O presidente Michel Temer afirmou nesta quarta-feira (15), dia da Proclamação da República, que vê com preocupação “o que está acontecendo no Brasil”, já que o país tem uma “tendência a caminhar para o autoritarismo”. Segundo ele, as ditaduras foram instaladas no país não apenas por causa de golpes de Estado, mas também porque o povo quis.
“Se nós não prestigiarmos certos princípios constitucionais, a nossa tendência é sempre caminhar para o autoritarismo, para uma certa centralização. Nós, o povo brasileiro, temos até, digamos, uma certa tendência para a centralização”, disse.
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Temer citou as ditaduras pelas quais o país passou no século 20: a do Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1945) e a do regime militar (1964-1985). Segundo ele, ditaduras não são instaladas apenas por causa de golpes de Estado, mas porque “o povo também quer”. O presidente defendeu o fortalecimento das instituições e da federação como solução para evitar o autoritarismo.
Itu, berço da República
O discurso foi feito em Itu, interior de São Paulo, para onde o governo foi transferido simbolicamente neste feriado. Itu é conhecida como “berço da República” por ter sediado, em abril de 1873, uma reunião de personalidades paulistas com ideais republicanos, entre elas Prudente de Moraes, que viria a ser o primeiro civil a assumir a Presidência. O evento ficou conhecido como Convenção Republicana de Itu.
A República efetivamente foi instalada em 15 de novembro 1889. E, ironicamente, isso ocorreu num golpe de Estado contra a monarquia.
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“O fato de nós termos transferido o governo (...) para Itu é de uma simbologia muito forte, muito significativa”, afirmou Temer. “Aqui nós inauguramos uma fórmula que, a rigor, deveria impedir os movimentos centralizadores que se deram no histórico que eu fiz. O ideal seria que nunca tivéssemos essa centralização, autoritarismo em certos momentos que houve no passado.”
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Homenagem a amigo
Temer fez o discurso durante a cerimônia de entrega do título de cidadão ituano ao advogado José Eduardo Bandeira de Mello. Amigo de Temer, Bandeira de Mello defendeu a gestão Temer em seu pronunciamento. Segundo ele, “nunca antes nesse país alguém foi tão traído e vítima de tantas ciladas como o presidente”.
Após lembrar da aprovação do novo regime fiscal que estabeleceu um teto aos gastos públicos, Bandeira de Mello considerou que Temer mexeu em “vespeiros e maribondos com venenos poderosos” ao realizar a reforma trabalhista e liquidar um “criadouro de pelegos”, referindo-se ao fim do imposto sindical. “O presidente Temer não está buscando aplausos da população, mas sim o que o país precisa. Quem pensa assim não é um político mas sim um estadista”.
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Temer, ao agradecer, listou medidas de sua gestão, como o teto de gastos e a reforma trabalhista, e relatou “vários eventos que tentaram paralisar o governo”, referência à delação do empresário Joesley Batista e denúncias da Procuradoria-Geral da República contra ele. Segundo o presidente, esses eventos “não paralisaram a gestão” e a “caravana foi passando tranquilamente”.
Grande aparato de segurança e protesto do lado de fora
A cerimônia aconteceu no auditório da prefeitura de Itu. O evento não encheu as 400 cadeiras do auditório.
A segurança do prédio foi reforçada por cerca de 150 homens do Exército, além de guardas municipais e policiais militares, que cercaram o entorno da prefeitura.
Do lado de fora, manifestantes organizados pelo PT e PSol fizeram um protesto gritando “fora Temer” e se manifestando contra a reforma da Previdência.
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