O governo começou a rever as projeções para o crescimento da economia em 2017 e considera que o resultado do ano pode ficar acima da estimativa oficial, de 0,5%. Integrantes da equipe econômica afirmaram que uma combinação de fatores positivos vai melhorar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) já no primeiro trimestre, com reflexos positivos nos meses seguintes. O IBGE divulga o número oficial no dia 1º de junho. A expectativa do governo é que, no primeiro trimestre, o PIB avance em torno de 0,7% frente ao fim do ano passado.
“Caso não ocorram mudanças significativas nas séries a partir da divulgação dos dados de março de 2017, o PIB do primeiro trimestre de 2017 será positivo e de magnitude significativa, encerrando a sequência de oito trimestres de queda da atividade econômica na série ajustada sazonalmente”, afirma documento preparado pela área técnica do governo.
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Um dos fatores com os quais o governo conta para esperar desempenho melhor da economia é o saque das contas inativas do FGTS. Esses recursos têm potencial para injetar R$ 43,6 bilhões na economia. De acordo com os técnicos, a previsão original era que os trabalhadores sacariam 80% dessas contas, o que equivaleria a R$ 34,5 bilhões. Com isso, o PIB cresceria mais 0,48 ponto percentual. No entanto, esse processo está mais acelerado. O total esperado de saque já subiu para R$ 39,1 bilhões, com impacto potencial de 0,55 ponto percentual no PIB. E não está descartada a possibilidade de os saques chegarem a 100%. Caso isso ocorra, a atividade econômica aumentaria 0,61 ponto percentual.
“Isso nos ajuda a ter uma visão bem mais otimista para a economia em 2017”, afirmou um integrante do governo.
Ele lembrou que o otimismo em relação ao ano está reforçado por uma série de indicadores que são acompanhados de perto pela área econômica. O índice de confiança da Confederação Nacional da Indústria (CNI) teve alta de 5,5% no primeiro trimestre de 2017 em relação aos últimos três meses de 2016. Já a expedição de papel ondulado (que serve como termômetro da produção industrial) subiu 3,8% no mesmo período. Ao mesmo tempo, a estimativa de safra agrícola deve ter uma alta superior a 20% este ano em relação à passada.
Esse integrante lembrou ainda que o salário mínimo teve ganho real em 2017, uma vez que o aumento foi de 6,47% (a reposição da inflação de 2016), enquanto a inflação deste ano deve ficar pouco acima de 4%. Esse ganho, combinado com uma redução das taxas de juros e do endividamento das famílias, será importante para aumentar o consumo:
“Começa a se abrir espaço para aumento do consumo, que é favorecido pela queda da inflação e das taxas de juros”.
O problema ainda é o mercado de trabalho, que continua a piorar. O número de pessoas em busca de uma vaga subiu 1,8 milhão no primeiro trimestre, aumentando o contingente para 14,2 milhões de desempregados. Essa piora também vai ter reflexo negativo no PIB.
Melhora no PIB ajuda contas públicas
Outro fator que pode ajudar a melhorar o desempenho do PIB de 2017 foi a revisão do IBGE em dois levantamentos importantes — a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) e a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). Na PMC, aumentou a amostra de empresas pesquisadas de 5.700 para 6.157 e a atualização dos pesos de cada segmento dentro do comércio. O mesmo procedimento foi feito na PMS. Segundo técnicos do Ministério da Fazenda, a PMC não entra no cálculo do PIB feito pelo IBGE, mas a PMS sim, com reflexos no consumo das famílias.
O economista Thovan Caetano, da LCA Consultores, também afirma que a revisão da PMS pode ter um efeito positivo sobre o PIB do primeiro trimestre, mas lembra que ele é limitado. O conjunto das empresas de serviços que são monitoradas na pesquisa é pequeno. Segundo ele, cerca de 30% da PMS aparecem no PIB do setor de serviços.
Ele explicou que a projeção da LCA para o crescimento da economia no ano é de 0,7% — mais otimista do que a do próprio governo. É justamente por isso que, enquanto outras consultorias e bancos estão revisando para cima a projeção do ano, a LCA manteve a sua estimativa apesar do cenário mais favorável para os setores de serviços e agropecuária.
Parte da equipe econômica acredita que uma revisão da projeção oficial do PIB pode ocorrer já no próximo relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas, que será divulgado no próximo dia 22. Caso isso ocorra, o governo também ganhará um alívio na gestão das contas públicas.
A previsão de arrecadação é feita com base no crescimento projetado para o ano. Se o PIB subir mais que 0,5%, a receita pode ser revista para cima, permitindo que parte do contingenciamento do Orçamento, de R$ 42,1 bilhões, seja revista.
O corte de despesas foi necessário porque o governo detectou rombo de R$ 58,2 bilhões no Orçamento de 2017. Assim, para cumprir a meta fiscal do ano, de déficit primário de R$ 139 bilhões, além de fazer uma tesourada forte, a equipe econômica precisou voltar a onerar a folha de pagamento da maioria das empresas e ainda aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre cooperativas de crédito.
A economia bate em cheio nos investimentos do governo. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi cortado em mais de R$ 10 bilhões. O consumo do governo também pesa sobre o desempenho da economia, especialmente num momento em que a atividade ainda está baixa. Por isso, quanto mais rápido a equipe econômica conseguir reduzir o corte nas despesas, melhor será para a atividade.
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