No intervalo de um mês, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, viajou a trabalho para São Paulo (duas vezes), Rio de Janeiro, Alagoas, Espírito Santo, Pará e Maranhão. Manteve também intensa agenda de encontros com autoridades em seu gabinete, em Brasília. Os compromissos oficiais reuniram agendas bastante distintas entre si, como a visita ao presidente Jair Bolsonaro no hospital, uma reunião com lideranças do mercado financeiro e uma vistoria na rodovia BR-163, no interior do Pará, que sofria com atoleiros e uma fila de caminhões que superava os 40 quilômetros.
A agenda reflete o perfil que Tarcísio tem adotado nestes primeiros meses da gestão Bolsonaro. Ele tem conseguido um feito curioso: até o momento, é dos ministros mais visíveis e, ao mesmo tempo, um dos mais discretos da Esplanada.
A visibilidade se dá pela agenda de viagens e pronunciamentos e pela frequência com que o presidente Jair Bolsonaro publica mensagens nas redes sociais sobre realizações do ministério de Tarcísio. A discrição vem pelo fato de que sua pasta não têm chamado a atenção por controvérsias, ao contrário do que ocorre, por exemplo, com a Educação de Ricardo Vélez Rodríguez e os Direitos Humanos de Damares Alves.
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Recentemente, Tarcísio deu passos importantes na consolidação de sua agenda. O primeiro deles foi o bem-sucedido leilão de concessão de 12 aeroportos, distribuídos em oito estados. Os vencedores terão de pagar quase R$ 2,4 bilhões à União à vista, com o compromisso de investir R$ 3,5 bilhões nos terminais ao longo de 30 anos.
Em 22 de março, o governo leiloou quatro terminais portuários na Paraíba e no Espírito Santo. O consórcio vencedor pagará R$ 220 milhões de outorga e terá de investir R$ 199 milhões em 25 anos.
Nesta quinta-feira (28), mais uma concessão bilionária. A Rumo arrematou um trecho de 1.537 quilômetros da ferrovia Norte-Sul, de Estrela d’Oeste (SP) a Porto Nacional (TO). A empresa pagará à União R$ 2,7 bilhões à vista, o dobro do valor mínimo exigido pelo governo, e terá de investir R$ 2,7 bilhões ao longo dos 30 anos de concessão.
Perfil
Tarcísio é um dos ministros que compõem o “núcleo militar” do governo Bolsonaro. É engenheiro formado pelo Instituto Militar de Engenharia (IME), bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras e, em seu currículo militar, tem uma passagem pela missão brasileira no Haiti.
Mas seu vínculo com a área de infraestrutura não começou na gestão atual. Ele foi, ao longo da gestão Temer, secretário de Coordenação de Projetos na Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e também diretor-executivo e diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Ao unir a formação militar com uma trajetória técnica relacionada à pasta, acabou por adquirir predicados prioritários para o primeiro escalão da gestão atual.
A reputação que adquiriu ao longo destes primeiros meses de gestão possibilitou a Tarcísio até mesmo desmentir seu chefe. Um dia após Bolsonaro, em uma transmissão ao vivo pela internet, criticar a “indústria da multa” e as lombadas eletrônicas nas rodovias federais, o ministro disse no último dia 8 que os dispositivos serão mantidos “onde for absolutamente necessário, onde o ponto crítico é decorrente do excesso de velocidade”.
“O ministro é experiente foi secretário de Coordenação de Projetos do PPI no governo Michel Temer, quando a estrutura foi criada para acelerar concessões e desestatizações e fazer a interlocução com o setor privado”, destacou o deputado federal Eli Corrêa Filho (DEM-SP), recém-empossado presidente da Comissão de Viação e Transporte da Câmara.
O ministério que hoje está a cargo de Tarcísio é “novo” na estrutura do governo federal. A pasta incorporou serviços que estavam a cargo do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil e também atribuições que até a gestão de Michel Temer estavam vinculadas ao extinto Ministério das Cidades, como a gestão do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Antes do atual governo, a denominação “Ministério da Infraestrutura” havia sido aplicada no mandato do ex-presidente Fernando Collor, e por período pouco superior a um ano.
Militar desestatizante
A trajetória militar não impediu que Tarcísio seguisse a linha desestatizante, que tem sido uma das principais diretrizes do governo Bolsonaro.
Em um dos seus primeiros pronunciamentos públicos, na cerimônia de transmissão do cargo, Tarcísio enfatizou que o Ministério vai estimular a realização de parcerias com o setor privado, o que inclui a efetivação de privatizações e concessões.
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Para tanto, os giros que Tarcísio tem feito entre banqueiros e investidores em geral são fundamentais. O ministro constantemente relata que tem ouvido expectativas positivas sobre o Brasil, em especial caso realmente ocorra a reforma da Previdência.
“O Brasil voltou para a pauta internacional de investimentos. Hoje há uma confiança grande do investidor externo no nosso país. E queremos contar com parcerias privadas e instituições estrangeiras para produzir resultados”, afirmou semanas atrás após encontro com investidores europeus na embaixada da Itália, em Brasília.
Realizações
O estilo “pé no barro” do ministro Tarcísio teve seu auge durante a viagem ao Pará, no início do mês. O interior do estado passou por uma paralisação, resultado de chuvas em uma estrada que ainda não está asfaltada. O ministro coordenou o trabalho de resgate dos caminhões e apresentou mais um prazo para o asfaltamento do trecho.
“Estou aqui justamente para trazer a mensagem do presidente, que está preocupado e me afirmou que não vai faltar recursos para fazermos a pavimentação. Então, está em nossas mãos resolver o problema. Ano que vem a rodovia vai estar asfaltada”, disse na ocasião.
A “missão” no Pará foi também um reencontro de Tarcísio com seu lado militar, já que o Exército esteve na linha de frente de apoio aos caminhoneiros, muitos presos no local havia dias.
Outra missão grandiosa – mas esta, ainda em fase inicial – que está no radar de Tarcísio é a fusão da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).
A ideia é criar uma única Agência Nacional de Transportes (ANT), que teria estrutura mais enxuta do que as antecessoras. Uma das metas do projeto, segundo o governo, é a de reduzir os possíveis focos de corrupção registrados nas autarquias. “Fundir agências reguladoras, integrar modais de transporte, usar todos os braços que estejam ao alcance e privilegiar a iniciativa privada, são ações que podem ser implementadas”, elogiou o deputado Eli Corrêa Filho.
Mais a curto prazo, porém, outra rodada de desestatização está no foco: a de seis terminais portuários. As unidades estão localizadas no estado do Pará, e atuam no armazenamento e transporte de granéis líquidos e combustíveis. A expectativa é de alcançar investimentos na casa dos R$ 430 milhões.
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