Relator da denúncia contra Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, o deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) não encontrou relação que comprove a formação de uma organização criminosa mantida pelo presidente da República com seus ministros e outros aliados, como concluiu o ex-procurador-geral Rodrigo Janot.
Andrada disse à Gazeta do Povo na tarde desta segunda-feira (9) que considera "estranha e esquisita" a existência de uma organização criminosa no governo. O relator deve dar parecer contrário ao pedido para que Temer seja investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
"O objetivo da denúncia é demonstrar que há uma organização criminosa. Mas é uma figura nova, de uns quatro cinco anos para cá, e se coloca de maneira complexa. Junta um com o outro, em diversas atividades. Tem que passar por diversos momentos. É bem complexo. Tem (na denúncia) ato de nomeação de ministros e funcionários. É meio estranha e esquisita (a existência de uma organização). Mas está posto lá. E ainda envolve importantes partidos, com muitos representantes do povo. É complexo", disse.
O relator irá entregar seu parecer nesta terça-feira (10). Ele está trabalhando na sua residência, em Brasília, com uma equipe própria, de quatro pessoas. Na Câmara, se reúne com consultores legislativos da Casa. Ele contou uma espécie de macete que tem usado.
"Tenho que ler tudo e exige uma atenção muito grande. Mas tem o índice do capítulo, aí vou na direção certa. Permite atuar com mais rapidez e vou nos pontos fundamentais. O tempo urge", disse Andrada. "Minha sala de jantar transformou-se num centro de trabalho", contou.
O governo está confiante que o relatório dele será favorável a Temer, pelo arquivamento da denúncia, e já faz as contas da vitória na CCJ.
"Estamos conversando com os parlamentares, sabemos que a denúncia é muito fraca e tenho certeza que a análise do deputado Bonifácio Andrada virá pelo arquivamento. E contamos, pelo menos, com os mesmos 41 votos que obtivemos na CCJ, que nos garantiu uma vitória com folga", disse Beto Mansur (PRB-SP), um dos vice-líderes do governo.
Ele minimizou a liberação de emendas pelo governo para conquistar votos contra a denúncia de Janot. "Essa coisa de liberação de emenda é muito lenda urbana. O governo tem obrigatoriamente que liberar as emendas, é o que está na lei".
O parecer de Andrada deve ser votado na CCJ na semana que vem. O governo espera votar em plenário daqui a duas semanas.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”