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Nos bastidores da reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), esquerda e direita enfrentaram traições. | Valter Campanato/Agência Brasil
Nos bastidores da reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), esquerda e direita enfrentaram traições.| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na disputa pela presidência da Câmara, nesta sexta-feira (1º) não foi uma surpresa. O candidato à reeleição detinha um bom grau de favoritismo desde que apresentou seu nome na disputa, e a condição favorável foi crescendo à medida em que ele foi fechando acordos ao longo das últimas semanas.

A leitura completa dos resultados das eleições, entretanto, dá abertura a diversas análises que traduzem com precisão o cenário complexo da Câmara e a realidade difícil com a qual o presidente Jair Bolsonaro terá que lidar. A começar pela votação dos demais candidatos. Marcelo Freixo (PSOL-RJ), o terceiro colocado, teve 50 votos. Ele foi lançado como candidato de um bloco que continha, além do seu partido, o PT e a Rede. Como o PT tem, isoladamente, 55 candidatos, os números evidenciam que a orientação partidária não foi seguida à risca.

No começo das especulações sobre a eleição para a presidência, o PT havia sinalizado apoio a Rodrigo Maia, mas depois do apoio do PSL de Bolsonaro ao democrata, o partido de Lula anunciou publicamente que votaria em outro nome - o que não se deu na totalidade de seus parlamentares.

JHC (PSB-AL), membro de uma bancada com 32 deputados, somou 30 votos, o que também mostra uma adesão não-integral de sua legenda à sua candidatura. Já Marcel van Hattem (Novo-RS) surpreendeu ao receber 23 votos. Seu partido elegeu somente oito deputados federais. Fora de sua sigla, o único apoio público recebido por ele havia sido o de Kim Kataguiri (DEM-SP).

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A pluralidade na composição da Mesa Diretora da Câmara também é um ponto de destaque. MDB, PSDB e PT, os três principais partidos do Brasil, os maiores no número de filiados e que comandaram a Presidência da República entre 1995 e 2018, estão excluídos. Além de Rodrigo Maia, os outros membros são Marcos Pereira (PRB-SP), o primeiro vice-presidente, Luciano Bivar (PSL-PE), o segundo vice, e os quatro secretários, em ordem: Soraya Santos (PR-RJ), Mário Heringer (PDT-MG), Fábio Faria (PSD-RN) e André Fufuca (PP-MA).

MDB, PT e PSDB conseguiram apenas emplacar suplentes – respectivamente, Isnaldo Bulhões (AL), Assis Carvalho (PI) e Geovânia de Sá (SC).

Todo o cenário mostra que a Câmara tende a ser ainda mais fragmentada do que em seu histórico recente, e que a meta de Bolsonaro de negociar com o Legislativo por meio das chamadas “bancadas temáticas” poderá ser uma tarefa árdua.

Esquerda e direita em conflito

As idas e vindas da votação abriram espaço para disputas internas na direita e na esquerda.

No campo direitista, o tumulto se deu com a apresentação da candidatura de Charlles Evangelista (PSL-MG) ao cargo de segundo vice-presidente da Câmara. Como o posto cabia ao PSL, o esperado era a consagração de Luciano Bivar (PE), fundador da legenda. Mas o mineiro - deputado de primeira legislatura - insistiu em seu nome e levou a disputa a um improvável segundo turno.

Até a divulgação dos votos, com a vitória de Bivar, o clima era de apreensão no PSL. Os correligionários de Bolsonaro temiam que os opositores do presidente da República endossassem a candidatura de Evangelista apenas para carimbar uma imagem de derrota no PSL, logo no primeiro dia da nova legislatura. De certo modo, foi uma ação semelhante à executada por centro e direita em 2005, quando um desconhecido Severino Cavalcanti (PP-PE) venceu a eleição para a Presidência da Câmara.

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Mas após a vitória de Bivar, o PSL tratou de botar panos quentes e de dizer que Evangelista não sofrerá retaliações no partido. “Somos um partido que decide as coisas democraticamente, no voto. Ele colocou seu nome, perdeu, e segue o jogo”, disse o líder da legenda, Delegado Waldir (GO).

Já na esquerda a confusão se deu pela não adesão de PDT e PCdoB ao bloco de PT, PSB, Rede e PSOL. Os comunistas, que apoiaram Rodrigo Maia, defenderam que o voto no democrata garantiria mais espaço à legenda. Já os outros - especialmente o PSOL - alegavam que não poderiam estar ao lado de um candidato chancelado pelo PSL de Bolsonaro.

A disputa se tornou pública após um inflamado discurso do líder do PCdoB, Orlando Silva (SP), que criticou a postura de PT e PSOL, e ficou ainda mais quente quando o PCdoB divulgou uma nota dizendo que o partido “exigia respeito” e que ficara surpreso com as críticas do PSOL.

Santinhos, panfletos e campanha convencional

A vitória de Soraya Santos (PR-RJ) para a primeira secretaria da Câmara traduziu um triunfo não apenas da parlamentar, mas também de um modo efusivo de fazer campanha dentro do Congresso.

Ao longo de toda a sexta-feira (1º), cabos eleitorais da deputada, uniformizados, gritavam “Soraya! Soraya!” de modo insistente. Não estavam sós - apoiadores de Fábio Ramalho, Rodrigo Maia e Marcos Pereira fizeram o mesmo. Um agito um tanto inusitado para um universo de apenas 513 eleitores.

Outro desdobramento do triunfo de Soraya Santos é a garantia de ao menos uma mulher na mesa diretora da Câmara. Ela foi a única deputada que se colocou na disputa dos principais cargos. Ao longo de toda a sua história, a Câmara jamais teve uma mulher na presidência.

Outros políticos

Políticos com mandato em outros cargos – e mesmo sem mandato, derrotados na eleição de 2018 – marcaram expressiva presença no Congresso.

Os governadores Ronaldo Caiado (DEM-GO) e João Doria (PSDB-SP), os presidentes de partido José Maria Eymael (DC), Pastor Everaldo (PSC) e Juliano Medeiros (PSOL) e os ex-deputados Alfredo Kaefer (PP-PR), Alexandre Baldy (Podemos-GO) e Carlos Manato (PSL-ES) estiveram na cerimônia. Manato, aliás, chegou até a ocupar um lugar na mesa durante a condução dos trabalhos. Ele foi nomeado por Jair Bolsonaro como secretário para a Câmara e sua mulher, Soraya Manato (PSL-ES), foi eleita deputada federal.

O prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, também esteve no evento. Ele foi deputado federal por 10 anos, e celebrou a volta ao parlamento: “eu adoro isso aqui”.

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