| Foto: Divulgação/Facebook

A equipe de comunicação de Michel Temer tentou, na noite de domingo (15), adicionar uma camada de ternura à figura do presidente, publicando no Facebook uma foto de Temer com seu cachorro Thor. A foto acabou virando meme e foi ironizada nas redes sociais pela falta de expressão no rosto do presidente e apatia do cão que recebia o afago. Mas com a ação, os responsáveis pela comunicação do presidente com menor aprovação da história tentavam incorporar à figura de Temer uma simbologia tradicional e largamente usada nas artes: a da lealdade e fidelidade. 

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O momento escolhido para trazer Thor à comunicação oficial foi planejado: dois dias depois, 39 deputados na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara votaram pelo arquivamento de denúncia contra Temer. No dia 25 de outubro, os 513 deputados terão de chancelar essa decisão no plenário da Casa. Temer precisa transmitir lealdade e fidelidade aos parlamentares, adjetivos simbolizados pelo cão. 

O Palácio do Planalto informou à Gazeta do Povo que Thor é um cão da raça Golden Retriever e está com a família do presidente (na época, vice-presidente) desde 2013. Ele veio morar em Brasília, em julho de 2016, quando Temer – agora já presidente da República, trouxe a primeira-dama Marcela e o filho Michelzinho para a capital. 

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Thor não é o único cachorro dos Temer. Ele tem a companhia de Picoly, da raça Jack Russell, que foi incorporado à família quando Temer já era o presidente do país, em setembro de 2016. Segundo o Planalto, tanto Thor como Picoly foram batizados por Michelzinho. 

Outros detalhes sobre a rotina dos “primeiros-cães” da República não foram fornecidos pelo Palácio do Planalto, que informou a reportagem que relatar a rotina dos cãezinhos poderia revelar a rotina do próprio Temer. 

Tradição entre presidentes e família real britânica

A estratégia de mostrar cães e outros animais junto aos presidentes da República e de reis e rainhas é adotada há muitos anos. Os bichinhos dão uma camada de doçura aos líderes e são um dos elementos utilizados para compor a imagem desses homens e mulheres públicos.

Na história da democracia norte-americana, os “primeiros-cachorros” estão presentes na comunicação oficial da Casa Branca de forma constante desde 1921, no mandato do 29º presidente, Warren Harding. Mas a fama dos cachorros dos presidentes americanos começa junto com a democracia daquele país. Em 1789, o primeiro presidente dos EUA, George Washington tinha vários cachorros e outros animais, como papagaio, burro e cavalos. 

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Desde então, todos os presidentes dos EUA têm pelo menos um cachorro, utilizado em momentos especiais na comunicação oficial. Barack Obama tinha Bo e Sunny, da raça Cão d’Água Português. O primeiro a quebrar essa tradição é Donald Trump, o 45º presidente daquele país – que em poucos meses no cargo já é marcado por sua frieza e antipatia. 

A família Real britânica também associa cães à imagem que projeta para os súditos. A rainha Elizabeth II é fã da raça Corgi e já teve mais de 30 exemplares. Desde o século 17, os retratos de integrantes da realeza britânica frequentemente incluem seus cães, associando-os aos símbolos de lealdade e fidelidade. 

Se a inclusão dos pets pode dar uma camada de suavidade à imagem dura dos presidentes e reis, também pode ter um efeito negativo. Um estudo publicado em 2012 pela universidade de George Washington, nos EUA, aponta que aparecer com cachorros pode ajudar os presidentes em momentos de guerra e escândalos, mas pode ser prejudicial para a opinião pública em momentos de crise econômica. Segundo o estudo, fotos de presidentes brincando com seus cães sugerem que o líder tem tempo e dinheiro sobrando para se dedicar a coisas frívolas. 

E no Brasil não é diferente

No Brasil, apenas mais recentemente e já no pós-ditadura a imagem suave dos pets surge no entorno das autoridades. No governo de Fernando Collor o então ministro do Trabalho Antonio Rogério Magri trouxe para os noticiários sua cachorra Orca, da raça Dog Alemão. Mas o incidente ficou marcado pelo lado negativo: para explicar que tinha usado carro oficial para levar o animal de 90 quilos ao veterinário, o ministro lançou a frase “cachorro também é ser humano”. A declaração pegou mal, em meio a um governo em crise. 

O ex-presidente Lula e a ex-primeira-dama Marisa Letícia contavam com a companhia da Fox Terrier Michelle. Em 2005, com a morte da cadelinha aos 15 anos, o presidente trouxe para a residência oficial outra cachorra da mesma raça, que foi batizada também como Michelle. 

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Dilma Rousseff também teve seu cachorro-presidencial. Nego, um labrador preto, foi presenteado a Dilma pelo ex-ministro José Dirceu, quando ela o substituiu na Casa Civil em 2005. Nego foi companheiro de Dilma nas caminhadas pelo Lago Sul e chegou inclusive a aparecer na propaganda eleitoral da presidente em 2010. No programa, ela jogava uma vareta para Nego na beira de um lago, também como uma tentativa de campanha para suavizar sua imagem de gerentona. 

 

Mas o “cachorro” que ficou mais famoso foi aquele citado por Dilma em um discurso em 12 de outubro de 2013. A frase confusa da presidente citava um cão “oculto” e acabou virando um meme para marcar o pensamento truncado de Dilma. “Se hoje é o Dia das Crianças, ontem eu disse que criança... o dia da criança é dia da mãe, do pai e das professoras, mas também é o dia dos animais. Sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta, que é um cachorro atrás, o que é algo muito importante”, afirmou Dilma, em evento em Porto Alegre.