O presidente nacional do Progressistas, senador Ciro Nogueira, do Piauí, tem adotado um tom moderado no que se refere ao relacionamento do Congresso Nacional com o Supremo Tribunal Federal (STF), dominado pela tensão e mútuas acusações, e afirmou que é preciso resolver essa situação e "virar a página".
Foi Ciro Nogueira quem comandou a transição do governo de Jair Bolsonaro (PL) para o de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após o resultado das urnas em 2022. O então ministro da Casa Civil foi escolhido pelo próprio ex-presidente para articular a troca de gestão junto à equipe do presidente eleito em 2022, atuando ao lado do vice Geraldo Alckmin (PSB), responsável por tomar pé da situação do governo à época.
Ciro Nogueira assumiu o comando da transição após Bolsonaro evitar falar sobre a derrota nas urnas, mas não comentou, na época, sobre o estado emocional do então presidente, que se recolheu no Planalto. O senador eleito pelo Piauí foi fundamental para estreitar as relações de Bolsonaro com o grupo do chamado Centrão, parte da base aliada no Congresso Nacional.
Ciro Nogueira recebeu a Gazeta do Povo em seu gabinete para uma conversa e foi questionado sobre as constantes alfinetadas entre os parlamentares e ministros dos STF. Ele defendeu que é hora de parar com as discussões e tentar mudar o rumo das coisas. "Não é bom para ninguém, nem para a direita, nem para a esquerda", disse o senador sobre o tema.
"Eu vou trabalhar sempre pela pacificação, tenho um respeito enorme pelos ministros do Supremo", garantiu o senador, que, ao mesmo tempo, admitiu que há um certo "excesso de protagonismo" por parte dos integrantes do STF. "Ministro falando fora dos autos, ministro falando em palanque, eu acho que são erros, mas são todos humanos", acrescentou.
O nome do senador Ciro Nogueira, ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro, teve grande destaque nos últimos dias na mídia nacional justamente por um assunto ligado a este tema. Nogueira foi citado pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, em áudios vazados sobre depoimento prestado à Polícia Federal. Na ocasião, o tenente-coronel falou sobre um encontro que teria sido promovido pelo presidente do Progressistas, em seu apartamento em Brasília, entre Bolsonaro e o ministro Alexandre de Moraes.
O senador, no entanto, disse que "é zero a chance de falar sobre este assunto", evitando comentar. Ciro Nogueira disse que tem sido procurado por diversos veículos para confirmar a "tal" reunião, e que prefere não tratar do tema.
Ainda sobre as denúncias que pesam contra Bolsonaro em relação a uma suposta tentativa de golpe de Estado, Ciro Nogueira negou ter visto ou sabido de qualquer documento, a chamada "minuta do golpe", que teria sido apresentada por Bolsonaro para tentar impedir a posse de Lula. "Qualquer situação como essa eu rechaçaria", afirmou o senador.
Bolsonaro continua sendo uma grande liderança, afirma Ciro Nogueira
Mesmo com as denúncias que pesam contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, desde a adulteração de cartão de vacinas até a suposta tentativa de golpe, investigadas em inquéritos no Supremo Tribunal Federal, o senador Ciro Nogueira acredita que é inegável a liderança do ex-presidente na política nacional.
"Com todas as denúncias, com tudo que está acontecendo, foi a primeira vez que Bolsonaro já saiu na pesquisa à frente do Lula", disse Nogueira.
O senador se referia ao levantamento divulgado pelo Instituto Paraná Pesquisas, no qual Bolsonaro tem 41,7% de intenções de voto contra 41,6% de Lula, no cenário com apenas os dois concorrendo e em que os nomes são apresentados aos respondentes (estimulada). Bolsonaro e Lula estão tecnicamente empatados dentro na margem de erro da sondagem, que é de 2,2 pontos percentuais, em média, com índice de confiança de 95%. O Paraná Pesquisas ouviu presencialmente 2.024 eleitores de 162 municípios de 26 estados e do Distrito Federal entre os dias 18 e 22 de março.
"Qualquer um que tiver o apoio de Bolsonaro sai na frente", afirmou o senador, sobre o papel do ex-presidente na política, e a pré-candidatos que possam ter o apoio do ex-mandatário, como os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas; de Goiás, Ronaldo Caiado; de Minas Gerais, Romeu Zema; e do Paraná, Carlos Massa Ratinho Júnior, citados como possíveis sucessores de Bolsonaro nas eleições de 2026.
