidades divulgadas até as 16 horas desta terça. O delegado informou que haveria um trabalho de perícia técnica dentro da igreja. Depois, os corpos serão liberados ao Instituto Médico Legal (IML) de Campinas, para identificação dos que não tiverem documentos.
Crítico da igreja e suspeita de depressão
Um homem de família católica e que sofria havia vários anos com depressão. Assim o atirador de Campinas é descrito por amigos e familiares.
Na juventude, Euler Grandolpho criticava a atuação do pai na Igreja Católica, mas seguia valores conservadores. Era tido pelo grupo de amigos como um “cara cabeça”, “um jovem de beleza estupenda, muito inteligente”, segundo contou à reportagem uma ex-namorada, que conviveu com ele dos anos 1980 ao início dos anos 2000.
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Euler, que não trabalhava desde 2014, morava com seu pai em um condomínio de classe média em Valinhos, cidade próxima de Campinas. A mãe dele morreu anos atrás.
Na terça, a Polícia Civil apreendeu papéis, documentos, cartas e um notebook na casa. O delegado José Henrique Ventura diz que familiares descreveram Euler como uma pessoa retraída, de pouca conversa. Eles disseram não ter conhecimento que ele tivesse arma.
“Houve algum problema com ele, com certeza, porque ele não tinha nada de criminoso”, disse à reportagem o primo Ricardo Barão, 40, apesar do pouco contato com Euler ultimamente. “Desde a última vez que tive contato, anos atrás, tinha essa questão de depressão. Ele passou por tratamento médico e tudo”, afirmou.
No condomínio onde Euler morava, o acesso à imprensa é restrito. Porteiros dizem que, abalada, a família se assustou com a presença de jornalistas. Do lado de fora, alguns vizinhos afirmaram que Euler costumava ser visto passeando com um cachorro pela rua e uma irmã dele também era vista com frequência.
O pai do atirador, Eder Grandolpho, aparentava estar debilitado após a morte da esposa, de acordo com vizinhos. Ele era frequentador assíduo da Igreja Católica. Em um post no Facebook, escreveu que era ministro de eucaristia na paróquia Santo Cura D’Ars, em Campinas, há dez anos.
A escrevente Rita Franco, 46, diz que ficou surpresa ao perceber que o atirador da catedral era o Euler com quem namorou na juventude. Ela conta que ele cresceu em uma família de classe média, “bem estruturada”, no bairro fabril Swift, na zona sul de Campinas -a 5 km de Valinhos. Passou para o concorrido Cotuca, o colégio técnico da Unicamp, e depois se formou publicitário na Unip (Universidade Paulista).
À época, fazia sucesso com as mulheres, diz Rita. “Era mais encorpado, com olhos azuis, chamava a atenção. Dizíamos que era o Christopher Reeve [o ator de Super-Homem]”, afirmou à reportagem.
Ela se surpreendeu ao ver a nova fisionomia de Euler e “como está magro, devia estar passando por problemas, talvez de depressão”.
Rita disse que o único ponto fora da curva no comportamento de Euler era que ele externava ódio pela Igreja Católica. Isso porque o pai, cristão fervoroso, passava muito tempo na igreja, fazendo trabalho voluntário. “Ele dizia que o pai ficava sendo enfiado dentro da igreja ‘ajudando pobre’, que ‘dentro de casa não varre um chão’”.
Embora demonstrasse ódio pela religião, Rita diz que nunca achou que Euler “fosse atingir essa dimensão, não sei o que aconteceu nesse meio tempo” --a última vez em que o viu foi em 2004.
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