Entre indicações, desenhos de estratégias, estudos da estrutura governamental, e também brigas internas, recuos e redesenhos, a equipe de transição de Jair Bolsonaro completa um mês de trabalho no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, no próximo dia 6. A menos de um mês da posse, em 1º de janeiro de 2019, começa a ficar mais clara a forma como o presidente eleito realmente pretende governar: cercado dos prometidos técnicos e do esperado núcleo militar, mas também de nomes com origem política, uma das concessões que ele precisou fazer ao longo das últimas semanas.
Até agora são 20 ministros indicados e ainda há ao menos três vagas em aberto. Bolsonaro passou a campanha defendendo o enxugamento da máquina pública e falando que teria em seu governo no máximo 15 ministérios.
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Os primeiros nomes anunciados já estavam previstos: Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Paulo Guedes (Economia), Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), e até Sergio Moro (Justiça), que embora não estivesse com ele na campanha, era uma vontade demonstrada há tempos. Aos poucos, ele definiu outras pastas. E deixou claros alguns cenários.
Um deles: Paulo Guedes e Sergio Moro têm independência para atuar. Compuseram suas equipes como bem entenderam, estão formatando suas respectivas pastas e adjacências como lhes é de preferência, assim como os indicados. "É bom que saibam que serão também cobrados por isso", teria afirmado Onyx, o chefe da Casa Civil, o ministério que coordena os demais, a um aliado durante a última semana.
Outro cenário: será preciso conversar com a classe política. Bolsonaro decidiu receber as bancadas da Câmara. Tem enviado emissários para abrir portas de diálogo com partidos.
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Mais uma conclusão: “Não pode ser rígido, não negociar. É preciso ouvir, e ouvir, e ouvir. Impor sua vontade, se rebelar, não vai adiantar. Ele se acalmou bastante nessas últimas semanas. Parece estar entendendo o que é governar, o que é um governo. Todos cobram, nem todos fazem”, disse um ministro palaciano que acompanha de perto a transição e esteve com Bolsonaro na última semana. “Ser presidente é gerenciar. É gerenciar crises, vontades, projetos, poderes. Gerenciar a si mesmo. Exige controle, mas especialmente autocontrole”, completou.
Disputas internas
Nem bem a primeira semana de trabalhos da transição chegava ao fim e o presidente eleito já era acionado para resolver uma desavença. Era Gustavo Bebianno, ex-presidente de seu partido, o PSL, que havia reclamado ao general Hamilton Mourão, o vice-presidente eleito, dos poderes excessivos de Onyx. Foi criado então um cargo extra na equipe, a Secretaria-Geral.
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Duas semanas depois era Mourão quem reclamava de Onyx. Dessa vez o ouvinte foi o general Augusto Heleno. E mais uma vez Bolsonaro interveio. Agora, na formação ministerial. Desintegrou a Casa Civil, que no desenho inicial incorporaria a atual Secretaria do Governo – a pasta fica com o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, que tomou para si burocracias que estariam com o colega, assim diminuindo sua ascendência.
O vice-presidente ainda não ficou de todo satisfeito. Ressente-se de não ter "grandes funções" no governo. Em seu cargo, lhe cabe substituir o presidente da República em eventos sempre que este não puder comparecer. Extraoficialmente, o general tem assumido uma série de outros papéis, como dar entrevistas a veículos internacionais.
Saídas
Uma dessas brigas internas na equipe, inclusive, culminou na saída de um dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro, da equipe. Vereador licenciado da Câmara Municipal do Rio, ele é considerado o responsável pelas redes sociais do pai e era cotado para a Secretaria de Comunicação da Presidência. Teria se desentendido com Bebianno, futuro ministro da Secretaria-Geral, que cuida justamente da parte de comunicação.
No dia que seu nome foi confirmado, o ex-presidente do PSL anunciou a saída de Carlos, o que foi chamado por ele de "um afago falso". O vereador sempre achou que Bebianno, ao se aproximar do pai, o fez por interesses próprios e levou junto pessoas com os mesmos propósitos, incluindo nesse meio pessoas como o ministro Onyx Lorenzoni.
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Uma outra crise, de menores proporções, ocorreu mais no início da campanha com o economista Marcos Cintra, anunciado na última semana como Secretário da Receita Federal. Ele escreveu um artigo em que rebateu a proposta de criar a CPMF, imposto que incidiu sobre todas as transações bancárias entre 1997 e 2007. Ao saber disso, Jair Bolsonaro ameaçou demiti-lo.
“A decisão que eu tomei, quem criticar qualquer um de nós publicamente, eu corto a cabeça”, disse o presidente eleito, no início do mês, em entrevista à Band.
O que ainda não foi anunciado?
Além de ministérios, o presidente precisa definir, até o fim de dezembro, nomes para agências reguladoras, autarquias, fundações e 16 estatais. Entre esses cargos, 24 mil poderão ser preenchidos por indicados do governo. O futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, prometeu redução drástica nessas nomeações, chegando a falar em 20 mil a menos.
Jair Bolsonaro garante que não vai aplicar a lógica do “toma-lá-dá-cá”, da “barganha” em seu governo, com indicações políticas. Contudo, nos bastidores, já se fala que muitos cargos de segundo e terceiro escalão estão sendo ofertados a senadores em troca de apoio no Senado.
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Em outra frente, para além da política, a ideia é que a transição sirva para que o presidente eleito conheça minúcias do governo, como a agenda de compromissos e eventos assumidos pelo presidente anterior para os próximos 120 dias depois de sua posse.
Para isso, a equipe tem acesso a um sistema entre ministérios, o "Governa", em que constam todos os detalhes de cada pasta e plano orçamentário para 2019. Assim, os funcionários que trabalham no CCBB têm feito os relatórios semanais que levam a Onyx e, em seguida, são apresentados a Bolsonaro.
A equipe de Bolsonaro afirmou que vai prestar contas do processo de transição em um novo site chamado "Muda de verdade", ainda não lançado. A estratégia de comunicação utilizada até o momento, com prioridade para as redes sociais, está mantida, como a rotina de anúncio das decisões no perfil no Twitter.
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