A Caixa não precisa de dinheiro novo para continuar emprestando neste ano e, talvez, nem mesmo em 2019, dizem especialistas e integrantes do próprio governo.
Segundo fontes que acompanham de perto a questão, a capitalização de R$ 15 bilhões do banco com recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) teria como objetivo apenas elevar o crédito em ano eleitoral.
O presidente Michel Temer sancionou o socorro ao banco com recursos dos trabalhadores no início de janeiro. De lá para cá, a discussão sobre a liberação foi encoberta pelo escândalo envolvendo parte do comando do banco, acusado de corrupção.
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O episódio acabou expondo o embate entre aliados do governo, que pressionam pelos recursos em ano de eleição, e membros da equipe econômica, contrários à capitalização, mesmo após mudança do estatuto do banco, que endurece as regras para a escolha de seus dirigentes.
“Olhamos os números e temos convicção que a Caixa não precisa de recurso nenhum”, diz fonte do governo.
Analistas da agência de risco Fitch, Claudio Gallina e Esin Celasun, concordam. “Provavelmente a Caixa não precisará de aporte em 2018, mesmo que não venha o dinheiro do FGTS.”
Em longo relatório sobre a Caixa ao qual a reportagem teve acesso, a Fitch diz que, mesmo em 2019, quando o banco terá que se ajustar às regras de Basileia 3 (acordo internacional que busca dar mais solidez ao sistema financeiro), a necessidade de aporte não é dada como certa.
Ela dependeria de variáveis como rentabilidade do banco, apetite por crédito, revisão de custos e volumes de dividendos pagos à União.
Consultada, a Caixa disse que se esforça para elevar seu capital próprio, mas, segundo indicadores atuais, não se enquadraria na regra. Por esse motivo, afirma, o governo editou o projeto de lei que autoriza o repasse.
Segundo a Fitch, lucros futuros e amortização de empréstimos existentes podem ajudar o banco a se enquadrar. Caso tenha problemas para atender exigências externas em 2019, diz, a Caixa tem ativos que poderia vender para reforçar o capital, como participações em subsidiárias como a de seguro.
No imbróglio, além das interferências político-partidárias, está em jogo a redefinição do tamanho da Caixa.
Fonte do governo garante que a Caixa não precisa de recursos novos, desde que deixe aos poucos de atuar em linhas como crédito a veículos e privilegie a sua maior vocação: o crédito imobiliário.
O financiamento imobiliário tem 60% da carteira de crédito da Caixa, seguido por saneamento e infraestrutura (11,4%), que ganha relevância ano após ano, e pelo consignado (9%), dentre outros.
Baixa renda
Historicamente, a Caixa tem sido crucial na execução de políticas econômicas e sociais relacionadas à concessão de crédito para a população de mais baixa renda.
Justamente por focar créditos com menor risco como o imobiliário, a rentabilidade da Caixa é, em geral, menor que a de outros bancos grandes, explica a Fitch.
Após dois anos muito difíceis, o lucro líquido do banco subiu 80% para R$ 6,2 bilhões em 2017, até setembro. A Fitch não descarta, porém, que calotes de empresas ameacem o lucro do banco.
Em março de 2017, o maior empréstimo da Caixa equivalia a 18% do seu patrimônio líquido, de R$ 65 bilhões.
A consultoria GO Associados lembra que a Caixa não tem apresentado prejuízo contábil, mas algumas operações resultaram em perdas.
Em 2016, a Caixa provisionou R$ 700 milhões para cobrir o risco de calote da Sete Brasil, criada para fornecer sondas para exploração do pré-sal. Além disso, funcionários e aposentados da Caixa têm entrado com ações na Justiça pela má gestão da Funcef, fundo de previdência dos servidores da estatal. Um dos piores investimentos foi justamente a Sete Brasil.
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