No dia 10 de abril serão ‘celebrados’ 100 dias do governo Bolsonaro. Neste período, o presidente da República apresentou uma equipe técnica de ministros, e teve como grandes referências os pacotes Anticrime e a Reforma da Previdência, que está na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
Comparado aos presidentes mais populares desde a redemocratização - Lula, FHC e Collor -, quem fez mais? O assunto esteve em pauta no podcast República.
Mediado pelo jornalista Giorgio Dal Molin, o podcast teve a participação dos jornalistas Lúcio Vaz, correspondente e blogueiro da Gazeta do Povo em Brasília, e do professor doutor José Guilherme Vieira, ex-coordenador e atual professor do curso de Mestrado em Desenvolvimento Econômico da Universidade Federal do Paraná. Acompanhe e veja um resumo sobre os 100 dias do governo Bolsonaro e seus antecessores logo abaixo.
100 dias do Governo Bolsonaro
O professor José Guilherme Vieira avalia a opção pela pauta da reforma da Previdência logo no início do mandato, ao invés, por exemplo, de uma reforma tributária:
“Temos um histórico negativo porque nossa legislação tributária é muito complexa. É muito difícil conseguir um consenso com os governadores, pois isso implicaria por mexer com tributos nos estados. Talvez o ministro Paulo Guedes tenha enxergado a reforma da Previdência como menos difícil”, avalia o doutor da UFPR.
Entre outros temas, como as viagens do presidente, os dois especialistas ainda comentaram no podcast assuntos que marcaram os 100 dias do governo Bolsonaro. Um destaque foi a questão das concessões em infraestrutura, um marco deste início de mandato.
“Estamos vendo mais objetivamente o leilão da rodovia Norte-Sul. Metade desse trecho foi entregue há cinco anos, pelo governo da Dilma. Era uma obra inoperante que não estava dando retorno do investimento público. Era uma licitação que estava em andamento e não saía. Aconteceu também na área dos aeroportos, com 12 leiloados. Isso dá uma ideia de que o governo está apostando no setor [logístico]”, comenta o jornalista Lúcio Vaz.
Os 3 meses do governo Collor e comparação com Bolsonaro
A partir dos 18m40s deste podcast, os analistas Lúcio Vaz e Guilherme Vieira falaram sobre a famigerada ação do confisco da Poupança. O jornalista, por exemplo, cobriu toda a eleição que levou Fernando Collor ao poder no dia 15 de março de 1990. Já o economista lembra ter ido às ruas como ‘cara pintada’ pedindo o impeachment do presidente, em 1992.
“Era uma coisa inimaginável. Esperava-se um congelamento de preços para controlar a inflação, mas ele congelou a poupança. Pessoas que tinham vendido um apartamento e estavam com o dinheiro na poupança tiveram tudo congelado. Tive conhecidos que praticamente perderam tudo, porque na devolução [do dinheiro] perderam muito. As empresas não tinham como pagar os salários do mês”, lembra Lúcio.
“O Collor se baseou em uma teoria antiga de inflação quantitativista de que se tivesse menos dinheiro em circulação, a inflação cairia. Era a questão da resposta simples, fácil e errada. Mas ele tentou, teve a coragem. A implementação foi inusual na humanidade”, afirma Guilherme. “Mas ele fez coisas boas, como para comércio internacional. Eu diria que foi a segunda abertura dos portos”, ilustra. “E o governo fez um censo para identificar o estado, algo que não existia”, recorda.
Como exemplo para os 100 dias do governo Bolsonaro, os analistas ponderam um aprendizado que deveria ser seguido. Lúcio, por exemplo, lembra que ambos os presidentes chegaram ao cargo com a postura de novidade, mas começaram a perceber que é preciso diálogo. Collor tinha um perfil autoritário, e não costumava ouvir muito. Pensava que bastava o apoio popular, o que vale como um ponto de atenção ao governo.
As lições dos primeiros 3 meses do governo Fernando Henrique
Neste podcast, o debate sobre o comparativo do governo Fernando Henrique Cardoso com os três meses do governo Bolsonaro começa a partir dos 34 minutos.
