O executivo Emanuel Catori, sócio da farmacêutica Belcher, que depõe nesta terça-feira (24) à CPI da Covid do Senado, disse que sua empresa não tem conexões com o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Ele confirmou à comissão que participou de uma reunião com o parlamentar e o Ministério da Saúde, em 15 de abril, mas afirmou que o encontro foi uma agenda pública e sem vínculo com a negociação de vacinas contra a Covid-19. O depoimento dele ainda está em curso.
Catori foi chamado à CPI pelo fato de a Belcher ter atuado como intermediária nas negociações entre o Ministério da Saúde e a empresa chinesa CanSino, fabricante da vacina Convidencia. Ele, assim como outros depoentes, está na comissão protegido por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que garante a ele o direito ao silêncio diante de perguntas que o incriminem. Mas tem respondido à maior parte das questões.
As falas de Catori foram contestadas por parte dos senadores da CPI, em especial os que fazem oposição ao presidente Jair Bolsonaro. O relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou que o executivo se contradisse em sua fala. Isso porque Catori declarou ao colegiado que não tratou de vacinas em seu encontro com Barros e o ministro Marcelo Queiroga, porque na ocasião a Belcher ainda não havia firmado o contrato de representação com a CanSino. Mas, mesmo sem o contrato, no ato da reunião Belcher e Cansino já haviam estabelecido uma carta de confidencialidade.
Senadores, como Calheiros e Eliziane Gama (Cidadania-MA), apontaram que a Belcher teve um acesso ao governo federal que não foi disponibilizado a outras fabricantes de vacinas. "É um tratamento totalmente diferenciado", disse a senadora.
Catori alegou que sua reunião com o Ministério teve como pauta a apresentação de um remédio antiviral, e que Barros participou do encontro na condição de presidente de uma frente parlamentar sobre medicamentos. Ele declarou ainda que a Belcher não procurou Barros para "abrir portas" no Ministério para a negociação de vacinas. A Belcher é sediada em Maringá (PR), reduto eleitoral de Barros. O executivo falou também à CPI que conversa eventualmente com Barros, mas nunca discutiu com o parlamentar a venda de vacinas.
Em seu depoimento à CPI no dia 12, Barros afirmou também que não "facilitou ou participou" das negociações entre Belcher e Ministério, mas que auxiliou todas as empresas que o procuraram para vender insumos de combate à Covid-19 no Brasil.
A reunião da CPI desta quarta enfrenta a "concorrência" da sabatina que o Senado promove com o procurador-geral da República, Augusto Aras, que busca ser reconduzido ao posto. O encontro está ocorrendo em uma sala diferente da habitual e tem, até o momento, uma relação de senadores inscritos menor do que a registrada nos outros dias.
Hang e Wizard, também negados
O executivo da Belcher também negou à CPI ter proximidade com os empresários Carlos Wizard e Luciano Hang. Ambos são apoiadores do presidente Bolsonaro e, ao longo da pandemia de coronavírus, se notabilizaram pela defesa do tratamento precoce, pela flexibilização de medidas de restrição de circulação e, no início de 2021, pela mobilização para a permissão de compra e utilização de vacinas pelo setor privado. A lei atual determina que empresas particulares podem comprar vacinas contra a Covid-19, mas tudo o que for adquirido deve ser repassado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Hang, Wizard e empresários defendem que legislação seja alterada para permitir a empresas o uso de 50% das doses compradas, com o restante sendo enviado ao SUS.
Catori afirmou à CPI que a Belcher não se integrou à mobilização liderada por Hang e Wizard. Ele disse que participou de debates sobre a compra de vacinas, mas dentro do modelo defendido pela legislação atual. O executivo foi confrontado com um vídeo de uma live em que participou ao lado de Wizard e Hang; ele alegou que foi uma transmissão conduzida pelos empresários e que seu tempo de fala foi restrito a um minuto.
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