Agilidade dos governos em tomar decisões é essencial para combate ao coronavírus.| Foto: Geraldo Bubniak/AEN
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A agilidade nas primeiras decisões no combate ao novo coronavírus foi determinante para o sucesso de países que estão vencendo a doença. Essa foi a constatação de um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que comparou a velocidade com que algumas nações reconheceram a gravidade da disseminação da Covid-19 e analisou o impacto de ações rápidas de enfrentamento.

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As localidades que trabalharam para conter o avanço do vírus registraram menos casos e mortes da doença. Também puderam planejar seus protocolos para reabertura de serviços e retomada das atividades de forma mais ordenada.

No dia 11 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o avanço do novo coronavírus (Sars-COV-2) como pandemia. A nota técnica: “A saúde pública e o enfrentamento da crise causada pelo coronavírus”, produzida por Edvaldo Batista de Sá, do Ipea analisou as datas em que algumas nações afetadas pelo vírus reagiram a partir do primeiro caso registrado, seguido da determinação de autoridades para que a população ficasse em casa, até o fechamento de escolas e serviços não essenciais e por fim, restrições severas a viagens aéreas.

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Ações rápidas e mensagens claras à população 

Foi a rapidez do governo de Portugal, por exemplo, que fez com que o avanço do vírus fosse tão diferente do que ocorre na vizinha Espanha. Entre o registro do primeiro caso e o pedido das autoridades portuguesas para que as pessoas ficassem em casa passaram-se 17 dias.

O governo espanhol, por sua vez, levou 40 dias para implementar o isolamento social. A diferença de casos é devastadora. Segundo dados coletados pela Universidade Johns Hopkins, até as 14h20 deste domingo (21) a Espanha tinha 235.290  casos confirmados e 28.752 mortos pela Covid-19.

Portugal impôs medidas para forçar a população como um todo a ficar em casa, fechou escolas e serviços não essenciais, e determinou restrições severas a viagens aéreas. Com isso, registrou 30.623 infectados e 1.316 vítimas fatais, até este domingo.

Países mais afetados demoraram a agir

Dentre os avaliados, os Estados Unidos foram o país mais lento a reagir à pandemia. Enquanto o presidente, Donald Trump, negava a gravidade da doença, coube aos governadores determinarem regras de contenção. Até agora foram registrados mais de 1,6 milhão de infectados e 97.211 óbitos no país, segundo o Johns Hopkins. O Brasil é o segundo país com mais infectados, com 347,4 mil, seguido da Rússia, com 344,5 mil.

De acordo com a projeção realizada pelo Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), se o Brasil não mudar as ações para conter o avanço do coronavírus e o volume de óbitos seguir aumentando no mesmo ritmo, estima-se que até 88.305 pessoas podem morrer até 4 de agosto.

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“A falsa dicotomia entre saúde pública e economia parece estar por trás do baixo desempenho dos países mais afetados pela pandemia. Países onde os dirigentes políticos minimizaram as consequências do Sars-COV-2 para a saúde pública e deram prioridade às questões econômicas podem perder, se é que já não perderam, o controle da disseminação do vírus e estão com sistemas de saúde sob intensa pressão, sem que suas economias apresentem sinais de estarem protegidas”, diz o estudo.

Testagem em massa e distanciamento social são estratégias de sucesso contra coronavírus

A China foi o país que adotou as medidas mais duras de controle do vírus. “Apenas três dias após a identificação dos primeiros casos de transmissão entre humanos, o governo da China impôs o bloqueio total e implementou medidas de distanciamento social em Wuhan, o epicentro da pandemia”, aponta o Ipea. Além do distanciamento social em todo o país, o governo contou com o apoio de aplicativos para celular usados para impor as restrições.

A estratégia usada pela Coreia do Sul foi a testagem em massa da população. Os kits foram desenvolvidos no país e até mesmo indivíduos assintomáticos foram testados. Também foi imposto o distanciamento social ampliado. O celular se tornou uma forma de informar a população, com um aplicativo que localiza casos confirmados a uma distância de 100 metros de onde estão.

Tanto a China, quanto a Coreia do Sul ensaiam uma reabertura, mas ainda existe o medo de uma segunda onda de contaminação. Na Coreia, por exemplo, com a abertura gradual 13 novos casos foram confirmados pelo Centro de Controle de Doenças (KCDC, na sigla em inglês), nesta terça. Com a flexibilização, pelo menos 101 novos casos de coronavírus foram descobertos na semana do dia 11 de maio e estão ligados a clubes noturnos no distrito de Itaewon, em Seul. O que levantou medo sobre uma possível segunda onda de infecções.

