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Futuro do DEM

O que explica o vaivém de ACM Neto na aproximação do DEM com Bolsonaro

ACM Neto abraça Bolsonaro observado por Onyx Lorenzoni e Ronaldo Caiado
Jair Bolsonaro abraça ACM Neto observado por outros nomes do DEM, Onyx Lorenzoni e Ronaldo Caiado. (Foto: Marcos Correa/PR)

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O presidente nacional do DEM, ACM Neto, trabalhou nos bastidores para ajudar o governo Bolsonaro a eleger Arthur Lira (PP-AL) como presidente da Câmara. Depois disso, algumas lideranças do DEM passaram a defender publicamente a adesão da legenda ao governo. O nome de ACM Neto foi sugerido, inclusive, para ser vice do presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.

Mas o risco de o próprio DEM se dividir e perder parlamentares, e a reação contrária à aproximação com Bolsonaro na Bahia (estado de ACM) frearam o ímpeto governista do presidente da sigla. ACM Neto garante que o DEM não vai ingressar no governo. Ao menos não oficialmente – embora já tenha filiados como ministros de Bolsonaro.

A crise no ninho democrata foi escancarada durante as eleições para presidência da Câmara, quando ACM Neto retirou o partido do bloco de Baleia Rossi (MDB-SP), que era o candidato apoiado por Rodrigo Maia (DEM-RJ), e liberou a bancada para votar como quisesse. Dos 29 deputados do DEM, ao menos 18 votaram em Arthur Lira (PP-AL).

Na véspera da eleição, se especulou que o Palácio do Planalto teria ofertado o Ministério da Educação (MEC) como forma de deixar o DEM fora do bloco de Baleia Rossi. ACM Neto negou. “De jeito nenhum. Jamais negociaria isso com o governo”, afirmou o presidente do DEM na época.

Apesar disso, outras negociações de ACM Neto com o governo Bolsonaro vêm ocorrendo desde o final das eleições municipais de 2020 e se intensificaram justamente com as disputas pela sucessão da Câmara e do Senado. Sem a possibilidade da reeleição de Maia na Câmara e de Davi Alcolumbre (DEM-AP) no Senado, o presidente do partido centrou suas articulações para fazer com que a sigla seguisse comandando ao menos uma das duas Casas.

“Como o Alcolumbre tinha uma relação melhor com o governo e o jogo na Câmara estava muito polarizado, ACM Neto acabou centrando as negociações pelo Senado, o que lhe aproximou do presidente Bolsonaro”, afirma um aliado do presidente do DEM.

A articulação acabou dando resultados e a candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) ganhou o apoio de Bolsonaro. Para chancelar o senador do DEM, o Palácio do Planalto dispensou dois aliados do MDB na Casa, os senadores Eduardo Gomes, líder no Congresso, e Fernando Bezerra, líder no Senado. Pacheco, com isso, venceu a disputa pelo Senado.

Com a vitória no Senado garantida, integrantes do DEM na Câmara começaram a pressionar para que o partido não embarcasse no bloco de Baleia Rossi. A confirmação de independência foi confirmada por ACM Neto, o que acabou irritando Rodrigo Maia.

Aproximação com o governo deixou ACM Neto em fogo cruzado

A aproximação do DEM com o governo Bolsonaro acabou colocando ACM Neto em um “fogo cruzado” com a ala mais independente do partido. Rodrigo Maia, por exemplo, anunciou que vai deixar a sigla e deve levar com ele alguns aliados.

A pressão desse grupo se intensificou ainda mais depois que ACM Neto deu a entender que o DEM poderia apoiar o projeto de reeleição de Jair Bolsonaro em 2022. Na esteira dessas declarações, a ala mais bolsonarista da sigla começou a cogitar a possibilidade de que ACM Neto fosse vice de Bolsonaro em 2022. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), inclusive defendeu que caminhar com Bolsonaro seria mais a “cara” do eleitor do Democratas.

Mas internamente houve repercussão negativa a esse movimento. E integrantes do DEM trataram de negar qualquer adesão formal ao governo de Bolsonaro. “Vamos seguir na linha de independência na tomada de decisões de votação de acordo com aquilo que temos identidade, a exemplo da agenda econômica”, afirmou o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB).

Na mesma linha, o deputado Paulo Azi (BA) destacou que o "governo Bolsonaro tem pautas que são próximas do DEM, mas tem outras que afastam o partido". “Neste momento, a melhor posição é manter independência e ter liberdade para votar naquilo que deseja apoiar e ser contra naquilo que a gente não prega”, disse Azi.

Repercussão negativa com o eleitorado baiano

Além de causar ainda mais divisões no DEM, a possibilidade de uma aliança com o governo Bolsonaro em 2022 acabou repercutindo mal junto ao eleitorado de ACM Neto. O democrata foi prefeito de Salvador por dois mandatos consecutivos e, nas eleições municipais do ano passado elegeu seu sucessor, Bruno Reis, ainda no primeiro turno.

“O ACM agora tem que mostrar liderança e reorganizar o partido. Ele viu o quanto essa fofoca sobre ser vice de Bolsonaro pesou contra ele. Só olhar os comentários nas redes sociais dele, muitas críticas do povo da Bahia, que é um dos estados mais críticos em relação ao governo”, afirmou um integrante do DEM.

"Quem me conhece sabe quais são as minhas prioridades. Sabe que eu não serei candidato a vice-presidente da República nem de Bolsonaro, nem de nenhum outro candidato”, reagiu ACM, em vídeo nas redes sociais, após a repercussão negativa sobre a especulação de ser vice de Bolsonaro. No meio político, a principal expectativa é de o principal cacique do DEM dispute o governo da Bahia em 2022.

Para aliados de ACM Neto, qualquer movimentação de aproximação agora com o governo só irá desgastar ainda mais o partido. “Acho que ele fez os cálculos, e se aliar ao governo seria dar um tiro no pé. Bolsonaro vai ter dois anos difíceis com essa vacinação [contra a Covid-19] e reorganização da economia. Isso atrapalha o DEM tentar um voo solo em 2022”, explica um parlamentar próximo.

Filiado ao DEM, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta amenizou a crise interna e alegou que não é hora de “colocar água na fervura”.  “Não podemos jogar água na fervura. Todos os partidos tiveram nessa eleição da Câmara algumas divisões. Até no partido do próprio Lira. Eu acho que agora é gerir a crise e, no momento certo e na temperatura certa, definir o caminho para 2022”, afirmou.

Mesmo assim, Mandetta não descarta deixar o partido caso haja um embarque oficial do DEM no projeto de reeleição de Bolsonaro daqui a dois anos. Ao deixar o Ministério da Saúde no ano passado, Mandetta acenou que poderia ser candidato à Presidência ou apoiar um nome de centro contra Bolsonaro. “Se ele [DEM] vai tomando um caminho [nesse sentido], no quadro do partido não é possível continuar. Sobre 2022, eu volto a dizer que é preciso ver as ideias e os projetos que serão colocados”, finaliza.

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