Sindicatos preparam uma “greve nacional” para a próxima terça-feira (5/12) em protesto contra a reforma da Previdência, que segundo eles “acaba com o direito à aposentadoria dos trabalhadores brasileiros”.
O objetivo é repetir a estratégia da greve geral de 28 de abril, definida pelos sindicalistas como a maior do país em três décadas: paralisar o transporte coletivo nas principais capitais e, assim, dificultar ou impedir o deslocamento de pessoas rumo ao trabalho.
As manifestações estão marcadas para a véspera da possível votação da reforma da Previdência. Possível pelo menos para o núcleo do governo, que ainda sonha em obter os 308 votos necessários para a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) na Câmara dos Deputados.
Definida na sexta-feira passada (24) em uma reunião de nove centrais sindicais (CUT, UGT, Força Sindical, CTB, Nova Central, Intersindical, CSB, CGTB e CSP-Conlutas), a nova paralisação será a quarta deste ano.
Depois de abril, as centrais convocaram greves para 30 de junho e 10 de novembro, mas ambas tiveram baixa adesão, em especial de trabalhadores do transporte, que temiam ser multados pela Justiça. Se motoristas e cobradores aderirem em massa desta vez, a greve pode ter mais sucesso. O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, avisou que o objetivo é reforçar a mobilização nesse setor.
Previdência incomoda mais que trabalhista
Outro fator anima os sindicatos: a reforma da Previdência incomoda mais – e, portanto, mobiliza mais – que a trabalhista, já aprovada e em vigor. “A reforma da Previdência atinge muito mais pessoas. Só metade da população economicamente ativa do país está na CLT”, observou Juruna em entrevista à Gazeta do Povo no fim de junho, ao comentar a expectativa de uma mobilização mais baixa naquela paralisação, que era focada na reforma trabalhista.
“Todo brasileiro independentemente da categoria tem motivo de sobra para cruzar os braços e ir às ruas no dia 5 de dezembro. Todos sofremos com o desmonte da Previdência”, disse o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, em declaração publicada pelo site da central.
Além de paralisações nas capitais, os sindicatos aprovaram outras iniciativas, como campanhas nas redes sociais para contradizer supostas mentiras do governo sobre a reforma da Previdência, e pressão sobre deputados federais em aeroportos e em seus compromissos públicos.
Nesta quarta-feira (29), às 17 horas, presidentes das centrais sindicais vão se reunir com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no gabinete dele. Maia defende a reforma, embora admita que no momento o governo está longe de ter os votos necessários para aprová-la.
Reforma não tem apoio da base
As centrais encerram a nota em que anunciaram a mobilização do dia 5 exigindo “que o Congresso Nacional não mexa nos direitos dos trabalhadores”. Talvez nem fosse necessário. Depois de se livrar de duas denúncias de corrupção e aprovar o teto dos gastos públicos e a reforma trabalhista, o presidente Michel Temer não consegue apoio dos partidos da base aliada para votar um projeto tão impopular.
Nesta segunda-feira (27), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que acredita ser “viável” votar a nova legislação no dia 6 de dezembro. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, também mira essa data, acertada com Temer na semana passada. Mas, em “on” e em “off”, líderes da base afirmam que não há clima para votar a PEC, nem mesmo depois de o governo excluir medidas que afetavam os mais pobres e trabalhadores rurais.
O governo convidou cerca de 300 deputados para o jantar em que apresentou a versão mais enxuta da reforma da Previdência, mas nem 170 compareceram. E os que foram não se comoveram. “A impressão era que os deputados se perguntavam: ‘Jura que quer aprovar isso agora? Na boca da eleição?’”, disse à Gazeta do Povo um dos comensais.
Deixe sua opinião