Disputa política atrapalha desempenho do Brasil

O primeiro caso confirmado como infecção pelo novo coronavírus no Brasil foi registrado no dia 26 de fevereiro. Desde então, a cúpula do governo federal, o Ministério da Saúde e os estados travam uma espécie de guerra fria sobre como enfrentar o problema.

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O presidente Jair Bolsonaro defende a abertura do comércio e o isolamento vertical, ou seja, apenas de idosos e de pessoas do grupo de risco. O ministério é favorável ao distanciamento social, mas não passa diretrizes claras de como estados e municípios podem optar por modelos mais ou menos restritivos.

A atuação da pasta, que tem um papel fundamental para a gestão do SUS, é prejudicada pelo componente político. Desde a detecção do primeiro caso até o momento, dois ministros da saúde foram demitidos por não concordarem com a abordagem do Planalto sobre a crise. Luiz Henrique Mandetta estava no cargo desde o começo do governo Bolsonaro e caiu, entre outros fatores, por defender o isolamento social.

Nelson Teich, o sucessor, durou exatos 28 dias na chefia da pasta, deixou a promessa de um plano para definir níveis de isolamento social e saiu por se recusar a aceitar a utilização da cloroquina desde o início dos sintomas. Mandetta e Teich são médicos.

Até o momento, não existe embasamento científico suficiente para garantir que o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina em pacientes no início dos sintomas não cause outros problemas e alguns estudos questionam até mesmo a utilização do medicamento em pacientes graves. Ainda assim, o Ministério da Saúde, sob a batuta do interino general Eduardo Pazuello, publicou um novo protocolo para o uso da substância.

Sem uma diretriz unificada, o processo de tomada de decisão no Brasil está totalmente descentralizado. E há amparo legal para isso.

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Uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), do dia 15 de abril, determinou que governadores e prefeitos têm a prerrogativa sobre decisões relacionadas a pandemia. No entanto, com as diferentes versões sobre como proceder durante a pandemia vindas da instância federal, a população recebe mensagens conflitantes e tem mais dificuldade em seguir o que governadores e prefeitos determinam.

Desafios do Brasil no combate ao coronavírus

O levantamento do Ipea deixa claro que não existe uma única fórmula a ser seguida para o controle de pandemias, devido aos diferentes fatores de transmissão. A epidemiologia permite, no entanto, identificar três estratégias básicas de controle, segundo o estudo. Essas ações podem ser adotadas isoladamente ou em conjunto, dependendo da incidência de casos por região. A contenção, mitigação e supressão são os primeiros passos no combate.

A quarentena em São Paulo, o epicentro da doença no Brasil, começou no dia 24 de março, em todo o estado. O governador, João Doria (PSDB), prorrogou o isolamento até o dia 31 de maio. Mas os índices de isolamento na capital nos últimos dias estiveram abaixo de 50%. Para frear a velocidade de infecção e desafogar o sistema de saúde o ideal seria um índice de isolamento de 70%. Numa tentativa de evitar a determinação de medidas mais restritivas ainda, tanto o estado quanto a capital estão adiantando feriados para tentar forçar as pessoas a ficarem mais em casa.

Algumas cidades brasileiras já enfrentam o lockdown, o confinamento mais rígido da população. É o caso de municípios no Rio de Janeiro, Tocantins, Pará, Maranhão, Roraima e Paraná. O estado do Amapá inteiro estará em lockdown entre os dias 19 e 28 de maio.

Além disso, o levantamento reforça que é preciso olhar os sistemas públicos de saúde que mesmo antes da pandemia já estavam fragilizados. O Ministério da Saúde vem tentando ampliar a testagem e a distribuição de equipamentos, como respiradores, essenciais em casos mais graves da doença. Até o início da semana passada apenas 823 de 14.100 respiradores comprados pelo ministério foram entregues.

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Também não há uma linha definida sobre a adoção do isolamento social, que vem sendo decidido por governadores e prefeitos. O ex-ministro da Saúde Nelson Teich afirmou no Twitter que deixou pronta uma diretriz sobre o tema, que só não foi publicada porque secretários de saúde estaduais e municipais não concordaram com as determinações.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]