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Além do aumento de 50% no número de mortes de yanomamis, o território yanomami também registrou crescimento no garimpo ilegal no ano de 2023. Relatório do Instituto Socioambiental (ISA) e da Hutukara Associação Yanomami, divulgado nesta sexta-feira (26), apontou que o garimpo cresceu 7% no ano passado em comparação com o ano de 2022. "A atividade ilegal continua operando com intensidade no território", destaca o relatório.
De acordo com o documento, as áreas atingidas pelo garimpo ilegal no território chegaram a 5.432 hectares em 2023. O relatório aponta que no segundo semestre houve um "relaxamento das ações de repressão, especialmente depois que as forças armadas assumiram um maior protagonismo nas operações" e sinaliza "a reativação e a intensificação da exploração em diversas zonas".
"Além da destruição da mata e dos rios, impactando diretamente a economia das famílias, que dependem de peixes, caça e de terra saudável para plantar, o garimpo também afeta diretamente a saúde das pessoas através da disseminação de doenças infectocontagiosas, do aumento da violência e da contaminação por mercúrio", diz o relatório.
Diante do aumento do garimpo ilegal, o relatório cita que "o governo ainda não apresentou um novo plano para a extrusão dos garimpeiros da TIY". "O plano inicialmente apresentado pelo governo atual levaria apenas 9 meses para retirada total (Fase 01 – 90 dias; Fase 2 – 180 dias), e, infelizmente, não logrou sucesso", explica.
No relatório, as instituições também citam que o garimpo legal "desestabiliza" o serviço de saúde e gera "insegurança e conflito" nas zonas. "Os profissionais de saúde têm evitado realizar visitas em muitas aldeias, com sérias implicações para a realização de ações fundamentais de atenção básica, como vacinação, busca ativa de malária, pré-natal, etc", explicam.
Ao final do relatório, as entidades apontam algumas recomendações para as próximas etapas de enfrentamento da emergência sanitária. "Os dados demonstram que embora o atual governo tenha se mobilizado para combater o garimpo ilegal na TIY em 2023, os esforços foram insuficientes para neutralizar a atividade na sua totalidade", conclui o relatório.
Entre as recomendações, apresentam a "retomada urgente de operações de desintrusão de garimpeiros no Território", o "desenvolvimento de um plano para estimular o desarmamento voluntário nas regiões sensíveis", a "promoção de ajustes na resposta à crise sanitária", entre outras.
Ações sem sucesso do governo
Desde janeiro do ano passado, o governo federal executa uma força-tarefa com o objetivo de reduzir a situação de longa data de desassistência sanitária na região habitada pela etnia, que abrange parte dos estados de Roraima e Amazonas. Para especialistas, há problemas crônicos da região que perduram há anos e não possuem resolução simples.
Mesmo assim, no início do mandato, Lula (PT) relacionou a alta mortalidade e os índices de desnutrição e doenças dos yanomamis a uma tentativa de “genocídio” por parte do governo anterior, de Bolsonaro, e prometeu rápida resolução da crise.
No entanto, como mostrado pela Gazeta do Povo, um relatório da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde publicado no começo do ano apontou que as mortes de yanomamis em 2023 cresceram quase 50% em relação ao ano anterior. Foram 308 vítimas contra 209 em 2022.
Em uma reunião com a equipe do governo, no último dia 9, o presidente Lula decidiu fazer uma "reavaliação estratégica" das ações contra o garimpo ilegal. Ele afirmou que o combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, deve ser tratado como “questão de estado” e comparou o combate a eles como uma “guerra”.
Inicialmente, o governo de Lula planejou concluir a desintrusão em 180 dias, agora busca apresentar uma nova estratégia após não atingir o objetivo previsto. O presidente reforçou o compromisso de tratar a questão como prioridade e assegurou que o estado brasileiro não aceitará derrotas na luta contra o garimpo ilegal na terra yanomami.
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