O vice-presidente da República, o general Hamilton Mourão, disse que, se pudesse, levaria o seu filho Antônio Hamilton Rossell Mourão para trabalhar ao seu lado no Palácio do Planalto. A promoção do filho do general para assessor especial da presidência do Banco do Brasil, com um salário de R$ 36,3 mil – o triplo do atual –, causou polêmica no governo.
“Eu não tive nada a ver com isso, o presidente do banco (Rubem Novaes) o convidou para ser assessor. Aí, é óbvio que lá dentro o sindicalismo bancário se revolta. São coisas da vida”, afirmou Mourão em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Ele também lembrou que Rossell Mourão completará 19 anos no banco.
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Questionado se a situação causava algum tipo de constrangimento, o general respondeu: “Para mim, não. Não é por ser meu filho, mas ele é um profissional extremamente qualificado. Se eu pudesse, o teria aqui na minha equipe”.
Mourão admitiu problemas na comunicação do governo, mas disse que as divergências entre os ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, estão superadas. “O Paulo e o Onyx já trocaram beijinhos e está tudo certo.”
Confira a entrevista do general Mourão ao Estadão:
A promoção de seu filho no Banco do Brasil não contraria o discurso de campanha sobre fim de privilégios e da influência política nas nomeações?
Se o meu filho fosse um camarada de fora do banco, seria algo totalmente fora, apesar de ser permitido, porque o presidente tem cargos de livre provimento. Em fevereiro, (seu filho) completa 19 anos (de banco). Não tive nada a ver com isso, o presidente do banco o conheceu em uma apresentação e o convidou para ser assessor. É óbvio que lá dentro o sindicalismo bancário se revolta com determinadas coisas. São coisas da vida.
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E ele continua no cargo?
Sim. Não vai ceder.
Isso não criou algum tipo de constrangimento para o sr.?
Para mim, não. Não é por ser meu filho, mas ele é um profissional extremamente qualificado. Se eu pudesse, o teria aqui na minha equipe.
Como o sr. avalia o desencontro de informações no governo, nos últimos dias, em relação ao aumento do IOF e à reforma da Previdência? Houve bate-cabeça?
Não acho que tenha havido bate-cabeça. Tem esses primeiros dez dias, que é o momento de conhecer as coisas. Até porque essa transição não ocorre da forma como a gente faz nos nossos quartéis, porque aí você pega e bota o novo comandante sentadinho, cada um fala, vai lá, expõe. Aqui você traz uma equipe, muitos não têm experiência na administração... Então, isso é normal. Não teve prejuízo.
Mas na segunda-feira o sr. e o general Augusto Heleno (ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional) foram convocados para ajudar na tarefa de afinar o discurso entre os ministros Onyx e Paulo Guedes.
Não houve essa convocação. Na segunda-feira, como tinha a posse dos bancos estatais, o presidente reuniu no gabinete os presidentes de bancos e obviamente estavam o Paulo Guedes, o Onyx, eu e o Heleno. Houve uma conversa informal, mas não teve essa escalação por parte do presidente para afinar o discurso. O Paulo e o Onyx foram almoçar juntos, já trocaram uns beijinhos e está tudo certo. Esse episódio está superado. Em qualquer equipe volta e meia existem opiniões diferentes. Compete ao líder maior dizer: ‘Meninos, ou meninas, vamos nos acertar’.
Na campanha, o sr. disse que a comunicação do governo era ruim. Como resolver esse problema?
O presidente está buscando um porta-voz e ainda não encontrou. Vocês sabem que o salário para um porta-voz é igual àquele do Chico Anysio na Escolinha do Professor Raimundo (faz o gesto juntando o polegar e o indicador): ‘E o salário, ó!’. Fica difícil encontrar alguém que tenha boa conexão com a imprensa.
O ministro Onyx disse que faria um “revogaço” de medidas, mas até agora não foi anunciado nada. Houve erro de comunicação?
Para fazer o “revogaço”, você tem de pegar as medidas que foram colocadas nos últimos dois anos. Pega uma equipe de cinco, seis pessoas e se debruça para ver o que pode e o que não pode valer. Isso leva tempo. A burocracia estatal não é fácil desde o Império (risos).
A decisão da Casa Civil de exonerar 320 servidores não emperrou a máquina? O sr. vai “despetizar” a vice-presidência?
A Vice não existia. Quando o presidente (Michel) Temer assumiu a Presidência, quem estava aqui foi com ele. Sobrou meia dúzia de gatos pingados.
O ex-assessor Fabrício Queiroz, que trabalhava para Flávio Bolsonaro, não deu todas as explicações da movimentação considerada atípica pelo Coaf. Isso não cria dificuldade para o governo?
Acho que não. O problema é o Queiroz. Ele tinha um dinheiro na conta e tem de explicar por que aquelas pessoas depositavam para ele. Para o governo, a única conexão era o dinheiro que foi para a conta da primeira-dama (Michelle Bolsonaro), que o presidente disse que era pagamento de empréstimo. Então, para mim, morta a cobra.
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O PSL, de Bolsonaro, anunciou apoio à candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à reeleição para a presidência da Câmara. O governo terá lado nessa disputa?
O presidente não quer ter um lado nessa disputa. É um jogo político-partidário. Teremos de tratar com quem for eleito e tem de ser na base republicana.
E como o sr. vê a disputa pelo comando do Senado com a candidatura de Renan Calheiros (MDB-AL), que é próximo do PT?
Não vou emitir juízo de valor. Nunca conversei pessoalmente com ele.
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