O Ministério da Saúde confirmou neste sábado (8) a marca de 100.477 óbitos por Covid-19, a doença causada pelo contágio do novo coronavírus. Em menos de cinco meses, o número total de infectados também passou de 3 milhões de pessoas: 3.012.412, além de 2.094.293 recuperados. A marca de 100 mil mortes por Covid no Brasil ocorre cinco meses após a primeira confirmação de óbito.
O registro da primeira morte acorreu em 12 de março, quando uma mulher de 57 anos faleceu no Hospital Municipal Dr. Carmino Caricchio, em São Paulo. Desde então, os casos vêm uma linha crescente de contágio pelo país. Poucos municípios seguem sem casos confirmados. Em São Paulo, por exemplo, são apenas duas: Ribeirão Corrente e Santa Mercedes. No Paraná são quatro municípios.
Veja a atual situação do coronavírus no Brasil e o mapa por estados
Especialista em modelos de propagação de doenças e sistemas de vigilância de saúde, o coordenador do InfoGripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), doutor Marcelo Gomes, afirma que o Brasil já passou da marca de 100 mil mortes por Covid há algumas semanas. Essa constatação é possível porque o Infogripe atualiza, em parceria com o Ministério da Saúde, os casos reportados de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
Segundo o especialista, o dado leva em conta praticamente apenas os resultados laboratoriais: "São justamente os casos confirmados, e temos ainda um volume considerável de óbitos por SRAG. E existem casos não reportados que não se enquadram no SRAG [mas não tiveram diagnóstico de coronavírus]. Também existe um número grande de pessoas sem o vírus detectado e os falsos negativos, até mesmo no PCR, que é o padrão ouro de testes" .
Marcelo Gomes afirma que, ainda que tenha sido liberada uma portaria recente para confirmações de coronavírus sem teste laboratorial, o argumento de que o número de mortes é superestimado não se sustenta. "A autorização por diagnóstico de imagem [do pulmão] foi há poucas semanas", disse. Além disso, há um fator: até que o quadro evolua para grave são feitas testagens. "O que a gente tem visto nos leva a crer que são muito mais casos perdidos do que excesso de confirmação. E se o número oficial chegou hoje, é porque [o dado] foi alcançado há algum tempo", relata.
Platô e 100 mil mortes por Covid no Brasil
Há sete semanas, aproximadamente, o país parece ter atingido o chamado platô da doença, ou seja, apresentando uma média similar de óbitos pela doença, pouco acima de 7 mil por semana. Antes de chegar a 100 mil mortes por Covid no Brasil, a data de maior registro de óbitos foi no dia 29 de julho, quando o Ministério da Saúde registrou 1.595 mortes em 24 horas.
Para o coordenador do InfoGripe, o Brasil está em um platô elevado, sem um sinal claro de diminuição da doença. Ele destaca que há estados com queda, mas outros, como o Rio de Janeiro, que voltam a assistir o crescimento de coronavírus após a redução.
"Estamos em uma situação mais grave [que outros países]. Em termos de Brasil, o processo está muito lento para começar a cair. Os estados com forte queda foram os que passaram por um pico muito forte porque não conseguiram conter a doença no início, e então ela se alastrou muito rápido. Faltou distanciamento social forte com adesão massiva, com coordenação uniforme", relata Marcelo Gomes.
Segundo os últimos relatórios da equipe de Gomes, o Sul do Brasil começa a chegar próximo ao platô, especialmente no Paraná e Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina, contudo, a situação não está clara, avalia o especialista.
Luto oficial
Neste sábado (8), antes de serem confirmadas pelo Ministério da Saúde as 100 mil mortes por Covid no Brasil, os poderes Legislativo e Judiciário se manifestaram.
Presidente do Congresso e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) decretou luto oficial de quatro dias no Parlamento. Já Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) decretou luto oficial de três dias. Já o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, emitiu uma nota em que lamenta as vítimas e reforça o "tratamento precoce". O presidente Jair Bolsonaro, nas redes sociais, destacou os recuperados.
