Um dos pontos mais devastadores da delação da JBS para o governo Michel Temer está aos dez minutos da conversa do empresário Joesley Batista com o deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), no dia 13 de março, na casa do parlamentar no Jardim Europa, em São Paulo. Nesse diálogo, Rocha Loures mostra que o governo estava à disposição dos interesses dos donos do grupo J&F, que controla a JBS e outras dezenas de empresas.
INFOGRÁFICO: Saiba todas as acusações que pesam contra o deputado Rocha Loures
Havia sido o próprio Temer quem havia dito a Joesley Batista que ele poderia tratar de “tudo” com Rocha Loures. Na conversa gravada entre os dois no dia 7 de março, no Palácio do Jaburu, Joesley pediu a ajuda de Temer para resolver uma pendência da J&F no governo.
“Fale com o Rodrigo”, afirmou Temer. Joesley quis se certificar do que Rocha Loures poderia fazer por ele e perguntou: “Posso falar tudo com ele?” Temer foi sucinto: “tudo”.
No encontro com Rocha Loures, seis dias depois dessa conversa com Temer, Joesley explicou ao deputado que precisava resolver uma série de problemas de suas empresas em órgãos como o Cade, a CVM, a Receita Federal, o Banco Central e a Procuradoria da Fazenda Nacional.
Joesley diz precisar que “posições-chave” nesses órgãos sejam ocupadas por pessoas que possam lhe ajudar, destravando negócios das empresas do grupo J&F. Aos 16 minutos da conversa, Rocha Loures oferece a Joesley a possibilidade de levar algum nome indicado por ele para o conhecimento do presidente Michel Temer.
Leia os principais trechos:
Joesley: “Eu só preciso é resolver meus problemas, se resolver, eu nem, só pra não confundir, às vezes, não é que eu, a eu gostaria que fosse João ou Pedro, João ou Pedro...
Loures: “O importante é que resolva.
Joesley: “Resolve o problema, se resolve, então pronto, é que eu tenho algumas questões a ser resolvidas e, de repente, já vamos chamar ele e testar, falar ôô, ôô fulano...
A partir daí, Loures começa a fazer uma série de telefonemas na frente de Joesley, com interlocutores de alguns desses órgãos, para mostrar o acesso a todos eles. Joesley, então, muda de assunto.
Cade: Rocha Loures não conseguiu nada
O presidente interino do Cade, Gilvandro Araújo, afirmou nesta quinta-feira (18) à coluna de Lauro Jardim, no site do Globo, que Rocha Loures não conseguiu concretizar o que prometeu ao dono da JBS.
“O Rodrigo Rocha Loures me ligou como diversos políticos ligam aqui, pedindo audiência para a empresa A ou a empresa B. Eu disse que receberia. Mas nada foi à frente. O caso em questão ainda está na fase de inquérito e longe de ser resolvido”, disse.
O Banco Central também se manifestou sobre supostos vazamentos de informações sugeridos nas colaborações premiadas dos empresários do grupo J&F. O BC afirmou que é “impossível” antecipar um resultado de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
“As decisões do Copom são tomadas apenas durante as reuniões e são divulgadas imediatamente após seu término por meio de comunicado no sítio do Banco Central da internet”, disse o BC por meio de sua assessoria. “Portanto não existe possibilidade de antecipação da decisão a qualquer agente, público ou privado.”
Paradeiro desconhecido
O deputado Rocha Loures não embarcou nesta quinta-feira (18) no voo da TAM entre Nova York e São Paulo, que deixou a cidade norte-americana às 19h30. O voo trouxe empresários, banqueiros e políticos que participaram de eventos na cidade americana. O parlamentar, ex-assessor de Michel Temer, tem um pedido de prisão a ser analisado pelo plenário do Supremo Tribunal Federal. A Polícia Federal fez buscas no seu gabinete e em imóveis. Assessores de Temer afirmaram que Loures “agiu por conta própria” ao receber malas de dinheiro do ex-executivo Ricardo Saud.
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