Relator da Operação Lava Jato na segunda instância, o desembargador João Pedro Gebran Neto, 52, fez um alerta a jornalistas de diversos países latino-americanos em relação a tentativas de reação contra a investigação.
“Tanto os que souberam conduzir o processo quanto os que querem frustrar a Lava Jato aprenderam com a Operação Mãos Limpas, disse ele, na abertura da Colpin (Conferência Latino-americana de Jornalismo de Investigação)”, disse o magistrado do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, em Porto Alegre.
Gebran participou nesta quinta-feira (2/11), em Buenos Aires, de conferência organizada pelo Fopea (Fórum de Periodismo Argentino) e pelo Instituto Prensa y Sociedad, do Peru.
“Corremos o risco de ter o mesmo desfecho, e não é um desfecho bonito. Pessoas investigadas se reorganizaram e reagiram às investigações”, complementou.
Segundo ele, os quatro anos da operação frustraram “todas as pessoas que apostaram contra o sistema, que conseguiam se livrar no passado”. Mas a reação institucional, avalia, é capaz de trazer retrocessos que “podem colocar a Lava Jato em xeque”.
Entre essas reações, Gebran elencou a tentativa de aprovar a lei de abuso de autoridade e a volta do entendimento de que um réu só pode ser preso quando não for mais possível recorrer de um processo.
“Argumenta-se que a prisão apenas com trânsito em julgado beneficia a pessoa hipossuficiente. Mas os processos dessas não conseguem chegar ao STF, e isso ninguém fala”, afirmou. “Enquanto isso vigorou, nenhuma pessoa com condição de contratar advogados qualificados ficou presa.”
O desembargador atribuiu o sucesso da operação até aqui à postura vigilante da imprensa brasileira. “Há um dito de que quando se puxa uma pena vem a galinha inteira; na Lava Jato veio o galinheiro inteiro, em todas as regiões do Brasil; em breve talvez até no Nordeste.”
Gebran foi apresentado pelo jornalista Fernando Rodrigues, do site “Poder360”, como “um juiz ‘línea dura’”. Após contestar em parte a descrição, o magistrado pediu desculpas aos jornalistas presentes por não poder comentar casos concretos que vá julgar e por falar em português - “meu espanhol é pra lá de sofrível”.
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