Manifestação a favor de Bolsonaro e pelo voto impresso em Belo Horizonte (MG), realizada em 1.º de agosto.| Foto: Reprodução/Twitter/@BrunoEnglerDM
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Militares, evangélicos, ruralistas, policiais militares e caminhoneiros. Esses são alguns dos principais segmentos da sociedade que apoiam o governo de Jair Bolsonaro e que estão se articulando para as manifestações de 7 de setembro. Os atos do Dia da Independência, segundo os organizadores, serão em defesa da democracia, da Constituição, da liberdade e das instituições.

A tensão entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário está dando a tônica para as mobilizações. As pautas desses grupos, entretanto, não são homogêneas – às vezes nem mesmo internamente. Confira quais são as principais demandas que esses grupos levarão para as ruas no Dia da Independência.

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Evangélicos

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Os evangélicos são um dos segmentos da população brasileira que mais deu suporte ao presidente Jair Bolsonaro desde a sua candidatura, em 2018. Esse apoio, mais uma vez, deve ser observado nas manifestações deste 7 de setembro. 

Líderes de diferentes correntes do cristianismo estão convocando seus seguidores a comparecer aos atos marcados para o Dia da Independência. Dentre eles se destacam Silas Malafaia, da Assembleia de Deus; Claudio Duarte, do Projeto Recomeçar; os pastores Jorge e Daniela Linhares; Renê Terra Nova, fundador do Ministério Internacional Restauração; o pastor Samuel Câmara; e Estevam Hernandes, líder da Igreja Renascer.

As pautas do segmento vão além do apoio a Bolsonaro. Eles defendem: liberdade de expressão, separação dos poderes, respeito à Constituição e retorno do voto impresso.

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Produtores rurais

Entidades ruralistas também despontam como as principais organizadoras do movimento pró-governo. Restrições impostas por governadores durante a pandemia e decisões do STF aproximaram ainda mais parte deste setor do presidente Jair Bolsonaro.

O Movimento Brasil Verde e Amarelo, que surgiu em 2017 para contestar uma decisão do STF sobre a cobrança do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), está mobilizando suas bases: mais de 100 associações e sindicatos ligados ao agronegócio convocaram para as manifestações. Outros grupos, como a União Democrática Ruralista (UDR) e o Sindicato Rural de Uberlândia, também estão convocando para os atos. 

Eles defendem pautas como a liberdade do Brasil, afrouxamento de regras ambientais, obras de infraestrutura, entre outros pontos. Por meio de doações espontâneas, empresários do setor têm sido importantes financiadores das manifestações do 7 de setembro. 

Contudo, o apoio ao governo não é consenso dentro do segmento. Os parlamentares da bancada ruralista se dividem entre os que apoiam e os que condenam os atos pró-governo. As críticas recaem sobre as declarações do presidente contra o Poder Judiciário e a instabilidade institucional. 

Exemplo dessa divisão é a recente carta assinada pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e outras seis entidades do agronegócio. Elas cobraram das lideranças do país uma postura “à altura” do Brasil e criticaram a possibilidade de “aventuras radicais” do governo.

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Policiais militares

Policiais militares estão usando suas redes sociais para divulgar os atos pró-Bolsonaro. A movimentação, porém, gerou temor entre os governadores sobre a possibilidade de paralisações ou motins. No fim do mês passado, o governador de São Paulo, João Doria, afastou o coronel da PM Aleksander Lacerda depois que ele fez postagens convidando “amigos” para a manifestação e insinuando que o “caldo vai esquentar” em 7 de setembro. 

Líderes representativos dos policiais, contudo, descartam qualquer possibilidade de motim ou paralisações e defendem que policiais da ativa possam participar à paisana, caso não estejam em serviço – a legislação brasileira prevê que policiais da ativa não podem se envolver em atos políticos e o Ministério Público considera que, mesmo não estando em serviço, a participação deles é ilegal.

Em entrevista à Gazeta do Povo, o deputado Capitão Augusto (PL-SP) disse que muitos policiais contestam decisões do STF contra a Lava Jato e no inquérito das fake news; e também a atuação do Congresso na CPI da Covid-19.

Em São Paulo, o afastamento do coronel Aleksander Lacerda e a insatisfação com a quebra da promessa de Doria de elevar o salário dos 90 mil policiais do estado também aumentou a possibilidade de PMs aderirem à manifestação. Mas o governo determinou que todos os policiais do estado vão trabalhar no 7 de setembro, uma medida para evitar a participação dos PMs nos atos.

Caminhoneiros

Impeachment dos ministros do STF, o voto impresso e a liberdade de expressão são as principais pautas para os caminhoneiros que vão participar dos atos pró-governo. A indignação com a Suprema Corte aumentou depois da operação da Polícia Federal contra o cantor Sérgio Reis, o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes e outras oito pessoas. 

Eles também trazem na agenda outras reclamações, como o baixo valor do frete e o preço alto dos combustíveis, fatores que, há muito tempo, fazem a categoria cogitar a declaração de uma greve nacional de caminhoneiros.

Sobre a possibilidade de paralisações no Dia da Independência, lideranças do setor que vão participar dos atos disseram que “este não é momento”. Contudo, alguns caminhoneiros pretendem bloquear trechos de rodovias, em atos não coordenados.

Uma reunião sobre as reivindicações econômicas e políticas dos caminhoneiros está marcada para setembro e, a partir das definições de uma pauta de reclamações comum, uma greve nacional pode ser deliberada até dezembro.

Militares

Militares da reserva e da ativa também devem participar dos atos pró-Bolsonaro, embora haja críticas e preocupações quanto a isso mesmo dentro das Forças Armadas. Fontes ouvidas pela Gazeta do Povo afirmam que boa parte deles, inclusive os da reserva, terá o cuidado de participar sem farda. Assim como PMs, militares da ativa são proibidos de participar de manifestações políticas.

Poucos generais da reserva – o último grau da carreira militar – devem comparecer às manifestações. E é pouco provável que generais da ativa participem dos atos. Bolsonaro não é unanimidade no topo da carreira, sobretudo no Alto Comando das Forças Armadas. Mas as manifestações tendem a contar com um grande número praças e oficiais de outras patentes.

As pautas defendidas pelos militares são: defesa da democracia, da Constituição, da liberdade e das instituições. Muitos também apoiam o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A intervenção militar pelo uso das Forças Armadas como um “Poder Moderador”, como já mencionou o presidente Jair Bolsonaro, é defendida por alguns militares de maneira informal, com base na interpretação do artigo 142 da Constituição.

O artigo 142 da Constituição, porém, prevê que cabe às Forças Armadas a defesa do país e a garantia da lei, da ordem e dos poderes constitucionais – que são apenas três: Executivo, Legislativo e Judiciário. Ou seja, segundo a Constituição, o corpo militar do país tem a missão constitucional de preservar os três poderes; e não intervir em qualquer um deles.

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Movimentos populares civis

Alguns movimentos civis também vão aderir às manifestações e estão convocando a população a participar. O movimento Nas Ruas, por exemplo, é o principal organizador dos atos pelo país. O porta-voz do Nas Ruas, Tomé Abduch, disse à Gazeta do Povo que os atos serão "democráticos, pacíficos e educados" e que a pauta será a "defesa da democracia, de nossa Constituição, de nossa liberdade e de nossas instituições".

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