“Mas quem é aquele homem correndo entre as mesas pra deixar logo o salão?”, repara quem o viu já de costas, quase que na porta. É Dias Toffoli evitando ser abordado por jornalistas depois de marcar presença em uma cerimônia que reuniu juízes federais em Brasília. Sentado com sua equipe em uma mesa de destaque, Toffoli é a prova de que “todo mundo gosta de ser amigo do rei”. Ele saiu em disparada depois de ter provado do que um daqueles regabofes da alta corte tem a oferecer, de quitutes a cumprimentos efusivos. Mas sem brechas para entrevistas, evitando comentários sobre como ficará a prisão de quem está enrolado com a Lava Jato. Assunto para quem tem poder na Justiça e todos os criminosos do país - que também são alcançados pela regra.
Depois de ser indicado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2009, ao Supremo Tribunal Federal, ao longo de sua trajetória, Toffoli conseguiu se despir de alguns rótulos como o de “ministro com pouco saber jurídico”, e vive atualmente o céu e inferno de chegar à presidência da suprema corte. Todo mundo quer tecer algumas palavras de apoio a Toffoli, que está predestinado a mudar a rota do STF quanto à execução de prisões no país e, ao mesmo tempo, acalmar os ânimos de ministros que torcem o nariz para a gestão de Cármen Lúcia.
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Na escadinha do Direito, o STF é o mais alto degrau da justiça brasileira. Também chamado de quarta ou última instância. Guiado por Dias Toffoli, a Suprema Corte pode mudar o entendimento e só prender quem foi condenado pela terceira e não pela segunda instância, ou seja, quem tiver condenação no Superior Tribunal de Justiça (STJ). É como abrir a porta da cela em que Lula está preso ou a sala da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. O STJ já se manifestou várias vezes no caso dele mas sem ir a fundo nas razões que o levaram a ser processado. Sem isso, não dá pra considerar o ex-presidente condenado na terceira instância.
“Ele é corajoso, ousado, e não está preocupado com desafiar a opinião pública”, avaliam nos corredores da Justiça os que acompanham Toffoli desde a Advocacia Geral da União, quando o magistrado foi advogado do governo do PT. Já tendo passado pela equipe de defesa do próprio partido e da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
A presidência no Tribunal Superior Eleitoral lhe serviu como um test drive, entre 2014 e 2016. Marcou o seu distanciamento do PT e aproximação com senhores do Direito de todas as vertentes partidárias. Muito se deve à interação com o ministro Gilmar Mendes, seu vizinho de cadeira no plenário do Supremo Tribunal Federal. O perfil negociador de Toffoli entrou em consonância com quem aparentava ser um opositor. Hoje, muito mais unidos no discurso do Estado menor e em seguir a lei ao pé da letra, sem margem para interpretações tidas modernas - como a prisão a qualquer custo de quem carrega a estrela da corrupção.
Provar que sua posição não reflete uma dívida pessoal com Lula é o desafio do qual Toffoli não poderá correr.
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