Eleito para seu quinto mandato de deputado federal, João Campos (PRB-GO) lançou seu nome para disputar a presidência da Câmara em 2019. Uma eleição que, na verdade, já começou neste ano. Ligado a dois movimentos com protagonismos na Câmara – evangélicos e a turma da segurança pública (ou da bala) –, Campos está sendo citado como possível candidato do grupo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
Ex-escrivão e delegado da Polícia Civil de Goiás, Campos tem atuação parlamentar voltada a temas como oposição ao aborto e defesa da família. Foi autor de um projeto que gerou muita polêmica na Casa: o da cura gay. Pastor evangélico da Assembleia de Deus, o deputado é filiado ao PRB, legenda com vínculos com a Igreja Universal do Reino de Deus.
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João Campos tem bom trânsito na Câmara, fator que pesa no momento de decisão dos deputados mais antigos. A simpatia ali tem seu peso e pode ser critério de desempate numa disputa. Não é um religioso sectário. Não é de levantar a voz para defender suas bandeiras aos gritos.
A presença de Campos na disputa acende a luz amarela para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), candidatíssimo à reeleição e tido até dias atrás como um dos favoritos. Mas o ingresso em peso do Democratas no governo Bolsonaro está minando suas pretensões. A legenda já estaria prestigiada demais, por mais que Maia diga que os nomes indicados não foram endossados pelo partido.
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O candidato já esteve com Bolsonaro, mas foi entre o primeiro e o segundo turno da eleição presidencial, no Rio de Janeiro, quando a bancada evangélica foi levar sua adesão ao candidato. Ele não conversou ainda com o presidente eleito sobre sucessão na Câmara. Bolsonaro já citou seu nome, no meio de outros, como um "bom nome", mas não fechou questão. O "capitão" tem dito que não deseja interferir no processo, o que é pouco provável.
"Estou apenas começando essa caminhada. Muito caminho para percorrer e estamos otimista", disse Campos à Gazeta do Povo. Antes mesmo de oficializar sua candidatura, ele já tem abordado os colegas. "No corredor, no elevador, no plenário a gente sempre tem uma primeira conversa. A receptividade tem sido boa", afirmou .
‘Chip da besta’ e Marcha da Maconha
João Campos participa dos cultos evangélicos na Câmara e sempre é um porta-voz do grupo. Ele já coordenou essa bancada várias vezes e faz muitos vídeos em defesa de suas causas.
Num deles, ao lado de vários parlamentares também evangélicos, discursou sobre fake news que circulavam nas redes sociais. E disse: "está circulando nas redes sociais que o presidente Michel Temer assinou um tratado com a ONU para se implementar um chip nas pessoas. Um chip da besta. Isso não existe. Não existe! Isto é mentira, gente!".
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O deputado já comprou briga contra a Marcha da Maconha, atuou contra o chamado kit gay e lutou contra a política do Ministério da Saúde, no governo Lula, de distribuição de seringas para viciados em drogas, numa ação para evitar que essas pessoas fossem contaminadas. Ele chegou a apresentar uma proposta que previa punição para quem pagasse para manter relação sexual com uma prostituta.
Seu projeto da "cura gay" o indispôs com seu antigo partido, o PSDB, que foi contra essa proposta. Campos sempre foi tucano e só trocou de partido em 2016 . Ele nega que o projeto previa a cura gay, mas apenas o direito de um psicólogo atender um homossexual, o que seria impedido por uma decisão do Conselho Federal de Psicologia.
"Não tem nada de cura gay. O projeto visava apenas tornar sem efeito uma resolução do Conselho de Psicologia, que usurpou o papel do Legislativo. Defendo o psicólogo. O conselho o proibiu de prestar atendimento a homossexual que vive suas angústias, as dores da violência que sofreu na infância e na adolescência. Defendo o direito do cidadão homossexual recorrer ao trabalho de um psicólogo", justificou.
O deputado foi aliado de Eduardo Cunha (MDB-RJ) e o apoiou para presidente, mas depois votou a favor da cassação do mandato dele. Campos votou a favor da abertura de investigação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra Michel Temer nas duas vezes em que o presidente da República foi denunciado pelo Ministério Público Federal.