Sob forte pressão de parlamentares da própria base aliada para flexibilizar a reforma da Previdência, o presidente Michel Temer deu carta branca para que a Câmara dos Deputados altere cinco pontos do texto, entre eles a regra de transição, na tentativa de melhorar a situação do governo na batalha pela aprovação da medida. O sinal verde dado pelo presidente, no entanto, vai custar pelo menos 17% da economia prevista inicialmente com a proposta original num período de dez anos.
Com as mudanças, o impacto fiscal da reforma será reduzido em R$ 115,26 bilhões entre 2018 e 2027. A conta foi divulgada nesta quinta-feira (6) pela Casa Civil, mas o Ministério da Fazenda só deverá apresentar o impacto total depois que o relatório estiver aprovado, já que, neste momento, não há como dimensionar exatamente o custo das alterações, que não foram totalmente definidas.
Mais cedo, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, havia tentado minimizar o impacto do recuo, falando em uma perda de apenas 10%
A reforma da Previdência é necessária para garantir que todos os aposentados receberão seus benefícios no futuro. É uma necessidade, não é questão de posição política.
O governo procurou minimizar o impacto das mudanças – na regra de transição; Benefício de Prestação Continuada; aposentadoria rural; pensões; e aposentadoria especial para professores e policiais –, mas o “remendo” na proposta foi interpretado pelo mercado financeiro como uma abertura para mudanças ainda maiores, já que está cada vez mais difícil para o governo reverter os votos contrários à proposta da base do governo.
Hoje, o Planalto não tem os 308 votos favoráveis necessários e enfrenta rejeição significativa – são 261 deputados totalmente contrários, de acordo com o Placar da Previdência do jornal “O Estado de S. Paulo”. A divulgação do levantamento acelerou as discussões sobre em quais pontos o governo poderia ceder e levou o presidente Temer a convocar uma reunião de emergência com o relator da reforma, deputado Arthur Maia (PPS-BA) para anunciar a mudança.
Como a reforma ainda está na primeira fase de tramitação na Comissão Especial da Câmara dos Deputados, a preocupação crescente entre os investidores é a de que a busca de apoio do governo para aprovação da reforma acabe desfigurando a proposta enviada ao Congresso.
Economia
O governo havia previsto inicialmente uma economia de R$ 678 bilhões com benefícios assistenciais e do INSS, em 10 anos, com a reforma. “O governo avançou na construção de um consenso visando a aprovação da reforma”, disse o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. “Não há nenhum risco de se quebrar a espinha dorsal do ajuste que pode dar sustentabilidade à Previdência”, garantiu o relator da proposta.
Com o estresse do mercado após a divulgação do Placar da Previdência, Meirelles se reuniu nesta quinta com investidores estrangeiros e nacionais para explicar as mudanças. Ele mostrou que as mudanças não afetam o cerne da proposta e que estão sendo feitas com segurança, para não terem um custo muito grande.
RECUO
Após o anúncio de que o texto da reforma da Previdência será flexibilizado, o presidente Michel Temer disse que ouvir as sugestões do Congresso Nacional “não pode ser considerado um recuo”.
“Prestar obediência ao que o Congresso Nacional sugere, o Congresso que é o centro das aspirações populares, não pode ser considerado um recuo. Nós estamos trabalhando conjugadamente”, afirmou o presidente, acrescentando ainda que cedeu nos pontos mais sensíveis para os parlamentares.
MILITARES
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, anunciou que, em meados do mês de maio, deverá ser apresentada a proposta de alteração das regras que tratam da aposentadoria dos militares. Segundo Jungmann, pelo menos três ajustes poderão ser feitos na lei que trata da passagem para a inatividades dos militares das Forças Armadas: a inclusão de uma idade mínima, ampliação do tempo de serviço e contribuição (por parte das pensionistas).
A ideia do governo é evitar que o texto não tramite ao mesmo tempo que a reforma da Previdência dos civis.
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