Dos 19.478 focos de calor identificados no Amazonas neste ano, 73% foram localizados em áreas federais (37%), destinadas a assentamentos da reforma agrária (28%), terras indígenas (5%) e unidades de conservação federal (3%). Todas essas áreas, em tese, são de responsabilidade do governo federal, que tem o dever de protegê-las das queimadas, que chegaram a níveis alarmantes em 2024.
Os dados foram informados na última quinta-feira (19) pelo secretário de Meio Ambiente do estado, Eduardo Taveira, numa audiência com o ministro Flávio Dino, que conduz no Supremo Tribunal Federal (STF) uma ação para tentar resolver o problema. “Hoje, 73% dos focos de queimadas são em áreas do Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] e glebas federais não destinadas”, disse Taveira na reunião.
A audiência contou com a presença de representantes de todos os estados que compõem a Amazônia, do governo federal, da Rede e do PT – partidos envolvidos no processo judicial.
O dado do Amazonas chamou a atenção de Dino, que mandou a Advocacia-Geral da União (AGU), que representa o governo federal no caso, se manifestar sobre o problema em até 30 dias. O ministro também cobrou várias outras informações sobre a atuação do governo federal no combate às queimadas, a partir de queixas dos estados sobre a falta de apoio.
Na audiência, Taveira relatou que o estado acaba tendo de arcar praticamente sozinho com o combate a queimadas e desmatamento em áreas federais. “Não temos recursos fundo a fundo para operação. Praticamente 100% dos recursos para operação das secretarias de meio ambiente e sistemas estaduais são próprios, mesmo em áreas federais, e não há um ressarcimento disso. Não temos um sistema único de meio ambiente, como é o SUS. Isso seria para ontem do ponto de vista de estruturação”, disse.
Taveira disse que, em abril deste ano, se reuniu com o governo federal e vários municípios do estado para informar a iminência da atual crise de queimadas no estado. “Se as informações climáticas que nós temos de persistência da seca até dezembro, e alguns dados indicando até fevereiro, [se confirmarem,] provavelmente essa crise climática será sem precedentes”, disse o secretário.
Fundo Amazônia travado para combate às queimadas
Na questão específica das queimadas, ele ainda apresentou uma queixa sobre a dificuldade de obter recursos do Fundo Amazônia, abastecido com dinheiro de doações de outros países, como a Noruega e Alemanha. Segundo ele, atualmente o fundo tem R$ 5 bilhões, mas o Ministério do Meio Ambiente e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), responsáveis pela liberação e gestão dos recursos, demoram a aprovar os projetos.
Ele citou um projeto de R$ 45 milhões apresentado pelo Amazonas, em novembro do ano passado, para que o Corpo de Bombeiros do estado montasse bases de atuação nos municípios onde ocorrem 90% dos desmatamentos e queimadas. “Esse projeto ainda está em análise”, disse Taveira.
Dino também deu 30 dias para o Ministério do Meio Ambiente e o BNDES se manifestarem sobre a demora na análise desse e outros projetos estaduais de preservação da floresta amazônica.
Taveira ainda explicou que o “grande problema” envolvendo as queimadas se relaciona com a dificuldade de regularização fundiária, uma vez que várias áreas federais são ocupadas por criminosos. Segundo o secretário, vários tocam fogo nas áreas para receberem multas dos órgãos ambientais e usam as notificações, em seus nomes, para se apropriarem da terra.
Segundo ele, vários posseiros originais dessas terras ficam sujeitos à atuação de quadrilhas que cometem crimes ambientais para tomarem essas áreas e, com elas, extraírem madeira ilegal.
“Os próprios assentados originais ficam à mercê do poder econômico dessas quadrilhas para entregarem e saírem de suas terras. Há um complexo generalizado de atuação que coincide com esse aumento significativo do uso do fogo, da queimada e do desmatamento dessas áreas”, alertou o secretário na audiência.
O que diz o governo sobre as queimadas
Estava presente na audiência, representando o governo federal, a Procuradora-chefe do Clima e do Meio Ambiente na Advocacia-Geral da União, Mariana Cirne. Ela reconheceu o problema da regularização fundiária e cogitou a possibilidade de propor mudanças nas regras para impedir que áreas incendiadas de forma intencional recebam o registro de propriedade.
“Esse é um ponto que está no nosso radar e terá uma resposta. Nos preocupa. A gente vê as pessoas colocando fogo e depois de algum tempo ela entra com pedido de regularização fundiária”, afirmou durante a audiência.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
A gestão pública, um pouco menos engessada
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF