Os problemas brasileiros com a segurança pública são, também, uma questão econômica. Crimes como roubos de cargas, assaltos a lojas e explosões de caixas eletrônicos acabam por aumentar o custo de operação das empresas, impactando no valor final cobrado ao consumidor e tornando o país menos competitivo diante dos concorrentes. Veja como seis tipos de ação dos criminosos afetam os negócios brasileiros e o consumidor:
1. Roubo de cargas
De acordo com um estudo da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), publicado no ano passado, o roubo de cargas no Brasil cresceu 86% entre 2011 e 2016. Nesse período, foram registrados 97.786 roubos de carga, que ocasionaram perdas de mais de R$ 6,1 bilhões. Considerando o último ano do intervalo analisado pela pesquisa, os estados de São Paulo e Rio de Janeiro representam 87,8% dos casos. Ainda segundo o estudo, em uma lista de 57 países, o Brasil figura como o oitavo mais perigoso para o transporte de cargas, com risco considerado muito alto.
Em um novo levantamento, publicado no início deste ano, a Firjan detalha os problemas com o roubo de cargas somente no Rio de Janeiro, estado que sofreu intervenção militar em fevereiro deste ano. Em 2017, o Rio registrou um total de 10.599 casos do tipo, o que representa uma ocorrência a cada 50 minutos. Por conta disso, as transportadoras criaram uma taxa extra para a entrega de produtos na capital carioca, cobrando 1,5% a mais nesses casos. No final de fevereiro, os Correios também anunciaram a cobrança de mais R$ 3 para entregas feitas na cidade. Pouco depois, entretanto, a Justiça concedeu uma liminar suspendendo a cobrança extra.
2. Arrombamento de lojas
O varejo não escapa dos custos mais altos por causa da violência. Isso vale não só para as lojas que ficam na rua – em teoria, mais expostas à ação de criminosos. Atinge também comerciantes com pontos em shoppings. O aumento dos custos com segurança, nesses casos, acaba sendo transferido para o condomínio pago pelos donos das lojas.
De acordo com Eduardo Terra, presidente da SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo), o custo da violência para os lojistas deve ser encarado de uma forma ampla, já que existe um efeito em cadeia dos problemas com a violência. “É uma série de gastos que muitas vezes não são associados diretamente com segurança. Os crimes em outros setores, como o transporte de cargas e valores, acabam impactando no preço final que é cobrado do consumidor”, explica.
Com isso, a loja nem precisa ser realmente assaltada para sofrer prejuízos. Só o fato de um comerciante fechar seu estabelecimento mais cedo, por causa do risco de sofrer a ação de criminosos, já representa um custo. “Muitas vezes o lojista gasta mais para se proteger da violência do que ele perderia em um assalto”, exemplifica Terra, mencionando gastos com serviços de segurança particular e monitoramento por câmeras, por exemplo.
LEIA TAMBÉM: As lições de SP sobre segurança pública e como isso vai impactar as eleições
3. Furto em dutos
Outro crime que aumenta custos e prejudica a competitividade da indústria brasileira é o furto em dutos, que vem aumentando nos últimos anos. De acordo com a Transpetro, braço da Petrobras responsável pelo transporte e logística de combustíveis no país, foram 226 furtos e tentativas de furto em 2017. Com relação ao ano anterior, quando foram registradas 72 ocorrências, o aumento foi de 214%.
Além dos custos com a perda do combustível e a reparação da infraestrutura, esse tipo de crime também traz riscos para os moradores do entorno dos dutos. Isso porque as intervenções não autorizadas podem provocar incêndios e até explosões.
Para enfrentar o aumento dos furtos, a Transpetro afirma, em nota, que tem buscado aprimorar tecnologias de monitoramento e aumentar a comunicação com as autoridades responsáveis. Além disso, a empresa possui o telefone 168, que funciona 24 horas por dia, durante toda a semana, para que os cidadãos possam denunciar furtos ou fazer sugestões e reclamações.
4. Explosão de caixas eletrônicos
Os constantes casos de explosões de caixas eletrônicos, que causam grandes danos nas agências bancárias, provocaram mudanças em algumas políticas das instituições financeiras. Entre as medidas preventivas tomadas pelos bancos, de acordo com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), estão a redução do volume de dinheiro disponibilizado nas agências e o incentivo ao uso de canais eletrônicos para a realização de operações.
Segundo a Febraban, os investimentos em segurança bancária somam R$ 9 bilhões por ano – o que representa um custo três vezes maior do que o registrado há dez anos.
Os investimentos parecem estar dando resultado: de acordo com um levantamento feito pela entidade entre 17 instituições bancárias, em 2017 foram 217 assaltos ou tentativas de assalto no país, o menor número registrado nos últimos 17 anos. Em relação a 2016, a redução no número de casos foi de 36% . No ano 2000, por outro lado, foram registradas 1.903 ocorrências.
5. Furto de cabos
Um crime difícil de ser combatido, o furto de cabos é também de diagnóstico problemático, já que os dados sobre as ocorrências estão dispersos entre diversas empresas. Os casos de transtornos ocasionados por esse tipo de ação, entretanto, são muitos. No ano passado, por exemplo, moradores da Zona Sul de São Paulo ficaram sem telefone por causa dos furtos.
Apesar do problema já ter punição prevista na legislação, tramita na Câmara dos Deputados uma proposta que endurece a pena para aqueles que realizarem o roubo, furto ou interceptação de cabos ou outros equipamentos. De autoria do deputado Sandro Alex (PSD-PR), o Projeto de Lei 5.845/16 aumenta a pena prevista de três a oito anos a pena de reclusão nos casos de furto de cabos. A justificativa são os danos e transtornos ocasionados à sociedade.
6. “Gatos”
Um dos casos da prática popularmente conhecida como “gato” envolve as empresas de TV por assinatura. De acordo com uma pesquisa da ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura), em 2016 eram 4,5 milhões de lares com acesso clandestino aos serviços de televisão paga. Esse acesso não autorizado ocasionou, segundo a ABTA, um prejuízo de R$ 6 bilhões por ano, entre assinaturas que não foram pagas e impostos que deixaram de ser recolhidos.
Por causa do alto número de “gatos” pelo país, as empresas de TV por assinatura tomaram medidas internas, como bloquear o sinal nessas residências, e também contaram com a ajuda das autoridades para enfrentar o problema. Uma das frentes de ação é a interceptação, pela Receita Federal, dos aparelhos utilizados para captar o sinal clandestinamente. Com isso, a estimativa da ABTA é de que, em 2017, o número de “gatos” caiu para 3,3 milhões de lares.