As senadoras da oposição que ocuparam a mesa diretora do plenário do Senado na manhã desta terça-feira (11) aproveitaram o vazio e o escuro do plenário para fazer vídeos para suas redes sociais e dar espaço para deputados também subirem ao espaço da mesa. Na hora do almoço, marmitas foram trazidas para as senadoras, que comeram às garfadas utilizando a Mesa do Senado como local de refeição. Para evitar a votação da reforma trabalhista, elas prometem não ceder a não ser que o governo sinalize que permitirá a mudança do texto, o que imporia uma derrota aos governistas e levaria o projeto de volta para a Câmara.
No escuro do plenário quase vazio, as senadoras Fátima Bezerra (PT-RN), Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) não perderam tempo. Em alguns momentos, uma parlamentar gravava a outra, ajudando a fazer os vídeos para as redes sociais da companheira. O senador Sérgio Petecão (PSD-AC) protestou enquanto as senadoras comiam. Dirigindo-se a Vanessa Grazziotin, disse que assim, comendo, até ele conseguia fazer protesto.
Antes do começo da sessão, assessores do plenário já sinalizavam que a ocupação das senadoras tinha o objetivo de causar constrangimento aos governistas. A intenção era que elas fossem retiradas à força, por seguranças. A estratégia já tinha sido anunciada por Gleisi no Paraná e foi colocada em prática na manhã de hoje, sem nenhuma ação da base para evitá-la.
As senadoras da oposição chegaram antes da abertura da sessão na manhã da quarta e garantiram o lugar na mesa. Às 11h, quando a sessão foi iniciada, as senadoras ocupavam os assentos da mesa. Por volta das 12h, o presidente do Senado, Eunicio Oliveira (PMDB-CE), tentou tomar assento e iniciar a sessão de votação da reforma trabalhista. Mediante a resistência das senadoras, mandou apagar as luzes, cortar o ar condicionado e a água servida aos ocupantes da Mesa.
“Não haverá acordo”, afirmou Gleisi, que avalia que o protesto foi o caminho possível, por falta de diálogo com o governo. Ela disse avaliá-lo como um ato “democrático”. O senador Paulo Paim (PT-RS) tentou, quando o apagão no plenário já durava mais de duas horas, negociar. Trouxe uma proposta da presidência do Senado: a abertura das galerias para manifestantes dos sindicatos e a indicação de que os destaques apresentados pela oposição seriam colocados em votação.
As senadoras oposicionistas disseram que não. Segundo Gleisi, elas só liberam a Mesa caso o governo admita votar mudanças no texto-base, principalmente sobre os pontos do trabalho insalubre das gestantes e lactantes.
Protesto “machista”
O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) classificou o protesto de “machista”. Para ele, a atitude da oposição, de escolher mulheres para ocupar a Mesa, com o objetivo de constranger outros senadores a seguranças a tomarem atos de força.
“Isso tudo é para fazer populismo. Essa é uma atitude populista deplorável. É terrorismo puro o que eles fazem”, disse Cunha Lima.
O senador afirmou que alas do PSDB eram favoráveis a votar os destaques apresentados pela oposição e fazer o texto voltar para votação na Câmara. Mas que o protesto das senadoras é um ato “lamentável”, que não deve ser apoiado e deve levar o PSDB a se contrapor. Um dos pontos que o PSDB apoiaria mudanças era sobre o trabalho das gestantes em áreas insalubres.
Em resposta a Cunha Lima, Gleisi defendeu o protesto feito por mulheres. “Os senadores queriam levar a disputa para o braço”, afirmou.