Na semana em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) inicia uma caravana de ônibus pelos nove estados do Nordeste, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), intensificou sua agenda na região. O prefeito paulistano, que foi recebido sob protestos e atingido por ovos em Salvador na semana passada, passou por Natal nesta quarta-feira (15) e tem eventos marcados em Fortaleza, Recife e Campina Grande (PB).
O Nordeste é o principal reduto eleitoral de Lula e sua principal aposta para alavancar a votação em 2018, caso seja candidato à Presidência. O petista é aliado de oito dos nove governadores da região.
A agenda de Doria inclui o recebimento de títulos de cidadania e encontros com entidades empresariais. Mas também tem sido turbinada pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais), entidade fundada pelo próprio Doria que tem unidades em 17 estados.
Na capital potiguar, onde recebeu o título de cidadão natalense, o prefeito negou estar em campanha e disse que “não é hora” de falar em eleições. “É cedo ainda para se falar de candidatura, nós estamos ainda na metade do ano”.
Em Recife e Fortaleza, capitais que o prefeito vai visitar na sexta-feira (18), Doria será homenageado pelas seccionais locais do Lide. “Achamos que a homenagem era oportuna já que o prefeito João Doria, em suas andanças pelo país, vem fazendo um esforço para nacionalizar o seu nome e a sua mensagem”, afirma o presidente do Lide Pernambuco, Drayton Nejaim Filho.
O empresário, contudo, nega qualquer caráter eleitoral na visita. E diz que a entidade já recebeu nomes como a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o deputado estadual Edílson Silva (PSOL) para debates políticos.
Doria ainda participará de um encontro com empresários do comércio em Campina Grande (PB) no 31 de agosto. Em setembro, vai a Maceió a convite do prefeito Rui Palmeira (PSDB). A expectativa é que as visitas às cidades nordestinas sejam marcadas por protestos, como aconteceu em Salvador e em Natal.
Nesta quarta, Doria foi recebido por um grupo de 50 manifestantes na capital potiguar, que criticaram a concessão do título de cidadão ao tucano.
Os opositores também lembraram que a honraria a Doria foi proposta pelo vereador Raniere Barbosa (PDT), afastado do cargo há 23 dias por determinação da Justiça. Ele é investigado por desvio de R$ 22 milhões em recursos da prefeitura.
Para evitar um novo episódio de arremesso de ovos, o governo potiguar montou um esquema de segurança que incluiu 80 policiais militares. O ato aconteceu em um teatro dentro de um shopping, com acesso restrito ao público.
Honraria rejeitada
Depois de receber títulos de cidadão em Salvador e Natal, Doria não teve a mesma sorte em Teresina, capital nordestina que é comandada por tucanos há 20 anos. Na terça-feira (15), a Câmara Municipal rejeitou o projeto para concessão do título de cidadão teresinense para o prefeito paulistano. A cidade é governada pelo prefeito Firmino Filho (PSDB), que tem maioria na Câmara.
A proposta precisava do apoio de pelo menos 20 dos 29 vereadores, mas foi referendada por apenas 18. Oito vereadores votaram contra e três não compareceram à sessão. A mesma Câmara de Teresina, em 2013, aprovou por unanimidade o título de cidadão ao ex-presidente Lula, que recebeu a comenda em 2015.
O vereador Luis André de Arruda (PSL) diz que propôs o título a Doria pelos “revelantes serviços prestados à capital” piauiense. Como exemplo, ele citou um acordo de parceria com a gestão do prefeito Firmino Filho. “Fiz o que pude para aprovação, mas não deu”, diz vereador, que promete reapresentar a proposta de honraria no próximo ano.
Já o vereador Edilberto Borges (PT) diz que Doria nunca contribuiu para a cidade e não merece a homenagem: “Ele se apresenta como a novidade, como se fosse o Sassá Mutema, o Salvador da Pátria [se referindo a novela da Rede Globo, de 1989], mas fala do Nordeste de forma pejorativa”.
Até mesmo a líder da maioria na Câmara, vereadora Graça Amorim (PMB), votou contra a concessão do título de cidadão. Antes do voto, ela justificou a posição criticando o prefeito paulistano.
“Aquela foto truculenta não sai de minha cabeça”, disse, numa referência à ação da Prefeitura de São Paulo em que jatos de água molharam pertences dos moradores de rua.
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