Até agora, o país assistiu a uma guerra política relacionada ao isolamento social e aos tratamentos, à queda de dois ministros da Saúde e a uma onda de casos de corrupção de entes públicos que se aproveitaram do estado de calamidade pública para o uso questionável de recursos.
Troca de ministros
Desde o início do contágio, o presidente Jair Bolsonaro criticou as consequências econômicas do isolamento social, o que acabou gerando, em abril, a demissão do ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, ex-deputado e médico ortopetista.
Mandetta tentou implementar um isolamento social rigoroso para evitar o colapso do Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto Bolsonaro insistia que o chamado “isolamento seletivo” (de grupos de risco) seria melhor para evitar o colapso econômico.
Em seu lugar, assumiu o empresário e oncologista Nelson Teich. Em menos de um mês, Teich pediu demissão, entre outros motivos, por se negar a assinar o protocolo de uso da hidroxicloroquina para o tratamento da doença, uma vez que não há comprovação cientifica para o medicamento em casos de coronavírus. A cloroquina é utilizada para tratamento de malária.
Desde a saída de Teich, dia 15 de maio, assumiu como ministro interino o general Eduardo Pazzuelo, que têm formação em Administração e Logística. Quando Pazzuelo assumiu, o Brasil tinha 15 mil mortes por coronavírus e 888 mil casos confirmados.
Autonomia entre estados e municípios
A discordância do modelo de isolamento a ser adotado acabou no Supremo Tribunal Federal (STF), após ação movida pela Ordem dos Advogados do Brasil.
No dia 4 de abril, o ministro Alexandre de Moraes decidiu que estados e municípios teriam autonomia para adotar medidas de quarentena, suspensão de atividades, restrições de comércio e serviços, circulação de pessoas, independentemente de ordens contrárias do governo federal. No dia 15 de abril, o plenário do STF confirmou a determinação de Moraes.
O presidente, então, passou repetidamente a afirmar que um "desastre" seria culpa de prefeitos e governadores. Em paralelo, foi criticado por evitar inicialmente usar máscara de proteção e gerar aglomerações em eventos públicos.
De acordo com o especialista da Fiocruz, a adoção de discursos diferentes entre os governos federal, estados e municípios prejudicou o combate a doença. "Faltaram, sim, ações coordenadas e conjuntas. Quando temos discursos contraditórios, isso causa dúvidas na população. E a adesão fica complicada. Foram formadores de opinião e governantes com informações desencontradas. Assim, as autoridades ficam, de certa forma, desacreditadas", afirma Marcelo Gomes.
Um dos casos emblemáticos ocorreu dia 7 de maio, quando, acompanhado de ministros e empresários, o presidente Jair Bolsonaro fez uma visita surpresa ao presidente do STF, Dias Toffoli. Ele fez um apelo para que as medidas restritivas de isolamento nos estados fossem amenizadas e assinou um decreto que ampliava a quantidade de atividades essenciais em meio à pandemia do novo coronavírus.
"Se tivéssemos um distanciamento social mais forte no início, com alta adesão e condições à população mais vulnerável, poderíamos frear mais cedo [o vírus] e estar em uma situação mais uniforme para a flexibilização", avalia o especialista da Fiocruz.
Declarações polêmicas e mudança de discurso
No dia 12 de abril, quando o país havia chegado a 1.223 mortes, o presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que "essa questão do vírus" parecia estar "começando a ir embora", e o desemprego estava "batendo forte". Quando o Brasil registrou mais de 5 mil mortes, em 28 de abril, Bolsonaro soltou o famoso: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”.
Com o crescimento das mortes ao longo das semanas e depois de ser contagiado pela Covid-19, Bolsonaro mudou o discurso sobre a gravidade do quadro sanitário, mas não em relação à necessidade de isolamento social e à hidroxicloroquina, que afirma ter tomado para vencer a doença
Apesar disso, nesta semana, Bolsonaro foi criticado ao comentar a proximidade das 100 mil mortes, ao afirma que "vamos tocar a vida".
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