O advogado Cezar Bittencourt, que defende o tenente-coronel Mauro Cid, diz que está completamente insatisfeito com o indiciamento dele nesta terça (19) no inquérito que apura a suposta adulteração com inserção de dados falsos do cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Bittencourt considerou o indiciamento como “ilegal e abusivo”, já que Cid tem colaborado com as investigações no acordo de delação premiada firmado com a Polícia Federal no ano passado e que levou à deflagração da Operação Tempus Veritatis, em fevereiro, que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado.
Apesar de estar colaborando com as investigações, Mauro Cid e a esposa, Gabriela Cid, também foram indiciados junto de Bolsonaro e outras 14 pessoas. Bittencourt afirma que houve uma “quebra do acordo”, que não previa o indiciamento dele, da esposa e do pai, o general Mauro Lourena Cid. Pela manhã, ele já havia dito à Gazeta do Povo que não fazia sentido Cid ser indiciado em meio ao acordo.
“[Estou] absolutamente insatisfeito com o indiciamento ali proposto. É inadequado, é impróprio, não foi o que a gente combinou, não faz parte do nosso acordo. É ilegal, é abusivo. Não concordo com isso”, disse em entrevista à GloboNews.
Cezar Bittencourt afirma que, apesar de insatisfeito, pode ter havido um equívoco e que vai questionar o delegado Fábio Alvarez Shor pelo indiciamento. De acordo com ele, o caso ainda está em fase de investigação e que “ainda dá para fazer correção sem nenhum problema”.
“Nós vivemos numa falsa democracia, numa aparente democracia. Há um desrespeito do Poder Judiciário e às vezes também da Polícia Federal nos direitos do cidadão, do investigado e da sua defesa. Mas, eu não culpo aqui o delegado de polícia, culpo mais o ministro Alexandre de Moraes, ele é o comandante dessa investigação. Tem que respeitar o nosso acordo, isso [indiciamento] tá fora de questão”, disparou.
Adulteração está ligada à suposta tentativa de golpe
O advogado afirmou, ainda, que a adulteração do cartão de vacinação de Bolsonaro está “umbilicalmente ligada” à suposta tentativa de golpe de Estado que a Polícia Federal está investigando. Segundo a autoridade, a inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 no sistema do Ministério da Saúde facilitaria a viagem deles aos Estados Unidos no final de 2022.
“Pelo que a gente conhece dos autos, estão vinculados umbilicalmente, uma coisa ligada à outra segundo a visão da Polícia Federal e, me parece também, do ministro Alexandre de Moraes”, disse.
Ainda de acordo com ele, Mauro Cid cumpria todas as ordens recebidas de Bolsonaro, como a que determinou a ele inserir os dados falsos de vacinação da Covid-19 no sistema do Ministério da Saúde, como apontado pela Polícia Federal.
A autoridade apontou, no relatório que embasou o indiciamento, a ligação entre o esquema e a tentativa de golpe de Estado descoberta na investigação que levou à deflagração da Operação Tempus Veritatis, em fevereiro, contra o ex-presidente, ex-ministros, ex-assessores, militares e aliados. Na semana passada, os depoimentos foram tornados públicos por Moraes.
"A ‘inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde para falsificação de cartões de vacina’, pode ter sido utilizado pelo grupo para permitir que seus integrantes, após a tentativa inicial de Golpe de Estado, pudessem ter à disposição os documentos necessários para cumprir eventuais requisitos legais para entrada e permanência no exterior (cartão de vacina), aguardando a conclusão dos atos relacionais a nova tentativa de Golpe de Estado que eclodiu no dia 8 de janeiro de 2023", escreveu o delegado da PF no relatório.
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