O presidente Jair Bolsonaro recebeu em audiência dirigentes do DEM: Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil; Ronaldo Caiado, governador de Goiás, e ACM Neto, prefeito de Salvador e presidente do DEM. Foto: Marcos Corrêa/PR| Foto:

Em encontro com presidentes dos principais partidos do país na manhã desta quinta-feira (4), o presidente Jair Bolsonaro anunciou a intenção de criar uma espécie de conselho político para aproximar o governo com as siglas e o Congresso Nacional. Prestes a completar cem dias de mandato, o presidente se reúne com dirigentes de 11 legendas para convidá-los a integrar a base de sustentação do governo no Congresso.

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A estratégia inicial de Bolsonaro de usar as frentes parlamentares para conseguir apoio no Congresso fracassou e o presidente foi aconselhado a abrir diálogo com os partidos, na volta da viagem a Israel, para aprovar a reforma da Previdência.

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Pelo Twitter, Bolsonaro disse que "tudo ocorreu em alto nível" e "nada se falou sobre cargos" nas reuniões que realizou com presidentes e líderes de partidos políticos. Para ele, as primeiras conversas demonstram que Executivo e Legislativo estão unidos pela reforma da Previdência.

Durante as conversas desta manhã, Bolsonaro não pediu apoio formal, de acordo com fontes consultados pela reportagem. O presidente afirmou que o país precisa da ajuda de todos e avisou aos presidentes dos partidos que, caso eles não queiram fazer parte da base do governo, que pelo menos apoiassem as propostas prioritárias como a Previdência.

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, explicou aos dirigentes partidários como funcionaria o conselho político. Seriam dois grupos que se reuniriam a cada 15 dias. O primeiro, formado por presidentes de partidos, o segundo por líderes do Congresso. Eles seriam recebidos ora pelo próprio presidente, ora por Lorenzoni.

A medida é uma reação à força demonstrada pelo Centrão nas últimas semanas. No vácuo da articulação política, o grupo - formado por siglas como DEM, PP, PR, PRB, PSD e Solidariedade que em alguns casos tem como aliados o MDB e o PSDB - se organizou e impôs derrotas ao governo no Congresso.

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"O presidente fez um gesto. Não queremos cargos, queremos solução. Queremos ser recebidos por ministros e atendidos em nossas demandas", afirmou o presidente do PRB, Marcos Pereira, o primeiro a se encontrar com Bolsonaro.

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Na quarta-feira (3), o vice-presidente Hamilton Mourão disse que, se as adesões ao Planalto forem aceitas, a coalizão terá como contrapartida cargos no governo. Nos bastidores, porém, Bolsonaro já avisou que, mesmo cedendo, não existirá "porteira fechada" na Esplanada ou em qualquer repartição federal para nenhum partido.

"A partir do momento em que os partidos concordem com o que o governo pretende fazer, é óbvio que eles vão ter algum tipo de participação, seja em cargos nos Estados, algum ministério ou algo do gênero", argumentou Mourão na quarta.

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No encontro, o ministro da Casa Civil afirmou aos presidentes dos partidos que era o primeiro de uma série. "O diálogo está apenas começando", disse Lorenzoni segundo um interlocutor que participou das reuniões do início da manhã.

Bolsonaro tem encontros separados, nesta quinta-feira, com os presidentes do DEM, PSDB, MDB, PP, PSD e PRB. As rodadas de conversa ocorrerão em duas etapas: na terça e quarta-feira, dias 9 e 10, Bolsonaro receberá dirigentes do PSL, PR, PROS, Podemos e Solidariedade. Até agora, apenas o PSL, seu partido, integra a base do governo no Congresso.

'Não participaremos do governo, não há troca', diz Alckmin

Seu adversário na campanha de 2018, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) rebateu o discurso contra a velha política feito por Bolsonaro (PSL), após encontro entre os dois nesta quinta-feira no Palácio do Planalto. "Não existe nova e velha, existe boa e má política. A boa política não envelhece", afirmou Alckmin, que é presidente nacional do PSDB.

O tucano afirmou que o PSDB manterá sua posição de independência em relação ao governo, "não há nenhum tipo de troca, não participaremos do governo, não aceitamos cargo do governo, e votamos com o Brasil".

Depois de seguidas declarações de Bolsonaro associando negociações com o Congresso a corrupção e seu embate com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Alckmin defendeu o diálogo. "Quanto mais a gente ouve, menos a gente erra. Política não é troca-troca, é o diálogo", disse.

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Ele citou o Ulysses Guimarães, que presidiu a Câmara e liderou a campanha pela redemocratização no fim da ditadura militar (1964-1985). "Saber ouvir é uma grande virtude. Dr. Ulysses, que era um estadista, dizia que o homem tem dois ouvidos e uma boca para ouvir mais do que fala", lembrou.

Alckmin e Bolsonaro tiveram embates públicos durante a campanha. Mas na reunião nesta quinta, "a conversa foi boa", segundo o tucano. "O presidente me cumprimentou falando, 'olha, votei em você nas últimas eleições'", afirmou. "Dr. Ulysses lembrava, não se guarda ressentimentos na geladeira."

O presidente do PSDB defendeu a aprovação da reforma da Previdência, mas fez ressalvas ao texto apresentado pelo governo. "O importante na reforma é idade mínima e tempo de transição. A reforma é muito complexa, muito detalhista, muito longa", comentou. "Nós não aprovaremos nenhum benefício menor que um salário mínimo. O BPC (Benefício de Prestação Continuada) nós somos contra, como também a questão rural. Se há diferença de idade na área urbana, por que não há na área rural?", questionou. O texto prevê que homens e mulheres se aposentem aos 60 anos no campo e 65 e 62, respectivamente, na cidade.

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"A reforma da Previdência precisa ser centrada em dois objetivos. O primeiro é justiça social. Não é possível permitir privilégios e é preciso proteger aqueles que mais precisam", afirmou Alckmin.

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O PSDB não vetará que seus quadros relatem a reforma ao longo da tramitação no Congresso, segundo o presidente do partido. O tucano embarcará nesta quinta para Boston, nos Estados Unidos, para participar da Brazil Conference, evento sobre o país na universidade Harvard. Participará de um debate com outros dois ex-presidenciáveis, Ciro Gomes (PDT) e Henrique Meirelles (MDB).