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O avião presidencial conhecido como "Aerolula" está parado em um terminal aeroportuário privado do México desde que apresentou uma pane em 1º de outubro e teve que fazer um pouso não programado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a bordo. A Força Aérea não revela qual é o problema da aeronave.
Enquanto a questão não for resolvida, se Lula quiser fazer uma viagem internacional, ele vai ter que usar um avião com configuração "comum", sem suíte presidencial e salas para despachos e de TV.
O avião presidencial, um Airbus A319, está parado desde o dia 1º de outubro em um terminal privado do Aeroporto Internacional Felipe Ángeles, na Cidade do México, segundo testemunhas afirmaram à reportagem na terça-feira (22).
A aeronave havia decolado com Lula e sua comitiva em direção ao Brasil após a cerimônia de posse da presidente Cláudia Sheinbaum, mas sofreu uma pane e teve que ficar voando em círculos por quatro horas para gastar combustível e pousar no mesmo aeroporto.
Lula seguiu viagem em outro avião e chegou ao Brasil reclamando da aeronave, comprada ainda em 2003, durante o primeiro mandato do petista, e falando em adquirir mais aviões.
Investigações sobre o problema com o "Aerolula"
Segundo informações preliminares, o problema do "Aerolula" teria sido uma falha em um dos motores do avião e que pode ter sido provocado pela colisão com um pássaro. Nos dias seguintes ao incidente, ao menos dois militares do Centro de Investigações e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) foram enviados ao México para fazer as primeiras inspeções.
Ainda não há prazo para um relatório preliminar sobre o caso. Além dos investigadores do Cenipa, dois mecânicos que estavam no avião também estão trabalhando para identificar a falha, conforme apurou a Gazeta do Povo junto ao Palácio do Planalto.
"Uma equipe de investigadores do Cenipa esteve no México para extração e análise dos dados do voo em questão. A conclusão do relatório depende da complexidade de cada ocorrência e, ainda, da necessidade de descobrir os possíveis fatores contribuintes", informou a FAB em nota.
A Gazeta do Povo questionou ainda quais seriam os custos dessas investigações e qual o valor pago pelo estacionamento da aeronave presidencial durante esse período no terminal mexicano. A Aeronáutica, no entanto, não retornou os questionamentos.
Segundo Daniel Calazans, perito aeronáutico e forense, a aeronave não deve ter sido trazida ao Brasil ainda devido ao tamanho dos danos provocados no motor.
"Isso depende de vários fatores, principalmente depende da avaria, ou seja, a gravidade da avaria. Já vi casos em que o piloto reportou problema técnico, o avião passou por uma inspeção e logo em seguida ele voltou a voar. Em outros casos é preciso fazer uma inspeção detalhada", explicou.
Questionado sobre os custos para se refazer o motor do avião presidencial, o especialista afirma que isso é uma informação de segurança nacional e que, por isso, é não é possível mensurar. "Se for algo profundo e grave, aí vai ser preciso que uma equipe especializada faça a troca das peças. Então, não dá para a gente precisar. Vai depender da avaliação e da quão profundo foi avaria", afirmou Calazans.
"Eu já vi casos de manutenção que faltava peça. A peça às vezes vem de outro país, da fabricante do motor ou da fabricante da aeronave. Talvez não seja uma avaria grave, mas a reposição da peça não foi imediata. Então, esse é um ponto que também é preciso considerar", completou o perito.
Lula pode usar avião da FAB sem regalias até retorno do "Aerolula "
Até que as investigações do "Aerolula" sejam concluídas e ele retorne ao Brasil ou que o governo brasileiro realize a compra de uma nova aeronave, o presidente Lula terá que usar um outro modelo usado pela Força Aérea. Os aviões KC-30 (Airbus A330-200) têm capacidade para 238 passageiros e 45 toneladas de carga. Eles são do mesmo tipo que as companhias aéreas usam para transportar seus passageiros.
A aeronave KC-30 é maior do que o VC-1 (aeronave presidencial), contudo, é menos confortável. O "Aerolula" conta com uma suíte presidencial perto de um gabinete de despachos (localizado nas proximidades das asas). Também há uma mesa para refeições e duas poltronas de couro reclináveis, além de uma TV. A capacidade é de até 45 passageiros.
O KC-30 (Airbus A330-200) tem as configurações padrão de um avião de linha aérea comum, que possui classes executiva, econômica e primeira classe. Esse modelo é o mesmo que vem sendo utilizado pela FAB nas operações de repatriação de brasileiros do Líbano.
Esse seria o modelo usado para levar Lula até a Rússia nesta semana, mas a viagem foi cancelada após o petista sofrer um acidente doméstico no Palácio da Alvorada no último final de semana.
Agora, o petista deve embarcar para a Colômbia na próxima terça-feira (29). Já em novembro, o presidente seguirá para o Azerbaijão, onde vai participar da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.
Governo estuda comprar novos aviões presidenciais
Logos após o incidente, o Palácio do Planalto retomou os planos apresentados por Lula para a compra de um novo avião presidencial. No último dia 11, por exemplo, o petista revelou que o governo comprará “alguns aviões” oficiais para ele e ministros do governo se locomoverem.
“Desse problema tiramos uma lição. Vamos comprar não apenas um avião, mas alguns aviões. É um risco que a gente não pode passar. Precisamos nos preparar e não ser pegos de surpresa. Pedi para o ministro da Defesa me fazer uma proposta”, disse Lula à rádio O Povo, do Ceará.
A hipótese de troca do avião que transporta Lula já vinha sendo ventilada pelo governo há pelo menos um ano. Ainda em 2023, o petista havia encomendado que FAB fizesse um estudo para a viabilizar a compra ou a adaptação de uma outra aeronave.
Apesar dos anseios de Lula, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro Filho, disse nesta segunda-feira (21) que o processo de aquisição pelo governo brasileiro deve demorar pelo menos um ano e meio.
"Você comprar o novo demora mais para você fazer uma adaptação no ambiente comum, mas eu espero que dentro de um ano, um ano e meio, a gente tenha isso", disse o ministro.
Segundo o chefe da pasta, a compra de novas aeronaves é necessária porque "há deficiência na frota do governo federal" e os modelos atuais, que incluem não apenas o avião presidencial, mas também aeronaves menores que chegam antes ao destino com assessores, têm passado por “manutenções frequentes”.
"Não são aeronaves simples, comuns, que você pode comprar de uma empresa aérea, mas nós já estamos recebendo orçamentos para poder fazer o julgamento. Tem que ser um avião grande para fazer voo longo, como esse que ia para a Rússia e a China, sem fazer escala", completou Múcio.
O ministro da Defesa não especificou qual o modelo buscado para atender ao presidente da República, que pode ser um A320. No ano passado, a FAB chegou cotar a compra de um Airbus A330-200, que estava registrado em nome de uma empresa com sede na Suíça, e que teria o custo de R$ 400 milhões.
Para que seja efetivada, a aquisição precisa ser autorizada pelo Congresso Nacional. Ainda no ano passado, um grupo de deputados da oposição chegou a apresentar uma ação na Justiça para barrar a compra do novo “Aerolula”, alegando que isso representaria um “gravíssimo dano ao erário público, desvio de finalidade e afronta ao princípio da moralidade”. A repercussão negativa da notícia, à época, fez Lula desistir da compra.