Independente de quem for, segundo o presidente do Progressistas, o candidato que tiver o "sim" de Jair Bolsonaro sai na frente na disputa. E a influência se estende a Michelle Bolsonaro, diz ele. Michelle, presidente do PL Mulher, tem ganhado cada vez mais espaço na política nacional, e poderá sair candidata ao Senado pelo Distrito Federal.
De acordo com o levantamento já citado do Paraná Pesquisas, com o apoio de Bolsonaro, se saísse candidata à Presidência da República, hoje, Michele também estaria tecnicamente empatada com Lula.
"Para além dos ataques e das manchetes escandalosas, existe a verdade. E a verdade é que o brasileiro sempre ficará do lado certo da história. Michelle Bolsonaro empatada tecnicamente com Lula, e a margem de crescimento é grande", publicou o senador nas redes sociais ao comentar o resultado da sondagem.
Apesar dos números, o destino político da ex-primeira dama, antes de tentar o Palácio do Planalto, deve mesmo ser uma cadeira no Senado Federal. Segundo o Instituto Paraná Pesquisas, numa disputa para chegar ao Palácio do Planalto com o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Michelle Bolsonaro teria 43,4% das intenções de voto; contra 44,5% de Lula. Pela pesquisa, os dois então tecnicamente empatados dentro na margem de erro, que é de 2,2 pontos percentuais.
Nogueira avalia que Pacheco não dará andamento a tentativas de limitar os poderes do STF
Ainda sobre as eleições, o senador disse que é importante avançar na discussão do Código Eleitoral, em discussão na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que consolida a legislação atual e estabelece, por exemplo, uma quarentena de quatro anos para integrantes de algumas carreiras, como militares, policiais e juízes, que desejem entrar para a política. Sobre esse período, especificamente, o senador acredita que a regra pode ser exagerada, e o prazo poderia ser rediscutido.
Para Nogueira, também é preciso rediscutir a questão da possibilidade de reeleição, assim como a coincidência de mandatos, que não é boa para a política.
Sobre pautas cobiçadas pelos partidos de centro e direita, como limitar poderes dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), fim do foro privilegiado e até um pedido de impeachment do presidente Lula, Ciro Nogueira disse que "nesse atual momento é impossível". Para o senador, não há interesse do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Segundo ele, pode ser que esses temas possam avançar na próxima legislatura.
Outro tema que o senador, líder da minoria no Senado Federal, acredita que deva ficar para a próxima legislatura, por não ter acordo entre os congressistas no momento, é uma possível anistia aos presos acusados de participação no 8 de janeiro de 2023. Ciro Nogueira considerada que as penas foram muito "duras" em alguns casos.
Partidos de centro e direita sairão fortalecidos das eleições, afirma Ciro Nogueira
Presidente do Progressistas, Ciro Nogueira afirmou que o partido tem crescido desde as últimas eleições municipais, principalmente no Norte e Centro-Oeste, e deve repetir o desempenho nas eleições de outubro de 2024. Segundo ele, a expectativa é de que legendas de centro e direita despontem mais uma vez no cenário nacional, com destaque para MDB, PSD, e PL, além do PP.
Ele opinou ainda que a esquerda, especificamente o Partido dos Trabalhadores (PT), deverá amargar uma grande derrota nos municípios. "Eles [o PT] não vão fazer um prefeito de capital no Brasil. O único lugar que era favorito e já não é mais é São Paulo", pontuou. Sem uma candidatura própria na capital paulista, o PT apoia Guilherme Boulos, do Psol.
Sobre a possível aliança entre partidos de centro, numa parceria entre PP, União Brasil e quem sabe Republicanos, uma aliança que tornaria o Centrão ainda mais forte no Congresso, Ciro Nogueira disse que ainda não há nada acertado, apesar do assunto estar em discussão. Mas se o acordo vingar, segundo o senador, será somente para 2026.
Sobre o cenário político nacional e o que está em jogo para 2026, Ciro Nogueira é enfático ao afirmar que a polarização de hoje entre direita e esquerda vai continuar. "Enquanto Bolsonaro e Lula estiveram aí, continua". Isto porque, na avaliação do senador, a força eleitoral de ambos é impressionante. Para Nogueira, enquanto eles estiverem na política, não há espaço para outros, nem de uma eventual terceira via.
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