Dois mandatos depois, com votações que superaram 2,3 milhões de votos, o deputado Francisco Everardo Oliveira Silva (PR-SP), o Tiririca, está deixando a vida pública. Com certa melancolia e se despedindo da Câmara como entrou: como uma atração da Casa. Ele já anunciou que cumpre seu último mandato e irá abandonar a política, universo no qual entrou acreditando que "pior que tá não fica". Não tentará um terceiro e garantido mandato.
Um dos mais assíduos no plenário, Tiririca, porém, está literalmente à margem do que acontece ali. O deputado, já há algum tempo, parece ter sublimado do mandato. Ao lado de uma assessora de imprensa que segue seus passos e vigia quem se aproxima para falar com ele, Tiririca nem sequer senta nas poltronas destinadas aos deputados. Ele fica num assento lateral do plenário, onde se acomodam assessores e curiosos. As pessoas até se espantam quando dão de frente com ele ali.
Tiririca parece cansado, fatigado e arrependido de estar ali. Presente, mas ausente. Durante duas semanas a Gazeta do Povo acompanhou seu comportamento, atuação e abordagem dos fãs, porque não dizer. Prefeitos do interior do país que compareceram a um encontro em Brasília foram levados pelos deputados de suas regiões para visitar a Câmara (veja vídeo abaixo). Quando avistavam Tiririca, era uma festa: fotos, selfies, vídeos e piadas. Muitas piadas. Picantes quase todas.
Tiririca se assumiu piadista na Câmara. Durante as sessões, lá do seu canto, solta suas blagues. E todo mundo ri.
Num raro momento que deixou seu refúgio no plenário, há duas semanas, durante a votação da reforma eleitoral, Tiririca foi para o meio do plenário. Mas não foi discursar. Foi fazer uma esquete de piada. Havia acabado de ocorrer um ruidoso bate-boca entre os deputados Júlio Delgado (PSB-MG) e Carlos Marun (PMDB-MS) sobre o tema. Tiririca encenou que estava fingindo uma discussão com um outro colega e, com dedo em riste, gritava com o interlocutor. E chamava a atenção. Quando percebiam quem era, a gargalhada era geral.
Nos dois mandatos, segundo os registros da Câmara, Tiririca usou a palavra no plenário apenas três vezes. Num deles para anunciar seu voto a favor do impeachment de Dilma: "senhor presidente, pelo meu país, meu voto é sim!". E seguem os gritos de quem estava a seu lado: "Tiririca! Tiririca! Tiririca!".
Em outro, votou a favor de o STF investigar Temer, na primeira denúncia do Ministério Público Federal: "senhor presidente, eu vim do povo e estou com o povo contra a corrupção. O meu voto é não". Sua terceira fala foi orientar o partido a votar a favor de uma alteração na lei para facilitar a adoção de crianças.
É um artista!
Sempre solícito e atencioso, Tiririca parece não se cansar das abordagens e pedidos de fotos e autógrafos. É um artista. Mas ser político não lhe encheu os olhos. A política não vai lhe fazer falta. Para a turma de seu partido, que ele ajuda a eleger com suas votações estrondosas, sim. Vão chorar a ausência do palhaço.
Procurado para falar com a Gazeta do Povo, a assessoria de imprensa de Tiririca informou que ele não está concedendo entrevistas neste momento.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura