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Acomodados no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após a minirreforma ministerial, os partidos do Centrão já estão de olho na sucessão do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que deixará o posto em fevereiro de 2025. Até agora, os nomes mais cotados são Elmar Nascimento (União-BA), aliado de Lira, e Marcos Pereira, presidente do Republicanos.
A eleição ainda está a um ano e meio de acontecer, mas a articulação que resultou na entrada de Celso Sabino (União), André Fufuca (PP) e Sílvio Costa Filho (Republicanos) no governo foi feita pensando na troca da comando da Casa, segundo parlamentares ouvidos pela reportagem. Tanto Republicanos quanto o grupo de Lira buscam apoio do governo para 2025.
"A minirreforma ministerial faz parte de uma estratégia para que haja um controle do atual grupo, que é presidido pelo Lira", afirma José Nelto (PP-GO), vice-líder do maior bloco de partidos na Câmara (formado por União, PP, Federação PSDB-Cidadania, PDT, PSB, Avante, Solidariedade e Patriota, com 174 deputados). A percepção é a mesma entre parlamentares do Republicanos e da oposição.
Após o embarque de PP, Republicanos e União no governo, Lira afirmou que Lula tem uma base de cerca de 350 deputados na Câmara, o que seria suficiente para aprovar Propostas de Emenda à Constituição (PEC). Contudo, Nelto lembra que, apesar disso, a gestão petista não tem condições de lançar um candidato próprio para a presidência da Câmara e, por isso, deve apoiar algum nome do Centrão.
O deputado Maurício Marcon (PL-RS), da oposição, também avalia que toda a barganha política por cargos na Esplanada dos Ministérios e em órgãos como a Caixa Econômica Federal, Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e Correios – estes ainda em negociação – vai além do loteamento de cargos e uma fatia maior na liberação de emendas.
"O Centrão está de olho na sucessão de Arthur Lira, em 2025, e precisa de apoio do governo Lula para garantir a continuidade no poder", afirma.
Blocão de Lira e Republicanos apostam em nomes próprios
O deputado Elmar Nascimento (União-BA) é a aposta do próprio Lira e do blocão de União, PP e outros partidos. O baiano já foi crítico de Lula (já o chamou de ex-presidiário), mas agora amenizou o tom de olho no apoio do Palácio do Planalto para 2025. Ele, inclusive, fez parte da delegação brasileira que acompanhou Lula na 78ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York, no começo desta semana.
No Republicanos, o candidato deve ser o presidente da legenda, deputado federal Marcos Pereira (SP), que já fez um test-drive no posto esta semana, enquanto Lira participava da Conferência das Nações Unidas em Nova York, nos Estados Unidos.
Um deputado do Republicanos, que falou em condição de anonimato para comentar bastidores, revela que Pereira é o projeto principal do partido neste momento. Apesar de manter a postura de independência – mesmo após a nomeação de Sílvio Costa Filho para o comando do Ministério de Portos e Aeroportos –, Pereira terá que contar com o apoio do governo para conseguir a presidência da Câmara, na avaliação do deputado correligionário.
Lira tentará manter poder mesmo fora da presidência da Câmara
Para o cientista político Antônio Flávio Testa, Arthur Lira tem apostado muito na manutenção de seu poder de influência no PP, junto com o hoje aliado Ciro Nogueira, presidente da sigla. Segundo o analista, "Lira sabe de seu poder, como presidente da Câmara e Lula sabe que precisará cada vez mais dele, até o fim do mandato [do atual presidente da Câmara]".
Testa avalia que o petista ainda pode ter que entregar mais cargos ao grupo liderado pelo atual presidente da Câmara, inclusive ao próprio Lira. Perguntando recentemente se existia essa possibilidade, numa entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Lira respondeu que "não fala sobre conjecturas". Mas uma fonte ouvida pela Gazeta do Povo disse que o acordo firmado agora na minirreforma ministerial prevê uma vaga para Lira no ministério da Agricultura, quando ele deixar a presidência da Câmara.
Ele acredita que Marcos Pereira tem mais vantagens, neste momento, na disputa pela presidência da Câmara. "Pereira sempre foi aliado do PT e obedece aos ditames empresariais de Edir Macedo, da Igreja Universal".
O cientista político Jorge Mizael, da Metapolítica Consultoria, concorda e lembra que Pereira já foi ministro durante o governo de Michel Temer (MDB) e tem predicados que o credenciam a disputar a vaga, além de ter sido muito próximo do ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e também de Lira.
Ainda de acordo com o analista, outro candidato que poderia "correr por fora" na disputa seria o deputado Antônio Brito (PSD-BA), que, na análise de Mizael, é um "político experimentado e silencioso".
Aliança entre Lula e Lira ainda terá testes
Para Mizael, independentemente de qual parlamentar do Centrão ocupe a vaga de Lira, a situação mostra um desinteresse do PT em formar um líder capaz de dirigir a Câmara dos Deputados.
"Isso é preocupante para o governo, de ter, de alguma forma que se aliar e se curvar, diante de duas outras figuras do Centrão, porque não conseguiu formar dentro dos seus quadros alguém capaz de formar alianças para disputar a sucessão da cadeira de Arthur Lira".
Já sobre os entendimentos firmados entre Lira e Lula para a minirreforma e o sucesso dessa aliança, Mizael avalia que ainda é cedo para dizer se a parceria terá mesmo sucesso.
"Começa agora com essa tentativa, mas é sensível, vai depender ainda de diversos fatores para se firmar e efetivar acordos de médio e longo prazo".