A tática de alguns partidos aliados de ameaçar com expulsão deputados filiados que votarem contra a reforma da Previdência parece ainda não surtiu efeito. Parlamentares do PMDB e do PTB – legendas que “fecharam questão” sobre o tema – argumentam que já estão mesmo em rota de colisão com seus partidos e dizem duvidar de um gesto radical de seus líderes, como a exclusão sumária. Mesmo assim, o governo anunciou na noite desta quinta-feira (7) que a primeira votação da reforma se dará no próximo dia 18.
O deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG), vice-presidente da Câmara, é contra a proposta de emenda constitucional e afirma que presta conta a quem vota nele. "Não nasci com cabresto! Tenho obrigação é com meus eleitores", disse ele, que desafia seu partido a expulsá-lo, dada a importância que tem na legenda.
“Vão me expulsar? O vice-presidente da Câmara e um dos primeiros na linha sucessória da Presidência da República”, ironizou. Fabinho, como é conhecido, é famoso também pelas refeições que oferece em seu gabinete, onde o carro-chefe é a leitoa assada.
No seu oitavo mandato e reeleito sempre com votos de servidores públicos e aposentados, Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) ironiza a decisão do PTB em retaliar os infiéis.
"Não tenho preço. Minha questão já está fechada. Meu público é o trabalhador, o segurado, o servidor. Não tenho medo de ameaça. Não me intimida. Aliás, quer me expulsar? É um favor que vão me fazer. Vou para o pau com esses caras. Não vou dar meu voto para esse governo corrupto", disse Faria de Sá, que está na Câmara desde a Constituinte, na década de 1980.
Também ameaçada em seu partido, Laura Carneiro (PMDB-RJ), no seu quarto mandato, não parece preocupada com punições. "Continuo igualzinha. Não mudei minha posição. Se eu tiver que ser expulsa, que eu seja. Estou mesmo cada vez mais longe do PMDB", disse a deputada.
Eterno otimismo do governo
O líder do governo no Congresso, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), está otimista e diz que o ambiente melhorou para o governo, mas não arrisca a apresentar números de apoio. Ele acredita que o governo está virando o jogo com a propaganda da reforma na tevê, na qual, no seu entendimento, está "desmistificando" o tema e a "verdade está aparecendo".
Ribeiro afirmou que o governo está atendendo a demandas de prefeitos e o Executivo irá liberar R$ 2 bilhões para pagamento do 13º salário nessas cidades. "O ambiente está melhorando. Estamos mostrando que não é verdade que a reforma retira direitos do trabalhador, que mexe com os mais pobres e com o trabalhador rural", disse.
Mais cedo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), declarou que não adianta jogar para 2018 a votação da reforma porque ela terá que ser feita de qualquer maneira.
"A reforma da Previdência só vai sair da pauta quando a solução for dada. Não adianta, não tem receita que cubra esse déficit de R$ 50 bilhões por ano. Ah, vai liberar os jogos? Isso vai dar R$ 15 bilhões de receita. Não resolve. Vai aumentar alíquotas de imposto? O Brasil não aguenta mais imposto. Nada que você construa vai solucionar o problema da previdência", disse Maia, que afirmou não ter escapatória.
"Esse assunto, se não votar agora, vai estar na pauta em abril, será tema da eleição. E não adianta querer votar depois da eleição. Quem coloca assim é porque acha que vai ajudá-lo na eleição. Ele vai se reeleger dizendo que é contra, mas, depois da eleição, vai voltar para cá e votar a favor".
O presidente da Câmara, que oscila entre o otimismo e o pessimismo nessa votação, afirmou que não adianta colocar para votar com expectativa de derrota. "Se não votar com expectativa de vitória, o governo vai obter, no máximo, 200 votos. Se a expectativa for de derrota, entre 50 a 80 deputados vão votar contra ou sair do plenário".
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