Nas democracias, a suspeita de que um governante espionou adversários ou usou o aparato do Estado para persegui-los e constrangê-los pode causar tanta dor de cabeça como um escândalo de corrupção. E, em algumas situações, o efeito é ainda mais devastador – caso do Watergate, nos Estados Unidos.
Reportagem da revista Veja afirma que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o serviço secreto do país, foi acionada pelo presidente Michel Temer para encontrar fatos contra o ministro Luiz Edson Fachin que possam desacreditá-lo. Fachin é o relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) e conduz a investigação contra o presidente por causa da delação premiada dos sócios da JBS. Temer nega ter mandado a Abin investigar o ministro. Mas a suspeita já acirrou a crise política brasileira – o que ficou evidente na forte reação do Judiciário.
A Gazeta do Povo listou quatro casos norte-americanos em que a suspeita de espionagem criou grandes embaraços.
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O escândalo de Watergate
O Watergate é o caso mais conhecido de espionagem política. Levou à renúncia do presidente norte-americano Richard Nixon (foto), em 1974. Tudo começou durante a campanha eleitoral de 1972 – quando cinco pessoas foram presas instalando escutas na sede do Partido Democrata em Washington, que ficava no Edifício Watergate – daí o nome do caso. Investigação do jornal Washington Post revelou, ao longo de dois anos, que o republicano Nixon sabia da operação ilegal na sede de seus adversários políticos. Sob o risco de sofrer impeachment, o presidente renunciou.
Trump e a Rússia
Um caso que guarda semelhanças com o escândalo do Watergate envolve o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (foto). Ele é suspeito de ter sido ajudado a se eleger pelo serviço secreto da Rússia – que teria invadido os e-mails da democrata Hillary Clinton para vazá-los e, assim, comprometer a candidata democrata.
Trump nega as acusações. Mas essa já é a maior crise de seu governo. Há uma investigação aberta contra ele por supostamente saber da ação russa para lhe favorecer. E o caso é considerado tão grave que há nos Estados Unidos quem fale que o presidente possa sofrer impeachment.
O ex-diretor do FBI James Comey, demitido por Trump, afirmou ter sido pressionado pelo presidente a livrar o ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn das investigações. Flyn teria fortes ligações com a Rússia e, quando isso foi revelado, também saiu do governo.
Perseguição ao Tea Party
O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama (foto) também enfrentou uma crise interna em 2013 por supostamente perseguir entidades ligadas ao Tea Party, a ala mais radical do Partido Republicano, por meio da Receita Federal norte-americana (Internal Revenue Service, IRS). A IRS foi acusada de dificultar a concessão de isenção de impostos a essas instituições, enquanto era benevolente com entidades democratas.
À época, Obama foi acusado de abusar do poder ao estilo de Nixon. Pesquisa da rede de TV NBC e do Wall Street Journal mostrou que 33% dos americanos acreditavam que Obama sabia da perseguição contra o Tea Party e 55% achavam que o caso colocava em xeque a honestidade e integridade de seu governo. Obama negou participação e demitiu o chefe da IRS, Steven Muller. O caso, apesar de ter produzido uma crise, acabou não tendo consequências mais graves para o presidente. Ainda assim, contribuiu para radicalizar os republicanos no Congresso – que fizeram de tudo para inviabilizar a gestão do democrata até o seu fim, no início deste ano.
O caso Snowden
Este é um caso não de espionagem contra adversários políticos, mas contra aliados internacionais e contra cidadãos norte-americanos, supostamente para prevenir ações terroristas. Ainda assim, levou o governo de Barack Obama a ter de enfrentar crise diplomática e fortes questionamentos internos sobre violação das garantias constitucionais dos americanos.
O ex-técnico da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) Edward Snowden (foto) vazou à imprensa informações sigilosas que mostravam que o governo dos Estados Unidos espionava dirigentes de países aliados e a população americana, por meio de servidores de empresas como Google, Apple e Facebook. Entre os alvos da espionagem estavam, por exemplo, a primeira-ministra alemã Angela Merkel e a então presidente do Brasil Dilma Rousseff.
Obama negou que o serviço secreto tenha sido usado para ouvir conversas de cidadãos norte-americanos. E foi obrigado a prometer não investigar mais os países amigos.
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