O presidente da Caixa, Gilberto Occhi, vem dando entrevistas negando que exista uma crise na Caixa. Para ele, é só um momento difícil. É o discurso que o governo vem usando há tempos para negar que o banco está metido em problemas tão sérios quanto os que atingiram a Petrobras. A verdade é que a Caixa está em uma crise provocada pelo uso político e pela corrupção.
A crise da Caixa começa por sua estrutura de capital fechado e 100% controlado pelo governo. Isso torna o banco completamente fechado à cobrança por uma boa administração e totalmente aberto às indicações políticas de segunda categoria. Completam a conta outros dois fatores: o banco foi escolhido para ser o gestor de várias políticas públicas, do FGTS ao Bolsa Família, e é uma fonte de financiamento barato para empresas amigas, estados e municípios. É, portanto, uma arma política completa.
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O efeito do uso político da Caixa é uma combinação de resultados abaixo dos seus pares (os bancos privados são mais produtivos e lucrativos), corrupção, ingerência política nas decisões (aquele “forcinha” que os políticos pedem a seus indicados sem se configurar corrupção) e, mais recentemente, a necessidade de novos aportes para o banco continuar rodando – recentemente, o governo aprovou o uso de R$ 15 bilhões do FGTS para reforçar o capital da Caixa.
A crise na Caixa começou a ser revelada pelas operações policiais que investigam a corrupção no banco. São três as grandes investigações em andamento: a Sépsis, que apura o desvio de dinheiro em financiamentos do FI-FGTS; a Patmos, que apura desvios envolvendo o ex-ministro Geddel Vieira Lima (aquele do bunker com milhões em dinheiro vivo); e a Cui Bono?, que apura a corrupção em empréstimos a grandes empresas.
Mesmo com essas investigações em andamento, o presidente Michel Temer achou melhor manter Occhi na presidência do banco, apesar de ele ser investigado por desvios quando era vice-presidente do banco (o delator Lúcio Funaro disse que Occhi tinha uma meta mensal para repassar a seu partido, o PP). Também foram mantidos outros quatro vice-presidentes investigados. Um relatório pedido pelo próprio banco mostrou que a direção da Caixa tem relações impróprias com políticos e o MPF pediu o afastamento dos investigados. Foi necessária uma intervenção do Banco Central para fazer Temer afastar os vice-presidentes. Occhi ficou.
A resistência de Temer em mudar a gestão da Caixa é explicada pelo fato de o banco ter se tornado um feudo de seu grupo político. E, ali, os casos investigados causaram estragos mais difíceis de perceber do que em uma empresa aberta como a Petrobras – a petroleira foi obrigada a refazer balanços, reconhecer perdas, fechou acordo com acionistas nos Estados Unidos e ainda é cobrada por minoritários no Brasil.
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O pedido de capital extra é outro sinal da crise no banco. Todos os grandes bancos brasileiros se prepararam para a maior exigência de capital pelo Banco Central, que foi comunicada ao mercado há vários anos. A Caixa, enquanto abria a torneira dos empréstimos duvidosos a grandes empresas, entrava em projetos perdidos, como a Sete Brasil (o malfadado projeto de sondas que consumiu bilhões), e bancava os contratos mais arriscados do mercado imobiliário brasileiro, perdia seu capital de melhor qualidade. Precisou pedir R$ 15 bilhões ao FGTS, contra a vontade da equipe econômica e do Ministério Público no Tribunal de Contas, que calcula uma necessidade de até R$ 100 bilhões nos próximos ano.
Dois caminhos possíveis
A superação da crise na Caixa pode seguir por dois caminhos, ambos com maior participação da iniciativa privada. O governo poderia sanear o banco para abrir seu capital em bolsa, uma forma de atrair capital e melhorar sua gestão. No limite, poderia privatizá-lo completamente.
O segundo caminho é criar competição nos mercados em que a Caixa é usada politicamente. Não há razão fora a política, por exemplo, para o FGTS ser gerido exclusivamente por esse banco. Outras instituições poderiam administrar o dinheiro do trabalhador com taxas menores e rendimento maior. O Bolsa Família poderia ser pago por qualquer instituição, com custos também menores.
Não é com empréstimos para os estados e municípios amigos, como colocou o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, que a Caixa vai sair da crise. Nem com uma gestão indicada por partidos políticos. Ou com o governo como seu maior cliente e acionista.