Não bastasse ter formado um ministério repleto de pessoas notavelmente enroladas com a Justiça, o presidente da República acaba de ser o primeiro da história a ser denunciado no exercício do cargo. O mesmo presidente que, segundo os movimentos sociais, usurpou a cadeira da titular para propor reformas que adiam a aposentadoria e retiram direitos dos trabalhadores, em benefício de empresários e rentistas.
Motivos de sobra para manifestações muito maiores que a greve geral de 28 de abril, certo? Errado – ao menos para parte das centrais sindicais que organizam os atos desta sexta-feira (30).
Ora afirmando que está mais difícil mobilizar os trabalhadores após as greves de março e abril, ora dizendo que não há por que fazer greve toda hora, os próprios sindicalistas ajudaram a enfraquecer o movimento.
Além de contar com a participação de menos categorias, a greve desta sexta deve ser menos “espalhada” que a de abril. Segundo os sindicalistas, principais responsáveis pela coordenação do movimento, os protestos estarão centralizados nas principais cidades do país, com destaque para São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Em Curitiba, bancários, professores e servidores públicos vão cruzar os braços. Mas os motoristas e cobradores de ônibus não vão interromper o serviço de transporte público por completo, ao contrário do que ocorreu nos protestos de março e abril.
Dinheiro para os sindicatos
A ideia inicial era fazer uma greve geral nos moldes da de abril, quando, segundo os organizadores, 40 milhões de pessoas deixaram de trabalhar (por conta própria ou porque não conseguiram se deslocar até o serviço).
Mas um agrado sinalizado por Michel Temer, que luta para se manter no cargo, provocou um racha nas centrais sindicais. Depois que ele sinalizou a edição de uma medida provisória para garantir o financiamento dos sindicatos – permitindo a cobrança de contribuição assistencial de trabalhadores não sindicalizados, como contrapartida ao fim do imposto sindical –, os sindicalistas deixaram de falar a mesma língua.
SAIBA MAIS: O que é imposto sindical
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O “Fora, Temer”, que poderia engrossar o movimento grevista, pelo jeito ficará restrito aos atos organizados pelas entidades mais ligadas à esquerda – CUT, CTB e Intersindical, junto com movimentos sociais, preparam a principal manifestação em São Paulo, na Avenida Paulista, a partir das 16 horas. A maioria das outras centrais recomenda protestos pontuais e focados no ataque às reformas.
Medo de multas
O medo de receber multas pesadas da Justiça, como aconteceu após o 28 de abril, inibiu categorias como os motoristas de ônibus de São Paulo, que não vão parar. A baixa adesão dos funcionários do transporte em outras cidades também joga contra a greve, afinal, as pessoas que quiserem trabalhar terão menos dificuldade em chegar ao serviço.
A paralisação da tramitação da reforma da Previdência na Câmara também acabou virando um “problema” para as centrais. Na avaliação de João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical, as mudanças propostas na aposentadoria mobilizam mais os trabalhadores que a reforma da CLT.
“A mobilização do dia 30 está muito focada na reforma trabalhista, mas o que mobiliza mais gente, na nossa opinião, é a Previdência. Então ainda que haja acúmulo de forças e as questões em Brasília tenham ajudado, talvez a mobilização seja menor”, afirma Juruna, da Força. “A reforma da Previdência atinge muito mais pessoas. Só metade da população economicamente ativa do país está na CLT.”
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