Por que o presidente Michel Temer praticamente abriu mão da reforma da Previdência? Simples. Porque não tem votos. A essa altura da legislatura é difícil que o governo amealhe os 308 votos necessários para aprovar as mudanças previdenciárias. E em dois turnos, já que se trata de uma emenda constitucional (PEC). As denúncias do ex-procurador-geral Rodrigo Janot fizeram um "favor" aos parlamentares ao esvaziarem a discussão e votação da Previdência, um tema tão impopular ainda que extremamente necessário.
Entre os deputados muito se ouviu que era mais fácil "absolver" Temer das acusações de Janot do que aprovar a reforma previdenciária. E que, quanto mais próximo da eleição, mais difícil fica serem votadas e aprovadas essas mudanças.
Soma-se à impopularidade do tema a insatisfação de setores da base do governo, que querem mais espaço na Esplanada dos Ministérios. Nesta terça-feira (7), o líder do PP na Câmara, deputado Arthur Lira (AL), foi curto e grosso ao externar a urgência de uma reforma ministerial: “ou muda ou não vota mais nada aqui”, declarou. Temer sabe disso e, não por acaso, joga a bola para o Congresso.
No dia anterior, Temer deu um depoimento entusiasmado na reunião com líderes que o apoiam na Câmara. Raro vê-lo tão empolgado. Listou o que entende ser os avanços do governo. E, para surpresa geral, fez o tal anúncio sobre a reforma da Previdência. Mais ou menos disse o seguinte: se aprovar bem, se não aprovar, amém! É o que se interpreta quando diz que, derrotada a reforma, não é o governo o perdedor, mas o país. O governo tem nada a perder, foi o que disse.
Em pronunciamento nas redes sociais na noite desta terça, porém, Temer tentou passar a mensagem de que ainda não jogou a toalha, mas deixa claro que a reforma está agora nas mãos da Câmara e do Senado. “Quero transmitir a ideia de que toda minha energia está voltada para concluir a reforma da Previdência”, disse o presidente. Pois bem.
Tirando o palanque de Maia
Mas o que mais está por trás da aparente desistência de Temer? Uma queda de braço com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Desde a votação da segunda denúncia contra Temer, Maia só fala em aprovar essa reforma. Ao mesmo tempo que diz que o governo tem a responsabilidade de colocar voto para aprovar a PEC e que ela é fundamental para o país, por outro lado repete até cansar que os deputados saíram "machucados" da votação que salvou o mandato de Temer e que o governo não tem condições de aprovar reforma. Já que Maia está jogando para a plateia, no entendimento do governo, Temer tratou de dar fim a essa expectativa e tirar discurso e palanque de Maia.
Maia, sabe-se, é mais próximo da equipe econômica que de Temer. Ele e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, logo se encarregaram de reagir ao pessimismo do presidente. Meirelles disse que não vai recuar na reforma e que Temer apenas reconheceu a dificuldade da aprovação. “Não há país em que foi aprovada a reforma da Previdência sem dificuldade. Por outro lado, também foi enfatizado que a reforma não é uma questão de escolha. É fiscal, numérica, e terá de ser feita em algum momento”, disse ele, em São Paulo.
Em Brasília, Maia afirmou que a situação da base “é muito difícil” depois da votação que barrou a segunda denúncia contra Temer e que o governo tem de fazer o último esforço para que avancem as mudanças na aposentadoria. “A base está muito machucada pós-denúncia. Quem votou [com Temer] teve uma atitude muito corajosa, então não dá para cobrar nada neste momento. O governo precisa chamar seus líderes e tentar mais uma conversa mostrando qual o impacto da não realização da reforma já em 2018.”
Então que Maia e Meirelles trabalhem para arrumar os 308 votos. Por que, se depender de Temer, pode ficar como está.
Julgamento do Marco Civil da Internet e PL da IA colocam inovação em tecnologia em risco
Militares acusados de suposto golpe se movem no STF para tentar escapar de Moraes e da PF
Uma inelegibilidade bastante desproporcional
Quando a nostalgia vence a lacração: a volta do “pele-vermelha” à liga do futebol americano
Deixe sua opinião