Além das cores das bandeiras tarifárias, o consumidor de energia elétrica terá de aprender sobre mais um jargão colorido da conta de luz, a Tarifa Branca. Essa nova modalidade tarifária promete reduzir a conta de luz de alguns clientes, a depender da hora do dia que consomem mais. Porém, é preciso atenção e cautela: em alguns casos, a conta de luz pode ser até cinco vezes mais alta dentro da tarifa branca em comparação à tarifa convencional, mesmo consumindo a mesma quantidade de eletricidade.
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Essa estimativa, divulgada por técnicos das distribuidoras de energia elétrica, considera uma unidade consumidora que aderiu à tarifa branca, mas tem a maior parte de seu consumo no período mais caro da energia elétrica, das 18h às 20h59. Se a maior parte da energia for consumida no período intermediário (das 17h às 17h59 e das 21h00 às 21h59), a conta de luz de quem escolher entrar no modelo de tarifa branca pode ser até três vezes maior do que o apurado na tarifa convencional.
No modelo tradicional, os consumidores de eletricidade são cobrados conforme a quantidade de energia consumida, sem diferenciação de preço entre os horários desse consumo. Na tarifa branca, que entrou em vigor neste mês, o valor de cada kWh (quilowatt hora) consumido varia, sendo mais caro nos momentos de maior demanda da rede, o chamado horário de ponta.
Por isso, com a tarifa branca, para ter o prêmio pagando menos na conta será preciso evitar gastar nesse horário. Por outro lado, o valor pago dentro da tarifa branca pela eletricidade consumida no horário de pico será bem maior do que o praticado para quem seguir na tarifa convencional, quase como uma espécie de multa.
Simulações mostram que prejuízo pode ser o dobro do que a economia proporcionada
Em simulações de perfis reais de consumo feitas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a economia proporcionada com a adesão à tarifa branca fica entre 3% e 7%. Porém, nos casos em que o perfil de consumo é alto no horário de pico, o prejuízo com a adesão ao horário de ponta pode ser o dobro do que a economia que eles esperariam ter. Nos cenários divulgados pela Aneel, a tarifa branca pode aumentar a conta de luz entre 6% e 14% para quem consumir mais durante a ponta.
Algumas distribuidoras disponibilizaram simuladores de tarifa para quem pensa em escolher migrar para a tarifa branca, como a Copel (Paraná). Na ferramenta, é possível listar todos os equipamentos e lâmpadas que são ligados na sua casa ou comércio, em qual hora do dia eles são ligados, e verificar quanto será sua conta de luz (descontando as bandeiras tarifárias) em caso de migração para a tarifa branca.
Outra opção é o aplicativo gratuito Oráculuz, que também ajuda o usuário a conhecer ações de eficiência energética ou economia com a adoção de geração solar fotovoltaica.
A adoção da tarifa branca é opcional e pode ser adotada por consumidores com gasto médio mensal acima de 500 kWh (casas grandes e comércios), que equivalem a 4% de todos os consumidores do país, ou 4 milhões de unidades. A partir de janeiro de 2019, as unidades que consomem em média 250 kWh médios mensais poderão migrar e em 2020 qualquer consumidor poderá pedir a tarifa branca.
Seu principal objetivo é estimular a redução do consumo de energia nos horários de maior consumo, quando as pessoas chegam em casa e ligam luzes e equipamentos, para desafogar as redes de transmissão e reduzir a necessidade de ampliação dessas redes.
A comercializadora Electra Energy avalia que, num primeiro momento, a adesão de consumidores à nova modalidade tarifária não será expressiva. A empresa, que usa em torno de 3,3 mil kWh por mês, considera a possibilidade de migrar o próprio escritório, em Curitiba, para o novo sistema de tarifas, mas ainda quer aguardar e avaliar mais antes de decidir.
Distribuidoras ameaçam aumentar tarifas dos outros consumidores
A tarifa branca desagradou às distribuidoras de energia elétrica, que já afirmam que com as perdas de receitas, será preciso pedir aumentos antecipados das tarifas de todos os seus clientes para compensar essas reduções.
O presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Nelson Leite, elogia a criação do novo modelo, mas critica ele ter opcional. Na visão da Abradee, migrarão no primeiro momento os clientes que já têm o perfil de consumo fora do horário de pico.
Como esses clientes não terão de reduzir sua demanda ou deslocar seu consumo para as horas de menor tráfego nas redes elétricas, a migração deles não trará redução do uso da rede – o que poderia representar benefícios para as distribuidoras e o restante dos consumidores -, e apenas terão uma conta de luz menor, gerando prejuízos para as distribuidoras.
A consultoria TR Soluções, especializada em análise tarifária elétrica, analisou os números de cinco empresas (Light, AES Eletropaulo, Coelba, Cemig e Celesc), que resultariam em redução do faturamento dessas empresas entre 1,3% a 3,01%. “Nossa preocupação diz respeito apenas à forma de implantação da medida: funcionaria melhor se isso fosse feito de forma gradual, mas de maneira mandatória e não opcional”, avalia o sócio-diretor da TR Soluções, Paulo Steele.
Custo de medidores de energia novos serão rateados por todos os clientes
Outra preocupação da Abradee e seus associados é o curto prazo que as empresas terão para realizar a migração de cada unidade, o que depende da troca dos medidores de energia elétrica. A Aneel definiu que as distribuidoras terão 30 dias após a solicitação de seu cliente para trocar o medidor de energia e começar a tarifa-lo pelo novo modelo.
A distribuidora irá arcar com o custo do novo medidor, e não o cliente. O que é uma boa medida para quem pensa em adotar a tarifa branca é uma má notícia para o restante dos consumidores.
O custo total desses equipamentos deverá ser repassado à conta de luz de todos os consumidores. Isso porque, pelas regras vigentes, as empresas de energia elétrica têm aumentos de suas tarifas anualmente autorizados pela agência reguladora com base em seus ativos. E tais medidores irão incorporar esse conjunto de ativos, sendo considerados no aumento das tarifas do ano seguinte de todos os consumidores.
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