O presidente Michel Temer viu enfraquecimento político do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao ameaçar o cancelamento da delação premiada da JBS. Mas avalia que as investidas da Procuradoria seguem e que a apresentação de uma segunda denúncia contra ele será inevitável. Foi por telefone que Temer soube da decisão de Janot de investigar indícios de omissão de informações sobre práticas de crimes no acordo da JBS.
Em viagem à China para a reunião da cúpula dos Brics, o presidente recebeu às 6h desta terça (5) 19h de segunda (4) em Brasília a ligação de um assessor que o informou sobre a fala pública do procurador. Em seguida, mais uma ligação do Palácio do Planalto repassou a Temer o resultado do pronunciamento.
Segundo auxiliares, o presidente reforçou a tese de que a delação dos executivos da JBS é “mentirosa” e de que havia “omissão” de dados nos depoimentos prestados pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, que comprometem diretamente o peemedebista.
Joesley afirma que, em conversa gravada no Palácio do Jaburu, relatou a Temer que pagava pelo silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), entre outros crimes, e que recebeu o aval do presidente, que nega qualquer irregularidade.
A assessores, Temer disse que “a verdade vai prevalecer”, mas avaliou que é inevitável que Janot apresente a segunda denúncia contra ele, desta vez por obstrução de Justiça e formação de quadrilha, nos próximos dias, antes que o procurador-geral deixe o cargo, em 17 de setembro.
Repercussão
O Planalto acredita que a repercussão da decisão de Janot sobre a delação da JBS é “ótima” para o governo, pois terá reflexo político direto entre os parlamentares que irão votar o prosseguimento da segunda denúncia contra o presidente na Câmara.
Na opinião de ministros e assessores de Temer, Janot perdeu força e mostrou que a delação da JBS é frágil, o que fortalece os argumentos de Temer entre os deputados.
A tese que será ecoada entre os políticos é a de que a apresentação de uma segunda denúncia contra o presidente é “incoerente” e “açodada”, visto que estaria baseada em um acordo “questionável”.
Como acredita que Janot vai cumprir seu cronograma e apresentar a nova denúncia contra ele, Temer irá, mais uma vez, apostar no espírito de corpo entre os políticos e no discurso de desqualificar os delatores reforçado, inclusive, pela decisão de Janot em investigar possíveis omissões dos executivos da JBS.
Para o presidente, isso servirá de argumento para convencer os deputados a, pela segunda vez, barrar a nova acusação formal contra ele.
O Planalto acredita que, após a apresentação da nova denúncia contra Temer, a Câmara deve levar até duas semanas para votá-la em plenário. Assim que o presidente retornar ao Brasil, na madrugada desta quarta (6), vai se dedicar às conversas com os parlamentares para implementar seu discurso de convencimento.
Estratégia jurídica
Após conversar com assessores políticos, Temer falou ao telefone com seu advogado, Antônio Cláudio Mariz, para discutir sua estratégia jurídica a partir de agora.
O advogado disse que não é possível avançar sem ver a peça que será apresentada por Janot, mas consentiu a ideia de apostar na fragilidade da delação e da narrativa da JBS.
O presidente afirmou que é preciso saber mais sobre os fatos que estão nos áudios, classificados como “gravíssimos” por Janot, antes de se fazer um diagnóstico mais preciso e questionar a validade das provas contra ele.
O procurador-geral declarou que, mesmo que o acordo da JBS seja rescindido, as provas produzidas até aqui continuarão válidas, inclusive as que ele diz que existem contra Temer.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”
Deixe sua opinião