O primeiro e último discurso do deputado federal Francisco Everardo Oliveira Silva (PR-SP), o Tiririca, pode ser encarado por muitos como mais uma derrota do brasileiro comum diante da política tradicional. Não é. Tiririca topou entrar no jogo e deveria estar tão decepcionado consigo mesmo quanto disse estar com seus colegas parlamentares.
Há dois meses, o repórter da Gazeta do Povo em Brasília Evandro Éboli acompanhou a rotina de Tiririca na Câmara. O diagnóstico foi o de que ele vai sair do cargo do jeito que entrou, como uma atração para fãs e curiosos. Durante sete anos, o parlamentar havia tomado a palavra três vezes – sendo uma para votar a favor do impeachment de Dilma Rousseff e outra para votar a favor da investigação contra Michel Temer.
Agora pediu pela primeira vez para fazer um discurso, no qual ensaiou uma crítica mais forte. Falou do bom salário, do apartamento funcional, do carro à disposição e da carteiradas que viu os colegas darem. Mas prometeu que não falaria mal de ninguém. Se não o fez em sete anos, por que faria agora?
“O que eu vi nos sete anos aqui, eu saio totalmente com vergonha. Não vou generalizar, não são todos. Tem gente boa aqui dentro”, disse. Sobre seu trabalho, a autoavaliação foi das melhores: pouco faltou, votou como quer o povo e não fez nada de errado.
O parlamentar, no entanto, não lembrou como seus milhões de votos ajudaram a eleger, em 2010, o mensaleiro Valdemar Costa Neto, do PR, depois condenado por corrupção. Nem se defendeu da acusação de ter usado verba parlamentar para ir a shows. Também não defendeu algum projeto que ainda gostaria de ver aprovado – em sua vida pública, só um projeto do deputado, sobre a profissão de palhaço, virou lei.
A trajetória de Tiririca na Câmara e seu único discurso ficaram muito longe de engrandecer nossa vida política. Eles nos servem para lembrar que o voto de protesto não resolve problemas e não preenchem vácuos no debate público. Servem, no máximo, para levar algumas piadas ao plenário.
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