Antes de assumir, dia 1º de janeiro de 1995, o tucano FHC teve a vantagem de ter sido ministro da Fazenda de Itamar Franco, seu antecessor, e obtido sucesso na criação do Plano Real, que controlou a hiperinflação brasileira. Ambos os analistas lembram-se da importância desse fator na eleição presidencial, e recordam um pouco sobre o início do mandato.
“Já estava previsto um conjunto de reformas. Essa discussão é permanente no caso do Brasil. Uma delas foi a da desvinculação de receitas, que permitia mobilidade para alocar recursos em áreas necessárias, porque o orçamento é muito engessado. Mas também se previa um conjunto de reformar microeconômicas, liberalização da economia”, recorda Guilherme Vieira.
Lúcio Vaz recorda a valorização da moeda, que permitiu viagens ao exterior, até então impensáveis à grande parte da população brasileira. À época, o real valia o mesmo que o dólar.
Outro destaque foi o tema privatizações, explorado pelo governo FHC e servem de base para os estudos de Bolsonaro, que pretende colocar em prática ações através do ministério da Infraestrutura. Um marco do governo FHC, o podcast recorda as vendas, por exemplo, da Embraer e da Vale para o setor privado, além do crescimento da dívida pública.
“O FHC teve muita coragem e soube negociar com o Congresso. Era um hábil negociador político”, afirma Lúcio Vaz. O jornalista dá a dica, inclusive, para o ministro Paulo Guedes, que acabou se desentendendo com a oposição na CCJ, e para o PSL, que ainda não formou uma ‘tropa de choque’, como o PSDB e o PT.
Comparativo entre os governos Lula e Bolsonaro: 100 dias
A partir dos 56 minutos e 50 segundos do podcast, os convidados entram em comentários sobre os primeiros 100 dias do governo Lula.
Luís Inácio Lula da Silva aproveitou-se do baixo índice de aprovação popular de FHC para implementar uma proposta de esquerda. Apesar desse apoio, que o fez vencer as eleições em todos os estados, menos em Alagoas, Lula se viu obrigado a escrever uma carta aberta afirmando que não faria mudanças radicais. “O Lula foi praticamente obrigado a assinar aquela carta ao povo brasileiro”, afirma o professor Guilherme Vieira. “Foi inclusive visto pela esquerda como uma primeira traição”, completa.
A intenção era aproximar Lula de investidores. “Todo mundo achava que ele iria quebrar o Brasil, congelar preços, fazer moratória. Havia um medo e o Risco Brasil chegou a 2.400 pontos. Ele assumiu uma política ortodoxa, tanto que o primeiro ano foi um pouco parado”, recorda Lúcio Vaz. “O governo conseguiu formar uma equipe bem entrosada. O Henrique Meirelles, no Banco Central, mostrou que ele não ia partir para a aventura”, destaca.
A entrada de uma equipe técnica lembra a estratégia de Bolsonaro. Para Lula, deu certo, pois acalmou o mercado, recorda Lúcio Vaz. E havia também a promessa social, com a criação dos programas populares, como o Fome Zero.
“Ele mostrou que faria o correto na economia paralelamente com a agenda social”, avalia o professor Guilherme Vieira. “O Fome Zero demorou um ano para funcionar realmente, pois precisava segurança para evitar fraudes, com um cadastro elaborado, aplicado em cada município. A coisa foi crescendo aos poucos”, complementa Lúcio Vaz.
Para o jornalista, o Brasil de antes e depois do programa mostra que, pelo menos, grande parte da população passou a ter condições de se alimentar. “É para que as pessoas não passem fome, para que as crianças possam ir à escola. Apesar das críticas, todo mundo faz. Inclusive o Bolsonaro está prometendo o 13º salário para o Bolsa Família”, diz Lúcio.
Lula também aplicou uma reforma da Previdência em 2003, focada principalmente no funcionalismo público, que serve como exemplo do que fazer e o que não fazer para aplicar a reforma da Previdência atual, já que posteriormente houve o conhecimento público da compra de votos no Congresso – o que desencadeou no Mensalão e no Petrolão.
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