“Paulo Skaf poderia ser candidato à Presidência?”, queria saber uma pesquisa encomendada pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) em 2015, auge dos protestos contra o governo Dilma Rousseff (PT).
À época, a entidade lançava a célebre campanha contra o aumento de impostos representada por um pato amarelo, que chegou a ser inflado até na Esplanada dos Ministérios.
Skaf, por sua vez, já planejava candidatar-se nas eleições de 2018 e acabou disputando o governo paulista.
A campanha do pato foi seguida por uma série de pesquisas de opinião obtidas pela reportagem, estratificadas por regiões do estado de São Paulo, a respeito da imagem de Skaf.
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As pesquisas foram feitas pela agência Prole, que pertencia ao marqueteiro Renato Pereira, hoje delator na Lava Jato. Ela venceu a licitação para cuidar da comunicação do Sesi-SP e Senai-SP e também ficou com a conta da Fiesp.
O contrato com a Prole, pago com dinheiro da Fiesp e do “Sistema S”, oriundo de contribuições obrigatórias de empresas, gastou R$ 55 milhões em um ano e meio, segundo o Ministério Público Eleitoral.
Pereira diz em sua delação que houve direcionamento na licitação de publicidade das entidades e que uma de suas missões era produzir peças que exaltassem e mantivessem vivas as expectativas eleitorais de Skaf.
Os entrevistados foram questionados sobre suas maiores preocupações em relação aos problemas do país e do estado e sobre o desempenho de Skaf à frente das publicidades do Sesi-SP e Senai-SP (serviços ligados à indústria, também presididos por ele).
A agência que conduziu as pesquisas chegou à conclusão de que o eleitor não conectava a imagem do pato à de Skaf. O dirigente era lembrado pela administração no Sesi e Senai.
“Skaf tem uma boa imagem ligada ao sucesso do Sesi e Senai: empreendedorismo, educação, credibilidade elementos que gostariam de ver na administração pública”, diz o texto. Concluiu também que o partido de Skaf, o MDB, não aumentava sua rejeição, embora não fosse bem visto.
Em 2018, Skaf seguiu a cartilha: candidatou-se ao governo de São Paulo pela terceira vez com um discurso que o apresentava como o responsável por renovar o Sesi e Senai de São Paulo.
Pouco mencionava o pato e evitava conexões com o MDB. Mas fracassou novamente: ficou em terceiro lugar.
Outros aspectos já vinham sendo considerados em suas publicidades no Sesi e Senai. Por exemplo, a avaliação da Fiesp destaca: “A informalidade é apreciada: suaviza a imagem séria do presidente da Fiesp, aproxima-o do eleitor. Gostaram do uso de roupa descontraída, saber que ele tem cinco filhos, imaginar ele na churrascaria...”.
Nos anos seguintes, Skaf apostou em aparecer de forma mais intimista. Citava seus cachorros, falou de uma possível tatuagem e aparecia em eventos nas ruas.
Em 18 de dezembro, a Procuradoria Regional Eleitoral propôs ação de investigação judicial eleitoral contra o emedebista por suposto uso indevido de meios de comunicação como presidente da Fiesp.
Nela, os procuradores citavam as pesquisas feitas pela Fiesp e diziam que “apesar de as contratações serem realizadas por instrumentos separados, havia confusão patrimonial entre as entidades [Fiesp, Sesi e Senai] e plena comunhão da equipe de trabalho”.
“Com isso, Paulo Skaf podia utilizar livremente os recursos privados e parafiscais alocando os custos ora em uma entidade ora em outra, mas tendo a mesma pessoa como executora de todos os orçamentos, utilizando a mesma equipe criativa das entidades para sua campanha eleitoral.”
O Sistema S é considerado “paraestatal” pelo TCU.
Essa representação já se inicia com um dos questionamentos usados nas pesquisas: qual cargo combina mais com Paulo Skaf. As alternativas: prefeito, governador, ministro ou presidente.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse antes de assumir o cargo que pretende “meter a faca no Sistema S”.
OUTRO LADO
A assessoria da Fiesp declarou que “nunca, em tempo algum, patrocinou ou financiou qualquer campanha eleitoral”.
Disse ainda que as pesquisas “são essenciais para os setores produtivos, sendo largamente realizadas por inúmeras entidades em níveis estadual e federal, inclusive por bancos e veículos de imprensa”.
Por fim, ressaltou que a Fiesp é uma entidade privada, que pode realizar quantas sondagens achar necessário.
A advogada de Renato Pereira, Maíra Salomi, disse que seu cliente está colaborando com a Justiça em todas as instâncias competentes.